Adriana de Oliveira Silva Ferreira, enfermeira de 49 anos, e Marco Antônio Nascimento, ferroviário aposentado de 71 anos, são conhecidos na internet como o casal Dri e Marco. Juntos, eles compartilham sua rotina fazendo crochê, as peças que produzem em casa, seus processos de aprendizado e também as conversas que têm a partir da atividade. O que começou quando os dois, durante a pandemia de Covid-19, passaram por perdas significativas que os abalaram emocionalmente, virou uma forma de levar amor até outras pessoas. As peças delicadas e que exigem paciência os ajudaram a enfrentar a dor que sentiam, em um processo terapêutico, e também fizeram com que se aproximassem cada vez mais. Cerca de quatro anos depois do início desse processo, eles acumulam com orgulho peças que mostram a evolução que tiveram na atividade, com criações cada vez mais desafiadoras e um impacto positivo na vida das pessoas.
A ideia de começar no crochê foi de Dri, quando estava voltando do trabalho e resolveu comprar uma agulha e uma linha. Apesar de já ter aprendido a fazer correntinhas de crochê com a bisavó, na infância, nunca mais tinha mexido com o material. Quando seu cunhado faleceu e com todos os novos desafios que estava tendo no trabalho devido às normas de saúde, resolveu dar uma chance para algo que lhe oferecesse um respiro de tudo que estava acontecendo no mundo. O encanto foi imediato, e se expandiu também para o companheiro: “Foi muito bom para a gente. O Marco começou uns três meses depois, e virou um momento nosso, uma paixão que compartilhamos mesmo”, conta.
Marco já fazia patchwork no tempo livre, e sempre gostou de atividades manuais, então começar a aprender crochê junto com Adriana. Apaixonar-se por essa arte foi fácil. “Quando meu pai era vivo, ele tinha uma lavanderia e eu tinha o hábito de colocar botões e fazer emendas. Começou dali, e depois fui costurar, fazendo roupa feminina. Até que conheci o patchwork, que é um trabalho de retalho, e achei muito bacana. Faço colchas, almofadas, jogo americano e muito mais. Mas agora o crochê é prioridade.” Em 2021, ele também perdeu um filho em um acidente de carro, e ter tido esse encontro com as linhas o ajudou a ter forças.
“Para muitos, homens no artesanato ainda é tabu. Algumas pessoas ainda se surpreendem quando ele diz que faz crochê, né, querido?”, conta Dri. E ele completa: “Infelizmente ainda tem isso de preconceito. Mas eu sou tranquilo”. Atualmente, eles trabalham com vendas e encomendas no Instagram que usam juntos, por sugestão da filha de Dri. Apesar de não terem começado pensando em vender, mas com foco nesse efeito de cura, eles foram encontrando pessoas que também queriam saber mais sobre como fazer as peças e foram criando uma verdadeira comunidade de crocheteiros, hoje com mais de 90 mil seguidores no @driolivercrocheteria. “É muito gratificante, além de tudo. A gente ganha muito no emocional, no carinho, no aprendizado”, conta Marco.
‘Croversando’
Percebendo o quanto isso estava sendo positivo para os dois e pela própria dinâmica que têm enquanto fazem crochê, surgiu a ideia do projeto “Croversando”. No início, os dois gravavam vídeos fazendo peças enquanto conversavam sobre temas que consideravam importantes, como por exemplo a importância dos homens ajudarem em casa e o bullying. Quando o isolamento social acabou, começaram a levar o projeto para mais pessoas e a abrir a conversa para o que quisessem contar. “A gente ensina o crochê e, nas meias horas finais, abre para as pessoas irem colocando pra fora o que estão sentindo”, conta Marco.
Como explica Dri, eles descobriram ainda mais possibilidades fazendo isso, e conseguiram que mais pessoas se sentissem “leves e abertas” como eles enquanto crochetam. O projeto foi levado inclusive para crianças, adolescentes, adultos e idosos em São José dos Lopes, distrito de Lima Duarte, próximo à Ibitipoca, e ainda para mulheres que enfrentam o câncer de mama no hospital Ascomcer.
Tomando café e aprendendo
Como as linhas de crochê que precisam dar ponto para formar o nó perfeito, os dois também traçaram vidas diferentes até se reencontrarem, em 2020. Dri dava aula para técnicos em enfermagem e os dois já tinham se cruzado anos antes, mas eram casados com outras pessoas e não tinham se aproximado. Até que, quando isso aconteceu, foram morar juntos e toda essa história aconteceu – no momento exato em que também precisaram mais um do outro e do crochê. “A gente preza pela harmonia. É isso que conseguimos aqui”, conta Dri.
Para eles, um ritual tão importante quanto escolher as linhas, ver vídeos para aperfeiçoar o crochê, interagir com as pessoas nas redes e perceber a própria evolução, é compartilhar momentos diários. “A gente acredita muito nisso de estar junto, de se olhar nos olhos, conversar e tomar um cafezinho. Aprendemos mais ainda a importância disso depois da pandemia”, destaca Dri.