Nas últimas décadas, os cursos de Medicina se espalharam pelo Brasil em ritmo acelerado, especialmente no setor privado. Com mensalidades que ultrapassam os R$ 10 mil, essas formações exigem um investimento altíssimo das famílias brasileiras.
No entanto, a explosão na quantidade de faculdades nem sempre veio acompanhada da qualidade necessária para preparar bons profissionais.
A situação levanta uma discussão que já circula entre especialistas, reguladores e até investidores: será que o Brasil está caminhando para a criação de uma “OAB dos médicos”, uma prova obrigatória que avalie os recém-formados antes de autorizá-los a atuar, como já acontece no Direito?
Estudantes de medicina podem passar por uma ‘OAB dos médicos’
A comparação com o curso de Direito não é à toa. Assim como aconteceu com a carreira jurídica nas últimas décadas, a Medicina tem se tornado um mercado atraente para instituições de ensino privadas.
Desde 1990, o número de faculdades de Medicina no país aumentou de forma expressiva, chegando hoje a 390 cursos ativos. Cerca de 80% dessas instituições são privadas, responsáveis por mais de 175 mil alunos.
Esse crescimento foi impulsionado por programas como o Mais Médicos, lançado em 2013, que incentivou a abertura de novas vagas para suprir o déficit de profissionais em áreas desassistidas.
Apesar da intenção inicial de democratizar o acesso, a rápida proliferação dos cursos gerou um efeito colateral: dúvidas crescentes sobre a qualidade da formação oferecida.
Com o mercado estimado em R$ 26 bilhões ao ano, grandes grupos educacionais investiram pesado no setor, adquirindo instituições menores e expandindo sua atuação. Mas a velocidade da expansão e a dificuldade de fiscalização deram espaço para irregularidades.
Muitos cursos foram criados sem autorização formal do Ministério da Educação e operam com base em liminares judiciais. Em 2024, mais de 6 mil novas vagas surgiram, mais da metade com respaldo judicial e não técnico.
Exame nacional para profissionais de Medicina é alternativa
Frente a esse cenário, cresce a pressão por mecanismos mais rigorosos de avaliação. Hoje, os estudantes de Medicina fazem o Enade no fim do curso, mas não há uma prova final que condicione o exercício da profissão.
A possibilidade de uma espécie de exame nacional, inspirado na OAB, ganha força entre especialistas que defendem mais controle de qualidade.
A proposta divide opiniões: para alguns, é uma forma justa de garantir competência; para outros, uma barreira que pode penalizar quem já enfrentou anos de estudo e dívidas pesadas. O debate, no entanto, está posto – e promete esquentar nos próximos anos.