Memórias sob a lama

Por Marcos Araújo

Tudo em volta foi transformado em terra arrasada. Ainda hoje, em meio à paisagem desoladora de Brumadinho, a esperança luta para brotar entre os escombros. As histórias das vítimas são como fios de uma tapeçaria dilacerada pela tragédia que assolou a região, quando a barragem do Córrego de Feijão rompeu-se, despejando uma enxurrada de rejeitos que sepultou sonhos e ceifou vidas.

Desde então, o tempo parece ter sido congelado para quem sobreviveu, suas feridas não cicatrizaram e seus pesadelos ainda são motivos de pânico noite adentro. Diagnosticados com transtorno de estresse pós-traumático, eles são testemunhas vivas da dor que não desaparece, do terror que se repete incessantemente em suas lembranças.

Na última quinta-feira, exatamente às 12h28, completaram-se cinco anos do que é considerado uma das maiores catástrofes ambientais e trabalhistas do Brasil. Nesse aniversário sombrio, ainda há corpos por encontrar, ainda há lágrimas para derramar. O trabalho incansável dos bombeiros continua, uma busca dolorosa, uma vez que três vítimas ainda não foram localizadas. Dois bebês, símbolos de inocência e esperança, estão entre os 272 perdidos, suas futuras promessas interrompidas pela força impiedosa da natureza corrompida pela negligência humana.

Cruzes de madeira foram instaladas no gramado central da Esplanada dos Ministérios, em frente ao Congresso Nacional, em Brasília. Em cada cruz, estava escrito o nome de uma das pessoas que tiveram a vida subtraída. A iniciativa é uma forma simbólica de não deixar que a memória dessas pessoas fique para sempre sob a lama, além de pedir justiça para os sobreviventes do rompimento.

A Associação dos Familiares das Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem em Brumadinho (Avabrum) clama por reparação, que ainda não chegou. Cada vida eliminada merece ser reconhecida, honrada, e não esquecida em meio ao discurso vazio de líderes corporativos. Para quem ainda chora por todas as perdas, reparação significa mais do que compensação financeira; é a responsabilização dos culpados, é a reforma de um sistema que prioriza o lucro em detrimento da segurança e da vida humana.

Enquanto a comunidade de Brumadinho tenta se reerguer, as memórias daquele fatídico dia ainda ecoam pelas ruas, lembrando-nos da urgência em aprender com os erros do passado para evitar que calamidades como essa se repitam no futuro. Que essas vidas perdidas não tenham sido em vão, que possam servir de alerta para uma mudança verdadeira, para um mundo onde a ganância não suplante a segurança, onde a negligência não se transforme em luto e sofrimento.

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Marcos Araújo

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