Juiz de Fora do futuro
Ao ser aberta em 2053, a cápsula do tempo, lacrada na última sexta-feira, vai revelar os fatos contemporâneos e as projeções da cidade ideal apontada pelos convidados a se manifestar
Como parte das comemorações dos 170 anos da Câmara Municipal, foi lacrada uma cápsula do tempo, a ser aberta em 2053, com registros de 2023 e considerações sobre qual cidade estará visível daqui a 30 anos, quando Juiz de Fora celebrará o seu bicentenário. Foram inseridos exemplares de jornais que estavam circulando e manifestações de órgãos de imprensa da cidade, envolvendo fotos de portais do dia e mensagens de jornalistas.
A cápsula conterá também redações, desenhos e textos de mais de 50 instituições de ensino da cidade. A Câmara utilizou também as redes sociais para colher depoimento de moradores dos diferentes bairros, contextos sociais e até mesmo juiz-foranos que moram em outras localidades. A prefeita Margarida Salomão e ex-prefeitos também se manifestaram, assim como os atuais e ex-vereadores.
A futurologia já é uma ciência, que atua baseada em dados e algoritmos, mas o viés humano é quem contará a história. Sob esse aspecto, os depoimentos foram múltiplos, baseados mais na perspectiva do desejo e da cidade ideal.
As diversas pesquisas envolvendo Juiz de Fora já revelam ser uma cidade boa de morar, por herdar as virtudes dos grandes centros sem ainda ter acumulado as suas mazelas. A despeito disso, a violência é um dado que preocupa a população, fruto não só dos episódios locais, mas do contexto nacional, especialmente das grandes cidades.
A pergunta sobre os próximos 30 anos é uma especulação, mas é possível discutir políticas atuais para se chegar a um futuro mais seguro. A mobilidade urbana é um desafio permanente, e como ela estará daqui a três décadas pode depender do que ora está sendo feito. As muitas discussões que passaram pelas páginas da Tribuna apontam para um lugar comum: redução do número de veículos, especialmente da área central, e opção prioritária pelo transporte público.
A segurança também é uma demanda que hoje se apresenta e que os convidados, ao se manifestarem, entendem ser outro desafio a ser, pelo menos, mitigado. Mas é na instância social que estão os atuais impasses que precisam ser resolvidos. É comum no discurso a defesa de uma cidade mais justa, mas na prática não há consenso, sobretudo pelo falso entendimento de ser uma questão a ser resolvida única e exclusivamente pelo Poder Municipal.
Juiz de Fora ainda tem um cenário mais estável se comparada com outros centros, mas tem suas demandas. A desigualdade é um tema comum no país e é um desafio a ser enfrentado ante as muitas inflexões impostas por essa pós-modernidade digital. Há meios mais sólidos para o seu enfrentamento, mas é preciso conscientizar os usuários da rede mundial que é possível, desde que todos cumpram uma parcela mínima de sua responsabilidade.
O mundo digital de 2053 já se antecipa com o avanço frenético da tecnologia, mas ainda é uma mera especulação ante os saltos da ciência. Durante a fase crítica da Covid-19, o mundo criou vacinas num período inimaginável até bem pouco tempo. Até então, falava-se em dez anos para se chegar a um antídoto. Em dois ele foi colocado em prática e tirou o planeta de uma tragédia que matou milhões de pessoas.
Como será em 2053? A pergunta a ser feita é o que estamos fazendo para chegar até lá. E aí está o grande impasse, já que, se muitos puxam para frente, há uma longa fila apostando no atraso.