Stédile reclama: reforma agrária está parada
Líder do Movimento Sem Terra (MST), João Pedro Stédile esteve em Juiz de Fora ontem, onde participou como convidado de um seminário organizado pelo curso de Especialização em Estudos Latino-americanos, da Faculdade de Serviço Social, para debater os movimentos políticos na América Latina. Em sua passagem pela cidade, Stédile não deixou de lado sua principal bandeira de luta. Apesar de considerar que, nos últimos 12 anos, os Governos federais comandados por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT) demonstraram sensibilidade social, o ativista social afirmou que a reforma agrária está paralisada no país.
“Nos últimos dois anos da Dilma, foram assentadas só 17 mil famílias. Isso é vergonhoso. Atualmente, temos 90 mil famílias acampadas. Já arrancamos o compromisso da presidente de que resolver a questão dos acampamentos deve ser prioridade número um. Não pode o Governo se omitir da responsabilidade de deixar 90 mil famílias de brasileiros morando debaixo de lona”, afirmou Stédile.
O líder do MST classificou a equação da situação das famílias assentadas como um primeiro passo. Depois disso, o militante defende uma rediscussão da política de reforma agrária no país, baseada na produção de alimentos saudáveis – sem a utilização de agrotóxicos, na agroecologia e na agroindústria, desde que melhore as condições de vida no meio rural. “Temos que romper com esse modelo burro do agronegócio, que deixou nossa agricultura refém de três quatro produtos. O agronegócio só produz soja, milho, eucalipto e boi. Temos que usar a terra e os recursos naturais para produzir alimentos que interessam para todo o povo brasileiro.”
Governo federal
Sobre o segundo mandato da presidente Dilma, iniciado em janeiro, Stédile lamentou a escolha de Kátia Abreu – a qual classificou como conservadora – para o Ministério da Agricultura. Por outro lado, mostrou expectativa positiva com relação à escolha do Executivo pelo nome de Patrus Ananias para o comando do Ministério de Desenvolvimento Agrário. “É um homem comprometido com a justiça social e a reforma agrária, que vai ter coragem suficiente de garantir que, na prática, o Governo irá assumir os compromissos assumidos conosco.”
O líder do MST defendeu o livre direito as manifestações, como as observadas recentemente nas ruas de várias cidades do país. Entretanto, ressaltou que é preciso respeitar a decisão das urnas. “Você pode ser contra o Governo, mas não pode querer derrubar no grito um Governo eleito democraticamente. Gostemos ou não. A direita que foi as ruas no dia 15 pregou o desrespeito à democracia. Havia vários cartazes pregando a golpe militar, incitando a violência. A política não pode ser feita com violência, mas o embate de ideias.”