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Escolas Cervejeiras | Escola Belga (parte 2)

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Fala, canequeiros!

Estou eu aqui de novo para falar sobre escolas cervejeiras. No último post eu vesti a camisa de professor de História e contei pra vocês a trajetória entre os séculos que a escola cervejeira belga percorreu até os dias de hoje. Agora é hora de falar dos aspectos físicos e químicos destas cervejas. Aí sim nosso papo vai ficar completo. Prontos para mais uma aula? Vamos lá!

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Primeiro, vamos a um apanhado geral. Na primeira aula sobre cervejas belgas, eu falei pra vocês sobre o destaque dessa escola no uso de leveduras. Isso acontece porque os belgas dominam a produção e o cultivo desses fungos, e essa habilidade dá um toque especial e único às cervejas no processo de fermentação. É tanta maestria no cultivo de leveduras que os cervejeiros belgas conseguem até mesmo um tipo de fermentação em que o controle da produção de leveduras é feito no ar do ambiente de produção. Você vai saber mais sobre essa peculiaridade em breve, quando falarmos das cervejas Lambic.

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Outro aspecto que valoriza o sabor das cervejas é o uso de qualquer ingrediente que pudesse agregar sabor. Cereais, frutas, mel, outros temperos além do lúpulo, cascas de laranja, sementes de coentro, açúcar, caramelo… tudo é digno de ser experimentado na escola belga. E mais um ponto importante é o local onde algumas cervejas eram produzidas. Quem anotou vai lembrar: na última aula, eu disse que algumas cervejas eram fabricadas em abadias, que eram centros culturais e de conhecimento da época. Bom, essa característica também foi decisiva para a escola belga.

Sem mais delongas, vamos então conhecer alguns tipos e estilos de cerveja belga:

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Witbier

É uma cerveja clara e um dos estilos belga mais consumido por conta do caráter leve e adocicado. Podemos dizer que é uma prima da alemã Weiss, já que composição original leva 50% de malte de trigo. A receita clássica também leva casca de laranja e semente de coentro, sendo assim, mais refrescante.

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A cerveja dos monastérios

Como eu já disse, a abadia é mais que um local de produção, é um estilo de cerveja. Aquelas que, de fato, são feitas em abadias e com um determinado tipo de leveduras, chamam-se “cervejas trapistas”. As que são feitas com receita semelhante, mas com outras leveduras e em outros locais, nós chamamos de “cerveja de abadia”.

E quais são essas cervejas de abadia? Vou destacar duas queridinhas: Dubbel e Trippel.

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Dubbel

As cervejas Dubbel possuem coloração marrom avermelhado e espuma cremosa. O aroma e o sabor são de frutas secas, obtidos durante o processo de fermentação. Tem pouco amargor e há forte presença de malte. Numa Dubbel, podemos ter aromas como o de nozes, obtidos pelo envelhecimento da cerveja em barril de madeira.

Trippel

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As cervejas Trippel tem coloração dourada, aroma floral, herbal e de frutas amarelas. São cervejas bem esterificadas*. O sabor é cítrico, com notas de cravo, especiarias. São leves, equilibram o alto teor alcoólico que possuem.

Saison

Quando foi criada, a fabricação acontecia de acordo com a estação: produção no inverno e consumo no verão. Sem tecnologia, só o frio do inverno poderia conservar a cerveja. Hoje, se faz Saison o ano inteiro.

Cerveja com coloração dourado âmbar, com muita espuma e aromas complexos de notas cítricas, condimentadas e terrosas. Sabor doce e alto teor alcoólico. Por isso, cuidado: se empolgar na Saison a ressaca vai bater.

Lambics

Aqui estamos com as cervejas de fermentação espontânea. Ao contrário das Ales e Largers, as Lambics são fermentadas com o as leveduras controladas por meio do ar do ambiente.

Na família de cervejas Lambic há vários estilos. Alguns deles: Lambics jovens e velhas, com maturação que varia de 1 a 2 e 3 anos, as Fruits Lambic, que são as cervejas frutadas e a Faro, de baixo teor alcóolico e com adição de açúcar.

É cerveja que não acaba mais! Não é à toa que é da Bélgica o Dellirium Café,  bar que possui a maior carta de chopes do mundo. E de lá eu tenho é história… Estávamos na Bélgica eu e mais dois amigos e parceiros da Cervejaria São Bartolomeu quando ainda nem sonhávamos em montar um bar. Fomos ao Dellirium Café, que só no teto tinham umas 90 torneiras. Depois de muitos e muitos chopes, me perdi dentro das várias portas e banheiros e torneiras e pessoas. Com aquele tanto de cerveja na cabeça, tive a brilhante ideia de pedir um chope com absinto. 14% de álcool. Tomei e vi o elefante rosa do letreiro luminoso da Dellirium dançando. Até hoje não sei se ele realmente se move ou se o movimento estava na minha cabeça, e isso me fez entender porque o nome do bar é ‘delírio’. Não parei por aí e pedi mais um chope, o Fatidigo. Foi nessa hora que meus amigos vieram me resgatar, e incrivelmente eles precisavam de mais ajuda do que eu. De repente não estávamos mais perdidos somente no bar, mas na cidade de Bruxelas. Daí em diante muitas situações, digamos, inusitadas: umas vodcas com os russos, um hambúrguer MC Donald com um grito de “Hasta la vitoria siempre” e um sono que durou entre 15 minutos e 3 horas. Depois disso tudo, ainda conseguimos chegar em casa. Como? Só os mistérios da cerveja belga explicam.

Pois bem, paramos na Bélgica, mas não paramos o nosso tour pelas escolas cervejeiras. Então se liga no próximo post da série, que vai ser sobre as cervejas de terras estadunidenses.

E lembre-se: Se beber não dirija e não se perca e um bar na Bélgica.

*esterificação: processo de formação de éster que confere diversos sabores e aromas às cervejas de acordo com o tempo de armazenamento, temperatura e ingredientes utilizados.

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