Sobre jardinagem amadora e CaĆque
HĆ” plantas que se inclinam em direĆ§Ć£o Ć luz e aquelas que precisam de uma distĆ¢ncia segura dela para que sobrevivam. Ć preciso saber a medida exata de iluminaĆ§Ć£o, ou, diz a sabedoria popular, “ter mĆ£o boa” para ver as folhas e flores – caso seja o caso- em todo seu esplendor, colorindo, enternecendo e tornando mais bonito mesmo o mais sem graƧa dos cĆ“modos, mesmo ao mais insensĆvel par de olhos.
Ao longo da vida, quem se dedica Ć jardinagem amadora e ocasional tende a acumular frustraƧƵes por desconhecer, entre outros aspectos, a quantidade ideal de luz e Ć”gua para cada muda, vaso, jardineira, erva, horta ou empreitada botĆ¢nica similar. Mas embora pareƧa um sentimento simplista, poucos se comparam Ć sensaĆ§Ć£o de ver uma planta no Ć”pice de sua mais linda floraĆ§Ć£o, em harmonia com a luz que recebe, parecendo atĆ© que chega a emanar uma prĆ³pria. A comoĆ§Ć£o imperceptĆvel ao resto do mundo, mas incomensurĆ”vel para quem viu e viveu se florescer, de pouquinho em pouquinho, de folhinha em folhinha, dia a dia, hipnotizando quem se deixasse encantar por seu desabrochar. Ć terminantemente impossĆvel nĆ£o olhar.
Gosto de pensar que certas pessoas sĆ£o como este tipo de planta, doam toda sua beleza onde quer que sejam penduradas, dispostas, plantadas. Ć brutalmente impossĆvel nĆ£o notar sua presenƧa, nĆ£o cobiƧar uma muda, nĆ£o querer espalhar um tanto de tamanha formosura para outros cantos, um alento para nossos olhos fatigados, tĆ£o carentes de ver o que Ć© belo. Meu conhecimento tĆ©cnico em botĆ¢nica tende ao zero absoluto, mas tenho uma teoria de secreta de que alguns tipos, de planta e de gente, sĆ£o carregados demais de beleza para este mundo.
E por isso duram tĆ£o pouco por aqui, mas tempo o suficiente para que continuemos buscando graciosidade semelhante em outras folhas e sorrisos, tĆ£o inesquecĆveis que sĆ£o. Certas espĆ©cies humanas e do reino planta simplesmente nĆ£o encontram toda a luz de que precisam em tempos opacos, sombrios. Assim foi com algumas das mais bonitas mudas que tive, e assim foi CaĆque, que agora inverte as leis da botĆ¢nica ou mesmo de qualquer pensamento cientĆfico, e agora, tenho certeza, vive em tudo que emana luz, daquelas para as quais nĆ³s, tal qual as plantas, nos inclinamos em direĆ§Ć£o, em estado de encanto absoluto.