Março de 2015, Nova Gestão Presidencial

Por Conjuntura e Mercados Consultoria Jr

Findo fevereiro, 2015 finalmente começa em várias instâncias do país. A nova gestão presidencial, empossada em janeiro, enfrenta em março um dos inícios mais difíceis que um mandato já teve em tempos recentes. Desde a implantação do Real, raramente o país encontrou-se numa combinação como a que estamos vivendo agora, com aumento dos preços, necessidade de saneamento das finanças do Governo sem fazer muitos cortes de gastos que possam prejudicar ainda mais o já baixo crescimento e a produção estagnada. Panorama político abalado, em que o apoio da presidente no Congresso é duvidoso e o Governo enfrenta um dos maiores escândalos de corrupção de sua história, envolvendo a imagem da maior empresa brasileira, a Petrobras.

Um bom panorama da situação atual pode ser obtido a partir da leitura do boletim Focus, liberado pelo banco Central no dia 30/01, que condensa as perspectivas do mercado com relação aos principais indicadores da economia. A mediana da previsão para a inflação (medida pelo IPCA) para 2015, realizada em dezembro de 2014, estava em 6,56%. Uma semana antes da divulgação do boletim, a previsão havia subido para 6,99% e, no dia da divulgação, chegado a 7,01%, acima do teto da meta de 6,5% e muito acima do centro da meta em 4,5% ao ano. É um claro sinal da desconfiança do mercado na capacidade governamental de conter os preços.

A previsão para a taxa de câmbio real/dólar se manteve estável em R$ 2,80 durante as últimas semanas, mas acima do valor atual, já elevado, da moeda americana, que tem ficado em torno dos R$ 2,70. Contudo, há um outro dado a ser analisado. Com o real desvalorizado, era de se esperar que as exportações aumentassem, impulsionando, por essa via,o crescimento da economia e incentivando a produção industrial. Mas não é isso que se lê no boletim. O mercado ainda prevê crescimento em ambos os indicadores (produção industrial e PIB), mas é um crescimento insignificante, principalmente no que diz respeito à indústria, que tem encolhido sistematicamente nos últimos anos. A produção industrial teve seu crescimento previsto inicialmente em 1,04%, depois em 0,69% e agora está em 0,5%. O crescimento do PIB apresenta números ainda piores, tendo sua previsão reduzida de 0,5% para 0,13% e posteriormente para 0,03%. Não seria surpreendente se, ao final do ano, o PIB apresentasse uma queda, significando que a economia encolheu, ao invés de crescer, em 2015.

No que diz respeito à responsabilidade fiscal do Governo, as previsões indicam que a dívida líquida do setor público estará em 37% do PIB ao final do ano, o que representa uma ligeira melhora em relação ao final de 2014, quando ultrapassou os 39%. É provável que o Governo tente lidar com o problema da dívida pública não por meio de um corte de gastos, tentando reorganizar o destino de seus recursos, mas pelo aumento de arrecadação, o que pesará no bolso do consumidor, em sua capacidade de consumir e, em última instância, no crescimento econômico.

Por fim, a situação da Petrobras. A demissão da diretoria, em 3 de fevereiro, melhorou as expectativas do mercado e provocou uma alta nas ações da empresa. Entre 02/09/2014 e 30/01/2015, o valor da ação caiu de R$ 24,56 para R$ 8,18. Houve uma alta considerável após as notícias referentes à troca de direção, atingindo R$ 10,02 em 4 de fevereiro, mas a diferença entre o valor anterior ao escândalo e o valor posterior é imensa.

Tudo somado, concluímos que a gestão presidencial que se inicia efetivamente em março terá pela frente uma série de desafios. A solução para muitos deles é indigesta e ataca uma área já frágil do sistema: o crescimento da produção e da renda. Some-se a isso um cenário internacional desfavorável, com baixo crescimento em vários países desenvolvidos, principalmente na Europa, e a economia russa em crise. Há esperança de que, a partir de 2016, a situação melhore, mas pelo próximo ano, a previsão é de que o cenário piore bastante antes de melhorar. Céu de brigadeiro no Brasil, nem tão cedo.

 

Por João Frederico Martins Baeta Guimarães e Beatriz Machado Marra da Silva.
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