Os medos na velhice

"Somente pela educação faremos uma nova sociedade para uma nova velhice. Sem preconceitos e sem discriminações."

Por Jose Anisio Pitico

O livro da autora Magdalena Léa (Editora Record, 1981) traz no seu título uma bela provocação: Quem tem medo de envelhecer? E é nessa direção que eu vou levantar essa questão na Coluna de hoje: vou apresentar a vocês, caros leitores e leitoras, alguns tipos de medos que ouço no dia a dia, no meu contato direto com algumas pessoas idosas. Antes, porém, afirmo que, de acordo, com pesquisas robustas nesse campo, o principal fantasma ou o principal medo, pavor mesmo, digamos assim, e que a maioria da população brasileira tem para o seu futuro no envelhecimento, é “dar trabalho aos outros”, ou seja, envelhecer, e se tornar uma pessoa dependente dos cuidados de outras pessoas, dos familiares ou dos cuidadores formais; ficar à mercê dos cuidados de terceiros.

Esse é sem dúvida alguma o principal medo, o maior deles, quando o assunto é envelhecer: medo de ficar sem autonomia – com a cabeça ruim – e sem independência para tocar a sua vida. Os outros medos entre tantos outros, que também estão presentes nessa fase da vida são: medo de morrer/medo da morte; medo de não ter com quem contar; medo de ficar sozinho/a. O meu medo é o de ficar abandonado. Esses medos acompanham a humanidade, fazem parte da cultura humana.

Eu não sei, eu não posso afirmar, mas, eu acho que a rejeição social, pública e política que nós temos sobre o envelhecimento esteja muito colada a essas ideias negativas e pessimistas sobre a possibilidade de que é impossível viver bem esse período de nossa vida. Envelhecer não é necessariamente adoecer e não é uma sentença a ser cumprida de que fatalmente todos nós vamos depender de alguém para acordar de manhã e dormir à noite, mais à frente dos nossos dias. Acredito que se a gente falar mais sobre a velhice, desde cedo e desde antes, podemos vivê-la como mais tranquilidade e mais serenidade e com menos ansiedade e angústia.

Uma nova sociedade precisa ser construída diante de uma outra realidade brasileira e mundial que estamos vivendo: uma queda acentuada no número de nascimentos no Brasil e no mundo também. De um modo mais prático e direto, podemos dizer que estamos tendo numa escala crescente: menos crianças e mais pessoas idosas. A população não está crescendo, a população está envelhecendo. E de uma maneira muito rápida. Precisamos aceitar a realidade humana em nós de que vamos envelhecer. A não ser que a gente morra antes. Ninguém deseja morrer antes, não, é verdade?

Então, nos preparemos desde já, o quanto antes para o nosso futuro. Que nesse novo ciclo de vida na velhice, possamos ter e criar um período de ricas oportunidades para o crescimento do nosso potencial humano. E que envelhecer possa ser, sim, uma experiência de vida muito interessante, produtiva e feliz. Como já atestam e já comprovaram e principalmente como vivem milhares de pessoas idosas pelo mundo afora e por aqui também perto de casa na nossa cidade. Enquanto esse assunto, esse tema do envelhecimento humano permanecer fora do centro do debate público pouco teremos de mudança cultural no comportamento negativo que circula entre nós. Somente pela educação faremos uma nova sociedade para uma nova velhice. Sem preconceitos e sem discriminações.

Jose Anisio Pitico

Jose Anisio Pitico

Assistente social e gerontólogo. De Porciúncula (RJ) para o mundo. Gosta de ler, escrever e conversar com as pessoas. Tem no trabalho social com as pessoas idosas o seu lugar. Também é colaborador da Rádio CBN Juiz de Fora com a coluna Melhor Idade. Contato: (32) 98828-6941

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