O silĂȘncio que mata!
De acordo com o relatĂłrio da OMS – Organização Mundial da SaĂșde – divulgado no dia 09 de setembro, O suicĂdio foi a segunda maior causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos no mundo em 2016, atrĂĄs apenas de acidentes de trĂąnsito.
âHomem mata ex-mulher a facadas e comete suicĂdio em Cachoeira do Sulâ
Cachoeira do Sul – 29/08/2019 â fonte: Gauchazh
âBlogueira comete suicĂdio apĂłs ser abandonada no altarâ
Rio de Janeiro – 16/07/2019 â fonte: Brasil ao minuto
âYasmim Gabrielle, do Programa Raul Gil, comete suicĂdio e morre aos 17 anosâ
SĂŁo Paulo – 21/04/2019 â fonte: Veja SĂŁo Paulo
As matĂ©rias acima foram extraĂdas de diversos jornais espalhados pelo paĂs e todas foram publicadas este ano. Assim como elas, vĂĄrios outros casos de suicĂdio foram divulgados e as estatĂsticas nĂŁo sĂŁo favorĂĄveis. Uma pesquisa divulgada pela Unifesp (Universidade Federal de SĂŁo Paulo) e publicada na Revista Brasileira de Psiquiatria, indica que o Brasil estĂĄ na contramĂŁo do restante do mundo, enquanto os Ăndices de suicĂdio caem em todo o mundo no Brasil este nĂșmero aumentou 24% entre os anos de 2006 e 2015, principalmente entre adolescentes do sexo masculino que registram casos atĂ© trĂȘs vezes maior do que mulheres com a mesma idade. De acordo com o relatĂłrio da OMS – Organização Mundial da SaĂșde – divulgado no dia 09 de setembro, O suicĂdio foi a segunda maior causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos no mundo em 2016, atrĂĄs apenas de acidentes de trĂąnsito.
Um estudo recente divulgado pelo site Papo de Homem em parceria com o Instituto PdH, que originou em um documentĂĄrio de uma hora de duração com assuntos pertinentes ao comportamento masculino, apontou que 7 em cada 10 homens nĂŁo falam sobre seus maiores medos e dĂșvidas com os amigos ou familiares.
O estudo ainda revela que 6 em cada 10 homens declaram lidar hoje com algum tipo de distĂșrbio emocional.
Segundo o MĂ©dico Psiquiatra Dr. David Sender professor da Universidade Federal de Juiz de Fora e especialista em saĂșde mental do dia a dia, âCada vez mais se ouve falar sobre o universo machista em que vivemos, e que nas devidas proporçÔes, tambĂ©m fazem do homem uma vĂtima. âHomem nĂŁo choraâ, ânĂŁo pode fazer atividades domĂ©sticasâ, âtem que bancar a casaâ, âtem que ter sua honraâ, sĂŁo apenas alguns exemplos das regras de como um homem deve conduzir sua vida. Acontece que, nenhuma delas estĂĄ escrita na âporta da geladeiraâ, todas estĂŁo registradas profundamente nas raĂzes do nosso desenvolvimento. A psicologia, de maneira geral, auxilia a pessoa a identificar e desconstruir diversas crenças que conduziram, atĂ© o momento, sua mente. Isso possibilita uma maior flexibilidade psĂquica, e mais espaço para viver em paz consigo mesmoâ, explica Sender.
O primeiro passo deve ser o diĂĄlogo, aceitar suas vulnerabilidades e reconhecer suas fraquezas sem se culpar por isso, oferece condiçÔes de vida mais saudĂĄveis a todo ser humano. Mas outros aspectos devem ser levados tambĂ©m em consideração, segundo David o bullyng e o cyber bullyng podem contribuir para o aumento do Ăndice de suicĂdios cometidos principalmente pelos adolescentes no Brasil e no Mundo âO bullying  envolve uma sĂ©rie de abusos e agressĂ”es geralmente executados por um grupo de pessoas sobre umâ comenta Sender.
A mudança de comportamento das pessoas e o hĂĄbito cada vez mais frequente de acesso a internet e redes sociais fez com que o bullying atingisse esferas maiores, surgindo o Cyberbulling. Embora possa parecer menos agressivo, uma vez que basta sair do computador para nĂŁo ter contato com os agressores, o cyberbullying pode ser muito mais grave, pois agora nĂŁo se trata mais de um grupo de 3 ou 10 pessoas praticando o crime. Com a velocidade da internet, em minutos milhares ou atĂ© milhĂ”es de pessoas podem ter acesso a um conteĂșdo intimo e humilhante de uma pessoa. âO bullying Ă© algo muito violento para quem sofre e pode gerar consequĂȘncias para a vida, eleva expressivamente os Ăndices de transtorno mental e dobram o risco de suicido. Isso ocorre principalmente por envolverem sentimentos de isolamento, desamparo e impotĂȘncia frente a essa violĂȘncia. A solução costuma envolver profissionais de saĂșde mental, orientação escolar e parental, e muitas vezes medidas jurĂdicasâ defende o Psiquiatra.
No Ășltimo relatĂłrio divulgado pela OMS, a organização aponta formas mais eficazes de reduzir o suicĂdio, desconstruir essa nuvem de preconceito e incompreensĂŁo que existe sobre o tema, gerar maior envolvimento e sensibilização dos meios de comunicação para abordar o assunto de forma correta, aumentar a oferta de grupos de apoio e conversas abertas que ensinem os jovens a saber lidar melhor com suas emoçÔes.
Segundo o Psiquiatra David Sender âa depressĂŁo Ă© um transtorno psiquiĂĄtrico heterogĂȘneo, ou seja, hĂĄ diversas apresentaçÔesâ. Aquele estereotipo de nĂŁo conseguir sair da cama, chorando o dia todo Ă© problemĂĄtico, porque a maioria nĂŁo se apresenta assim, pois este ponto Ă© um nĂvel de gravidade mais crĂtica. A maioria vai trabalhar, namora, sai com os amigos, mas internamente sente que estĂĄ tendo que se esforçar muito mais para fazer as coisas, incluindo aĂ atividades que sempre despertaram prazer. A vontade costuma cair pouco a pouco, o humor vai alterando, nem sempre para tristeza, muitas vezes para ansiedade, irritação ou apatia. Muitas pessoas se percebem cada vez mais intolerantes e impacientes. O sono costuma mudar, seja insĂŽnia ou aumento do sono. O apetite tambĂ©m, alguns comem mais outros perdem o apetite. Caracteristicamente a cognição Ă© afetada, a pessoa percebe que seu raciocĂnio, criatividade, concentração e memĂłria nĂŁo sĂŁo mais os mesmos. Tudo isso junto, por mais de duas semanas, pode configurar um episĂłdio depressivo.
Cada um de nĂłs pode ajudar dentro das suas condiçÔes, basta identificar possĂveis sinais e oferecer amparo, fique atento e sempre que possĂvel, ofereça ajuda – dialogue. E se a pessoa nĂŁo quiser conversar, fique em silencio junto. – Jamais invalide o que ela estĂĄ sentindo (âVocĂȘ nĂŁo devia se sentir assimâŠâ). Ao invĂ©s disso diga frases como âEu te entendo, nĂŁo estĂĄ sendo fĂĄcil para vocĂȘâ. Isso ajuda a pessoa a se sentir acolhida e reconhecida em seu sofrimento. – Aponte saĂdas – um dos principais fatores de risco para o suicĂdio Ă© a sensação que nĂŁo tem mais jeito. – Mostre casos de amigos que jĂĄ passaram por questĂ”es parecidas (Eu particularmente gosto muito desse). – Indique ajuda profissional. Nem o psiquiatra e nem o psicĂłlogo (os dois trabalham muito bem juntos) servem para solucionar os problemas de alguĂ©m, mas ao ajuda-la a se sentir melhor, facilitarĂŁo expressivamente a possibilidade de resolvĂȘ-los por conta prĂłpria, comenta o Psiquiatra.
No Brasil, o CVV â Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicĂdio, atendendo voluntĂĄria e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone (basta discar 188), email e chat 24 horas todos os dias.
Se estiver precisando de ajuda, o primeiro passo Ă© falar!
Créditos:
Entrevistado: Dr. David Sender – PsiquiatraÂ
Endereço: R. Delfim Moreira, 161 – Centro, Juiz de Fora – MG, 36010-570
Fotografia: Studio Photo AluĂzio
RevisĂŁo: Thaiza Almeida