O preço de uma escolha
Sou de uma geração que se criou acreditando que na vida é fundamental fazer o que se ama. Nesta lógica, o dinheiro vem depois, como consequência de um trabalho bem feito. Me lembro bem do ano em que me formei em Comunicação Social pela UFJF. Após um mês de formada, meu pai me chamou na sala de casa para uma “conversa séria”.Preocupado comigo, ele me disse que eu deveria fazer um concurso público, já que eu era – na visão dele – inteligente e esforçada, e jornalismo parecia ser uma profissão sem futuro.
Naquele momento, disse a ele que eu precisava ter a chance de exercer a atividade que havia escolhido. Hoje, 21 anos depois desse diálogo, meu pai é certamente meu fã número um. Ama tudo que escrevo e se orgulha muito de minhas conquistas. Se eu tivesse a chance de ter uma nova opção hoje, garanto que faria tudo de novo. Ser jornalista para mim não é apenas ter um trabalho, é o que me define como ser humano. Ao escrever sobre as dores do outro, aprendo todos os dias, me reciclo, me transformo. Esse prazer não tem preço. Dinheiro nenhum no mundo paga o que me tornei através do jornalismo.
Mas há uma discussão sobre essa profissão da qual não podemos fugir. Esta semana, o colega de redação Marcos Araújo fez um desabafo no Facebook sobre a crise do jornalismo que nós exercemos. É que o modelo de negócios que sustentou os veículos tradicionais até hoje vem se modificando, principalmente com o advento da internet. Na prática, os jornais, as revistas e a televisão deixaram de ser os produtores únicos de conteúdo.
Os sites de informação ganharam o mercado e, apesar de apontarem novos caminhos para o futuro, ainda não se descobriu quem vai pagar a conta, já que, para manter as novas plataformas e uma equipe de jornalismo, há um custo.
Me soa a balela dizer que notícia não tem preço. Talvez a notícia que se propaga como a velha brincadeira do telefone sem fio não tenha mesmo. E aqui não há nenhuma espécie de defesa sobre o site da Tribuna que, recentemente, fechou o conteúdo e passou a cobrar assinatura por ele. A defesa aqui é da nossa dignidade enquanto formadores de opinião e profissionais que têm responsabilidade com aquilo que se publica.
Por trás de uma reportagem, há toda uma engrenagem. Como diz o Marcos Araújo, “dá trabalho para fazer, para apurar”. Precisa de carro, de telefone, de fotógrafo, de diagramadores, de editores, de um chefe de redação e um editor geral que analisam o conteúdo produzido e todas as questões éticas que envolvem uma denúncia.
Trabalhar em jornal diário e fazer jornalismo investigativo é não ter horário para voltar para casa. É subir o morro em uma operação da polícia e não saber se a gente vai sair de lá em segurança. É enfrentar ameaças de pessoas que acreditam – em vão -, que podem nos intimidar e calar. É ter que se mudar de casa na véspera do nascimento do filho, porque a polícia acha mais seguro abandonar a velha rotina em nome da segurança da sua família. É dedicar a maior parte do seu tempo para a missão que abraçou lá na faculdade, quando sonhávamos (e ainda sonhamos) em mudar o mundo.
Por isso, meus amigos, o amor que sinto por essa profissão não tem preço. Já a informação de qualidade que a gente produz tem sim.