A economia brasileira é altamente dependente da exportação de commodities, tendo o agronegócio, nos últimos 14 anos, contribuído de forma incisiva na geração de divisas. O crescimento do volume exportado no período 2000-2013 foi de cerca de 230%. Já o saldo comercial teve um crescimento de 468% no período. Além do seu efeito multiplicador de renda e emprego, o setor tem contribuído fortemente para os resultados macroeconômicos do país, por meio de seu faturamento e do saldo positivo na balança comercial que, em muitos anos, tem mais que compensado o saldo negativo dos demais setores. A desvalorização do Real diante das moedas dos principais parceiros comerciais brasileiros, em 2014, ajudou a manter as exportações brasileiras atrativas, especialmente para China, Índia, EUA e Reino Unido. E deve permanecer em 2015.
Dentro desse contexto, é interessante avaliar a estrutura produtiva agrícola e suas recentes mudanças dentro do território brasileiro, tomando por base os principais bens agrícolas exportados. No caso do algodão, entre 2003 e 2013, a Bahia foi o estado que apresentou o maior aumento de participação na produção nacional, tendo mais que dobrado a produção e se consolidado como o segundo maior produtor do país, atrás apenas do Mato Grosso. Nesse mesmo período, tem-se um aumento de 10% da participação do café mineiro no total nacional, sendo Minas Gerais responsável por mais da metade da produção brasileira em 2013. Por outro lado, o cultivo de café em São Paulo foi gradualmente reduzido nas últimas décadas. O milho apresentou as maiores mudanças na estrutura produtiva entre 2003 e 2013, tendo o Mato Grosso como o maior produtor nacional do gênero, após superar a produção do Paraná. Quanto à soja, apesar de principalmente cultivada nas regiões Sul e Centro-Oeste (com Mato Grosso respondendo por quase 30% do total nacional em 2013), observa um recente sucesso em alguns estados do Norte e Nordeste. No caso do trigo, o Paraná, antes considerado o maior produtor do país, teve uma queda acentuada de participação entre 2003 e 2013, enquanto o Rio Grande do Sul observou um aumento quase equivalente na participação nacional, com quase 60% da produção nacional em 2013.
O cenário atual leva a duas reflexões: a de que o processo de expansão vivenciado pelo setor é devido, em parte, à oferta de terras favoráveis ao cultivo e aos ganhos de produtividade alcançados com a utilização de novas tecnologias; e de que a estrutura produtiva agrícola brasileira está concentrada em poucos estados, com os estados das regiões Sudeste e Centro-Oeste aparecendo como principais produtores. Apesar da expansão da fronteira agrícola para outras regiões, as maiores variações no volume de produção permaneceram nos estados mais tradicionais. Portanto, os benefícios macroeconômicos advindos do setor agrícola, ainda carro-chefe da nossa economia, estarão concentrados espacialmente e pouco contribuirão para a redução das desigualdades econômicas nacionais.
Por Fernando S. Perobelli, Vinícius A. Vale, Inácio F. Araújo Junior, Túlio Belgo e Felipe Lanziotti- Conjuntura e Mercados Consultoria Jr. – Faculdade de Economia/UFJF – Email: [email protected]