Rememorar e condenar
Marca de um ano de atos golpistas em Brasília traz oportunidade de reflexão sobre os rumos da democracia brasileira
Há quase um ano, no dia 8 de janeiro de 2023, a Esplanada dos Ministérios foi palco de cenas que rodaram o mundo. Milhares de pessoas invadiram o Congresso, o Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF), deixando um rastro de depredação até então inédito na história democrática brasileira. Dois anos depois da invasão do Capitólio, nos Estados Unidos, o Brasil ganhou um dia de barbárie para chamar de seu.
Os dias seguintes foram de contabilização dos prejuízos e de repúdio ao vandalismo que tomou as manchetes dos veículos de informação do Brasil e do mundo. Atualmente, 66 das mais de duas mil pessoas presas durante as depredações nos prédios dos Três Poderes permanecem detidas. Oito já foram condenadas pelo STF, enquanto 33 foram denunciadas e 25 seguem reclusas até a conclusão das investigações.
Em vias de completar um ano daquele episódio, torna-se imperativo rememorá-lo e analisá-lo, agora com a vantagem do distanciamento temporal. Na edição da Tribuna deste domingo (7), matéria do repórter Hugo Netto se ocupa disso, além de reconstituir o cenário de ebulição política que sucedeu as eleições de 2022. Relembrar os fatos que precederam e culminaram em um dos maiores atentados à democracia brasileira neste século é passo incontornável para o entendimento do contexto político do Brasil, com discordâncias que, por vezes, levam a comportamentos que extrapolam o livre debate de ideias.
Em entrevista ao jornal “O Globo” na última semana, o ministro do STF Alexandre de Moraes afirmou que as investigações sobre os atos de Brasília desvendaram a existência de planos para assassiná-lo. O relato, somado às imagens de destruição gravadas pelos próprios invasores no dia 8 de janeiro de 2023, são sinais flagrantes do quão desafiador será reconstruir a discussão política salutar intrínseca ao sistema democrático.
Até mesmo o ato “Democracia inabalada”, organizado pelos chefes do Governo federal, do STF e do Congresso Nacional para rememorar o fatídico dia, foi alvo de críticas por uma parcela dos parlamentares. A oportunidade, por outro lado, era de unificar o discurso contrário ao terror que foi instalado em Brasília no último ano.
A marca de um ano dos atos de vandalismo em Brasília é uma oportunidade de reflexão sobre os rumos da nossa democracia, além de ser uma chance de analisar as atitudes tomadas desde então. O momento é de repensar a responsabilidade pelo ambiente em que o país se insere, seja pelos órgãos incumbidos das responsabilizações pela depredação dos prédios dos Três Poderes, seja pela postura de cada cidadão enquanto agente responsável pela proteção do regime democrático brasileiro.