Ambiente virtual tem propagado violĂȘncia sexual contra crianças e adolescentes
DenĂșncias e operaçÔes da PolĂcia Federal atingiram nĂșmeros recordes
As crianças tĂȘm acessado o ambiente virtual cada vez mais cedo e por mais dispositivos. Ă o que mostram os novos dados da SaferNet, organização referĂȘncia em pesquisas e denĂșncias de violaçÔes contra direitos humanos na internet. Neste ano, 24% desse pĂșblico ingressou no ciberespaço aos 6 anos, ao passo que em 2015, primeiro ano de realização da pesquisa, o percentual era de 11%.
Em consonĂąncia com tal crescente, as operaçÔes da PolĂcia Federal (PF) em casos de crimes cibernĂ©ticos que possuem crianças e adolescentes como vĂtimas jĂĄ chegaram a 627 este ano. Em 2022, 369 dessas açÔes foram registradas. Os dados da PF foram apresentados em 16 de outubro, no lançamento do programa De Boa Na Rede. Em Juiz de Fora, recentemente, um cerco contra abuso sexual de crianças prendeu cinco supostos envolvidos no crime.
As denĂșncias de imagens de abuso e exploração sexual infantil aparentes na internet tambĂ©m estĂŁo atingindo novos recordes. Entre janeiro e setembro de 2023, a SaferNet reportou esse tipo de conteĂșdo Ă s autoridades 84% a mais ante o mesmo perĂodo do ano passado, sendo o total de 54.840 denĂșncias contra 29.809. A SaferNet informou que apenas denĂșncias novas, ou seja, links nunca antes reportados, sĂŁo encaminhadas aos procuradores do MinistĂ©rio PĂșblico Federal, parceiros desde 2005 nesta iniciativa.
Segundo Luciano Franco, presidente da ComissĂŁo da Criança e dos Adolescentes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), desde a criação da Lei 13441/2017, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) ampliou a proteção no ambiente virtual, por meio da infiltração de agentes da polĂcia com intuito de investigar crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes, mas essa atuação ainda encontra desafios. “Criou-se o arcabouço legal para garantir uma boa atuação dos agentes da polĂcia no ambiente virtual. Contudo, o grande problema Ă© o aparato tecnolĂłgico necessĂĄrio para que as polĂcias façam essa operação, bem como o treinamento e a disponibilidade desses agentes”, afirma.
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Protegendo os menores e enfrentando os abusadores
De acordo com informaçÔes do programa De Boa Na Rede do MinistĂ©rio da Justiça e Segurança PĂșblica, crianças e adolescentes estĂŁo expostos a agressores que falsamente constroem relacionamentos de amizade ou de cunho amoroso com os menores, atĂ© que passam a aliciĂĄ-los para obtenção de fotos ou vĂdeos que contenham nudez. Em seguida, tentam realizar algum tipo de exploração. Uma vez que o agressor convenceu esse jovem a enviar uma imagem que contĂ©m material de abuso sexual infantil, ele pode chantagear ou ameaçar divulgar a foto Ăntima com o objetivo de conseguir algo, como o envio de mais fotos, dinheiro ou o cumprimento de ordens. O termo utilizado para a prĂĄtica Ă© o de “Sextorção” e deve ser denunciado em uma delegacia ou neste site.
Como orienta Luciano Franco, Ă© preciso estar atento a comportamentos estranhos ou incomuns das crianças e adolescentes. “Algumas dicas sĂŁo verificar o aparecimento de nĂșmeros diferentes adicionados a agenda do telefone, novos aplicativos instalados, checar as mensagens trocadas nos chats e conferir as comunidades que seus filhos participam. Hoje os aparelhos celulares tambĂ©m possuem sistema de proteção familiar, onde o responsĂĄvel pode habilitar os acessos que seus filhos podem fazer no ambiente on-line.”
Excesso de exposição às telas
O programa tambĂ©m alerta para as perigosas consequĂȘncias de uma criança ou adolescente estar viciado em telas. Nesse caso, alguns sinais a serem observados sĂŁo isolamento social, desinteresse em sair de casa, permanecer por longo perĂodo em frente a dispositivos eletrĂŽnicos e dificuldade de iniciar ou finalizar tarefas. Para auxiliar nesse cenĂĄrio, pais e responsĂĄveis devem estabelecer diĂĄlogo e explicar sobre as mudanças notadas em seus filhos e a provĂĄvel relação com o excesso de exposição. Faz-se importante tambĂ©m estabelecer limites e ter alguĂ©m para supervisionar.
Para menores de 2 anos Ă© recomendado nenhum contato com telas, e apenas uma hora diĂĄria para crianças de 2 a 5 anos. JĂĄ dos 6 aos 10 anos, a orientação Ă© nĂŁo exceder duas horas de exposição. Adolescentes de 11 a 18 anos devem utilizar atĂ© trĂȘs horas por dia. AlĂ©m disso, hĂĄbitos e meios sociais que promovam a saĂșde, o lazer e a cultura fora do meio virtual sĂŁo de grande relevĂąncia e devem ser incentivados pela famĂlia.
Os jogos de videogame tambĂ©m precisam de controle parental. Alguns cuidados a serem tomados sĂŁo a seleção de faixas etĂĄrias permitidas Ă s crianças, monitoramento das compras digitais feitas, controle dos nĂveis de interação e trocas de dados com outros usuĂĄrios, alĂ©m de limitar o acesso Ă internet atravĂ©s dos filtros de aplicação.
Em caso de suspeita ou constatação de qualquer violĂȘncia sexual on-line Ă© preciso registrar a ocorrĂȘncia, para que a polĂcia especializada entre em atuação, sendo importante armazenar o maior nĂșmero de provas possĂvel. “O acompanhamento psicolĂłgico dessas crianças e adolescentes tambĂ©m Ă© muito importante para que possam passar, de forma menos danosa, por essa situação”, complementa Luciano Franco.
*Bruna Furtado, estagiĂĄria sob supervisĂŁo da editora FabĂola Costa