A cidade tem pressa. Só dá uma pausa, muito a contragosto, quando a cancela fecha o trânsito para a passagem de algumas unidades ferroviárias da MRS Logística. A cidade está cada vez mais vertical e acelerada. Casas e mais casas vão ao chão, dando lugar a prédios e mais prédios, comerciais e/ou residenciais.
Quem tem pressa raramente olha para quem anda devagar. A exclusão das pessoas idosas no espaço urbano é visível: calçadas estreitas, esburacadas, mal conservadas, disputando espaços com a venda de produtos do comércio informal; falta de rampas de acesso; transporte público que deixa a desejar; poucos espaços de descanso e de convivência.
Essa realidade da cidade revela um modelo urbano que prioriza a juventude, a correria e o consumo. Ignorando o envelhecimento como parte natural da vida. Mais do que a infraestrutura. O que vivemos é a lógica das cidades, de um modo geral, que não acolhem as pessoas idosas. O circuito urbano está direcionado para a produtividade, para aquelas pessoas que estão no auge de sua força física e que também tem capacidade de consumo. Comprar.
O idoso, então, nesse contexto, é tido como um corpo fora do padrão, aquele que atrapalha o fluxo frenético da cidade. Enquanto se investe em viadutos, em concretos gigantes, falta o básico: espaços de convivência e de pertencimento, lugar pra “jogar conversa fora”. A política urbana precisa reconhecer a cidade como um território de todos os tempos da nossa vida. O idoso, muitas das vezes, sente-se como se fosse um estrangeiro na sua própria cidade. Porque ele está presente, paga seus impostos, mas não é visto como cidadão. Mora na cidade, mas, a sente como se não fosse dele.
Esquecer a velhice é esquecer o próprio futuro. O apagamento intencional das pessoas idosas, no tempo de hoje, onde a longevidade é uma conquista, não faz sentido algum, a sociedade deixar a velhice para trás. Todos e todas, nós, a não ser que partamos antes, cedo ou mais tarde, seremos esses corpos desacelerados que hoje, desviam-se das outras pessoas. Políticas públicas voltadas ao envelhecimento na cidade são urgentes. É preciso ouvir quem envelhece.
Valorizar a presença das pessoas idosas nos espaços públicos. Tratar bem os idosos nas cidades não é apenas uma questão de respeito. É uma escolha pela evolução da nossa civilização. É uma questão de emancipação humana. É dizer com ações práticas, que o tempo vivido importa. Que todas as pessoas tem o direito de pertencer à cidade – usufruir dela – independentemente da idade.
A exclusão das pessoas idosas do contexto da cidade é um sintoma de algo mais profundo: nossa dificuldade de lidar com o envelhecimento – dos outros e o nosso. Rever essa postura é urgente. Porque quem hoje ignora, amanhã será ignorado.