Curtas ‘A copa’ e ‘Lindo sonho escuro’ estreiam no CCBM
A sessão, que acontece neste sábado, às 19h30, é gratuita; 50 ingressos serão disponibilizados

Neste sábado (24), o Centro Cultural Bernardo Mascarenhas (Avenida Getúlio Vargas 200 – Centro) sedia a estreia de dois curtas-metragens: “Lindo sonho escuro”, do diretor Bruno Ferreira, e “A copa”, de Pedro Moysés. A sessão dupla começa a partir das 19h30, na videoteca do espaço. No total, serão disponibilizados 50 ingressos, que podem ser retirados gratuitamente meia hora antes do início das exibições.
Os filmes são uma parceria entre as produtoras Teste Projetivo e Montanha Acima. Ambos foram produzidos com baixo orçamento, gravados com uma semana de diferença. Na trama de “Lindo sonho escuro”, é contada a história de dois casais em seus momentos bons e cinzentos, a partir de uma perspectiva abstrata de suas vivências. Já em “A copa”, o espectador acompanha dois personagens que não têm nome, não sabem onde estão e, em muitos casos, não sabem o que, nem o porquê do que dizem.
O elenco de “Lindo sonho escuro” conta com Lucas Barbosa, Geovana Santiago, Pedro Moysés, Valentine Fontanella, Igor Santos, Beatriz Villela, Mariana Nobre e Fernanda Moysés. Já “A copa” é formado por Igor e Lucas. Após a exibição, os dois realizadores estarão presentes para um debate com o público.
Construção coletiva
De acordo com Pedro Moysés, durante a gravação de “A copa”, houve um momento em que a simbiose entre ele, Lucas e Bruno, que assina a direção de fotografia e atua como assistente de montagem no curta, chegou a ser tátil. Em meio ao calor sufocante de seu porão, o diretor desligou o ventilador. Fez isso, como conta, em nome da arte. E arte, em alguns momentos, é exaustão, como precede o método de atuação Grotowski, citado pelo diretor, que é repórter da Tribuna. “Ele fala que quando você está totalmente exausto, a atuação sai da forma mais natural possível.” E ali, naquele instante em que “dava para ver a fumacinha saindo da cabeça, a gente virando uma nuvem só”, a junção dos três, mais uma vez, aconteceu.
Os registros daquele “final de semana fora da realidade total” – como o Pedro caracterizou – permaneceram e resultaram em “A copa”. Esses dias de gravações, refletem, em certo sentido, as dualidades do processo de criação desse curta-metragem. Se em seu trabalho de segunda a sexta como jornalista Pedro cita a fala de fontes diretamente, em seu texto ficcional as personagens citam Albert Camus, Sartre e Franz Kafka, sem saberem de quem são essas palavras.
Já em seu trabalho como ator, Pedro sabe como gosta de ser “espremido”, então, na direção, faz o contrário – ao menos em seu primeiro trabalho nessa função. Espremeu dos atores Lucas e Igor o que, geralmente, foge da zona de conforto de ambos. Curiosamente, a tríade formada por Pedro, Bruno e Lucas, em algum nível, se apresenta em uma figura bestial, do cão de três cabeças que guarda o inferno dos gregos.
A começar que Pedro e Lucas se conheceram no teatro, arte que surge na Grécia, ao menos no Ocidente. Bruno, por sua vez, conheceu Pedro na faculdade de Cinema da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em 2019. Depois do primeiro projeto em que trabalharam juntos, o curta “Não grite agora” (2024), perceberam que a maneira de pensar e fazer cinema se aproximava muito.
“É um ser só com três cabeças. O que a gente quer ver em um filme é muito igual. De linguagem, no gosto que temos para cinema. Essa parceria está sendo muito energizante. Já são três filmes juntos (‘Não grite agora’, ‘Lindo sonho escuro’ e ‘A copa’) e em breve vem uma quarta parceria. Está sendo muito bom”, destaca Bruno.

E essa parceria também está na concepção que os três, assim como todos os outros membros da equipe dos dois filmes, adotaram para vê-los concretizados. “Temos uma certa rebeldia. Fazer arte no Brasil é muito difícil. Claro que queremos contar com o dinheiro de um edital, mas não podemos ficar esperando. Se tivermos que pegar um celular, juntar amigos e atores, para todo mundo se juntar ali, se unindo e gravar dois curtas em duas semanas, a gente vai fazer. Temos que produzir, mesmo que seja com pouca grana”, afirma Lucas, que atuou em ambos os projetos.
‘Lindo sonho escuro’ e ‘A copa’
Mesmo sendo projetos irmãos na produção, os curtas diferem bastante entre si em suas respectivas temáticas. Bruno entende que “Lindo sonho escuro”, é “um estudo do sentimento micro”. O amor entre os dois casais é apresentado em fragmentos, recortado, trabalhando a mistura do que fica registrado preto no branco e colorido na memória de cada um. A trama é construída de maneira que os símbolos, imagens, diálogos e elementos apresentados possam ser percebidos de diferentes maneiras por cada espectador.
Em “A copa”, os elementos simbólicos se apresentam em poucos elementos cenográficos, como em um palco, sendo o destaque do curta a atuação de Igor e Lucas, que são personagens sem nome na história, com fragmentos de identidade. Ambos se veem cercados por questões absurdas e existenciais, sendo o retrato de duas psiquês distintas, mas unidas na “prisão” da copa.
Serviço
Exibição curtas no CCBM
- No sábado (24), às 19h30
- No Centro Cultural Bernardo Mascarenhas (Avenida Getúlio Vargas 200 – Centro)
- Entrada gratuita
*Estagiário sob supervisão da editora Cecília Itaborahy
Tópicos: CCBM