ConheƧa Ana Sukita, cantora e regente do coral da UFJF

Na coluna 'Sem lenƧo, sem documento' desta semana, a cantora conta seus caminhos pela mĆŗsica e o amor pelo rock

Por Elisabetta Mazocoli

Regentenocoral2 Divulgacao
“NĆ£o Ć© uma rebeldia de querer ser do contra. Ɖ de estar fora de um padrĆ£o, e isso Ć© algo que me atrai e me interessa muito”, reflete Ana Sukita (Foto: DivulgaĆ§Ć£o)

Em apresentaƧƵes do coral da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Ć© possĆ­vel ver Ana Sukita guiando os estudantes e indicando com o corpo inteiro o que eles devem fazer. Seu estilo chama a atenĆ§Ć£o – com cabelos alaranjados, tatuagens pelo corpo inteiro e piercing, ela pode nĆ£o parecer com o estereĆ³tipo de uma pessoa que trabalha com esse meio. Mas quebrar padrƵes Ć© algo que gosta, e que inclusive leva para a prĆ³pria organizaĆ§Ć£o do coral. “MamĆ£e diria que sou rebelde. Eu discordo”, conta e ri. AlĆ©m do trabalho com o coral, tambĆ©m canta como freelancer em bandas, eventos, no carnaval da cidade e atĆ© na igreja. Boa parte de seu tempo ainda Ć© dedicada a dar aulas para alunos que, assim como aconteceu com ela, anos atrĆ”s, querem se aperfeiƧoar no canto.

A sua trajetĆ³ria com a mĆŗsica comeƧou quando, aos seis anos, participou do conservatĆ³rio de mĆŗsica, aprendendo diferentes instrumentos e ficando atĆ© o comeƧo da adolescĆŖncia. “Eu nĆ£o gostei, queria sair, mas minha mĆ£e insistiu muito para que eu ficasse. Cheguei a falar atĆ© que odiava mĆŗsica”, conta. Sua mĆ£e tinha escutado de uma cartomante, quando ainda estava grĆ”vida dela, que Ana iria trabalhar com mĆŗsica, e que por isso deveria ser colocada em aulas de piano, e levou esse conselho muito a sĆ©rio. Pouco tempo depois de sair do conservatĆ³rio, a jovem mesmo percebeu que, na verdade, o que ela gostaria de fazer era mesmo algo nesse meio, mas por meio do canto. Foi assim que, por volta dos 16 anos, comeƧou a fazer aulas especĆ­ficas para desenvolver a voz e usar tĆ©cnicas melhores. Foi se encantando pelo processo e, pouco tempo depois, passou a ser chamada inclusive para dar aula para outras pessoas, o que representou um desafio Ć  parte.

Ainda naquela Ć©poca, ela foi cursar Direito na universidade, porque a famĆ­lia tambĆ©m aconselhava que ela deveria buscar um caminho tradicional paralelamente Ć  mĆŗsica. Ao longo de toda a faculdade, ela continuou trabalhando, e assim foi intensificando seu envolvimento com a mĆŗsica, tendo chegado tambĆ©m a participar de trĆŖs bandas de rock. Quando estava prĆ³xima da metade do curso, resolveu entrar no coral da universidade – o que, como percebe, mudou bastante sua vida. “Se alguĆ©m me dissesse, quando eu entrei no coral, em 2006, que um dia eu ia ser regente, nĆ£o ia acreditar”, conta. Ainda naquela Ć©poca, quando o coral era regido por AndrĆ© Pires, se apaixonou pelo que aquele espaƧo podia possibilitar, em termos de uso da voz e arranjos. E, por isso, tambĆ©m foi se envolvendo cada vez mais com esse processo, atĆ© que chegou a conseguir uma bolsa para montar um coral de iniciantes em um distrito de Belmiro Braga, SĆ£o JosĆ© das TrĆŖs Ilhas, no qual trabalharia apenas aos finais de semana. “Era preciso ter experiĆŖncia na Ć”rea de mĆŗsica e, como nĆ£o existia o curso ainda, a experiĆŖncia acabava vindo do curso de Artes ou de fora”, explica sobre o caso.

Logo percebeu que era disso que gostava mesmo, e finalizou o curso que fazia, mas nĆ£o quis seguir na Ć”rea. Em 2009, quando o curso de MĆŗsica comeƧou a ser oferecido, ela jĆ” sabia que era nessa Ć”rea que queria continuar a atuar, e entĆ£o voltou a estudar. AlĆ©m dessa experiĆŖncia, Ana tambĆ©m cursou Canto Popular na BITUCA ā€“ Universidade de MĆŗsica Popular. “Eu amo estudar. Sempre gostei muito, e por isso sempre continuo estudando”, conta. Para a posiĆ§Ć£o que assumiu, anos depois, no coral, como regente, precisou justamente disso, pois o desafio era bem maior do que a experiĆŖncia que tinha tido antes. Inicialmente, ela iria apenas ficar nessa funĆ§Ć£o de forma provisĆ³ria, durante seis meses, apĆ³s um professor precisar sair. Mas o trabalho jĆ” dura anos e, com o tempo, foi tambĆ©m podendo experimentar e ousar mais no que faz por lĆ” – inclusive ajudando a fazer com que os arranjos aproveitem mĆŗsicas atuais, trabalhando a parte cĆŖnica do coral e planejando espetĆ”culos, junto com Michelle Flores, que fica na direĆ§Ć£o artĆ­stica.

Amor pelo rock

Apesar do coral cantar todo tipo de mĆŗsica e dela mesma tambĆ©m cantar diferentes ritmos, o rock tem um lugar especial em sua vida. Inclusive por conta dessa rebeldia que esse gĆŖnero musical traz, e com o qual ela mesma entende que se identifica. “NĆ£o Ć© uma rebeldia de querer ser do contra. Ɖ de estar fora de um padrĆ£o, e isso Ć© algo que me atrai e me interessa muito”, conta. Com as experiĆŖncias que teve, inclusive no conservatĆ³rio, foi atraĆ­da por esse ritmo justamente pelas diferenƧas que ele trazia. “Eu conheƧo bastante mĆŗsica clĆ”ssica. Mas com o rock, quando vejo tanta qualidade e tanto desdobramento nele quanto numa mĆŗsica mais tradicional, sĆ³ que com algo de mais livre e catĆ”rtico, isso me emociona”, diz.

As letras e as interpretaƧƵes, para ela, fazem com seja possĆ­vel acionar um tipo de expressĆ£o. “No rock as pessoas expressam as suas diferenƧas, as suas individualidades, a sua rebeldia. Mas, como diz mamĆ£e, nĆ£o Ć© uma rebeldia simplesmente querer quebrar tudo. Ɖ uma rebeldia de movimentar, uma forma de ser ou uma forma de ajuda. Tipo assim, por que nĆ£o podemos fazer diferente, por que tem que ser tudo certinho? Por que nĆ£o pode ser uma coisa mais caĆ³tica? Existe muita beleza no caos”, diz. TambĆ©m por isso, como ela mesma reflete, que foi parar em um “coral que Ć© um coral cĆŖnico completamente diferente do tradicional”. E que, por isso, tambĆ©m precisava de alguĆ©m como ela.

Pelo coletivo

A partir do momento que Ana assumiu o coral, muitas coisas foram mudando em sua vida. “Eu planejava fazer pĆ³s-graduaĆ§Ć£o na Ć”rea do canto, mas a partir do momento que eu fui contratada para o coral e vi que eu estava precisando ter um pouco mais de experiĆŖncia naquilo, eu jĆ” parei e pensei em focar nessa parte”, explica. Para ela, o cĆ”lculo do que vai fazer sempre precisava levar em conta o que Ć© possĆ­vel fazer para beneficiar o mĆ”ximo de pessoas possĆ­vel. E, quando enxerga o que Ć©, escolhe fazer isso.

TambĆ©m nas aulas encontrou algo de que gosta muito, por isso. “Eu sinto que estou compartilhando uma coisa que Ć© uma paixĆ£o minha com a pessoa, e fazendo a diferenƧa. Quando vejo um aluno desenvolvendo uma tĆ©cnica vocal, por exemplo, e vejo que tem dedo meu, aquilo me emociona muito”, diz. Nesses momentos, conta que tambĆ©m se lembra dela mesma, mais nova, quando foi aprendendo mais sobre aquilo que guiaria tantos de seus passos. Expandir isso, seja no coral ou nas aulas, se tornou algo fundamental. Os prĆ³ximos passos, como ela deixa claro, ainda estĆ£o em aberto, tanto nos projetos individuais com banda quanto no coral da UFJF (que, como ela conta, vai fazer uma apresentaĆ§Ć£o focada no Chico Buarque em novembro deste ano). “Eu vejo que o que fiz mesmo foi estudar e ir Ć s aulas. O resto foi fluindo e acontecendo”, diz.

Elisabetta Mazocoli

Elisabetta Mazocoli

Elisabetta Mazocoli Ć© uma repĆ³rter formada pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e pĆ³s-graduanda em Escrita e CriaĆ§Ć£o pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Escreve a coluna "Sem lenƧo, sem documento", que conta a histĆ³ria de artistas, artesĆ£os e pessoas que trabalham com cultura em Juiz de Fora, mas que nem sempre sĆ£o conhecidos pelo grande pĆŗblico. TambĆ©m escreve matĆ©rias de cidade, educaĆ§Ć£o, saĆŗde, cultura e diversos outros temas. Ɖ autora do livro-reportagem "Do lado de fora: dez perfis de mulheres anĆ“nimas", escrito como Trabalho de ConclusĆ£o de Curso, e se interessa por jornalismo literĆ”rio. No tempo livre, escreve e lĆŖ literatura, se interessa por produƧƵes audiovisuais, viaja, cuida de gatos e aprende lĆ­nguas. [email protected] LinkedIn: https://www.linkedin.com/in/elisabetta-mazocoli/

A Tribuna de Minas nĆ£o se responsabiliza por este conteĆŗdo e pelas informaƧƵes sobre os produtos/serviƧos promovidos nesta publicaĆ§Ć£o.

Os comentĆ”rios nĆ£o representam a opiniĆ£o do jornal; a responsabilidade pelo seu conteĆŗdo Ć© exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir postagens que contenham insultos e ameaƧas a seus jornalistas, bem como xingamentos, injĆŗrias e agressƵes a terceiros. Mensagens de conteĆŗdo homofĆ³bico, racista, xenofĆ³bico e que propaguem discursos de Ć³dio e/ou informaƧƵes falsas tambĆ©m nĆ£o serĆ£o toleradas. A infraĆ§Ć£o reiterada da polĆ­tica de comunicaĆ§Ć£o da Tribuna levarĆ” Ć  exclusĆ£o permanente do responsĆ”vel pelos comentĆ”rios.



Leia tambƩm