Desigualdade gera violĂȘncia
Com a proximidade do momento de eleger nossos representantes, nos deparamos com vårias perguntas. Porém a mais cruel é definir um candidato sem conhecer seu caråter e suas ideias. Não é por culpa de alguém que temos essa dificuldade, mas sim pela grande desigualdade de oportunidades perpetuadas desde o descobrimento do Brasil.
A culpa Ă© dos portugueses? Claro que nĂŁo! Infelizmente nĂŁo conseguimos atĂ© hoje acabar com as desigualdades gritantes em nosso paĂs. O momento da eleição Ă© oportuno para tentarmos entender os motivos reais de nossas diferenças de opiniĂ”es, nossos medos e desejos, pois acredito que todos queremos um Brasil melhor, mais justo e mais social. Uma das causas da violĂȘncia nĂŁo Ă© a falta de armas para a população, mas sim a falta das necessidades bĂĄsicas que faz com que coirmĂŁos e coirmĂŁs brasileiros tenham que ligar o botĂŁo do instinto para tentar sobreviver, Ă s vezes praticando atos que com certeza nunca fariam se tivessem o mĂnimo para viver com dignidade. E aqui eu insisto na palavra sobrevivĂȘncia, e nĂŁo em âcurtir a vidaâ, como muitos acham.
NĂŁo precisamos ir muito longe para enxergar a raiz do problema. A classificação do IBGE determina que negros sĂŁo os indivĂduos que correspondem ao grupo formado por pessoas pretas e pardas. EntĂŁo vamos seguir. Se vocĂȘ no inĂcio da pandemia pĂŽde ficar em casa em home office, vocĂȘ provavelmente Ă© branco. Se teve que pegar dois ĂŽnibus e ir trabalhar para um patrĂŁo, provavelmente Ă© negro. Se vocĂȘ enche o carrinho no supermercado, Ă©, geralmente branco. Se estĂĄ sentado no caixa escaneando os produtos, negro. Se vocĂȘ Ă© um polĂtico ou chefe de uma empresa, provavelmente, branco. Se trabalha recolhendo o lixo ou varrendo as ruas, Ă©, geralmente, negro. Se estĂĄ presa, vocĂȘ Ă© provavelmente negra; se estĂĄ lendo um jornal Ă©, com grande certeza, branca.
Os exemplos sĂŁo infinitos para uma sociedade que se acostumou a ver o negro como um invisĂvel e inferior. Se estiver em um shopping e o segurança abordar vocĂȘ, provavelmente Ă© negro. Se o cumprimentar, Ă© geralmente branco. Se estiver chegando a uma escola da periferia, tem grande chance de ser negro. Se papai estiver buscando vocĂȘ de carro num colĂ©gio particular, Ă©, na grande maioria, branco. Os brancos foram acostumados a tratar os negros como serviçais e invisĂveis, jĂĄ os negros foram culturalmente treinados durante muito sĂ©culos a respeitar e nĂŁo âatrapalharâ os brancos. Teoricamente, se a situação fosse inversa, jĂĄ terĂamos uma revolução no paĂs.
EntĂŁo, para escolhermos nossos representantes, Ă© preciso entendermos o contexto histĂłrico e escolher polĂticos que nos representem.
EntĂŁo, por que num Brasil com mais de 56% da população negra nĂŁo temos negros nos cargos altos? Por que negros nĂŁo votam em negros que lhes representem? Historicamente Ă© necessĂĄrio quebrarmos a barreira cultural que foi gravada a ferro e fogo na alma dos nossos antepassados negros: âBranco Ă© quem manda por ser superior, e negro Ă© quem roubaâ. NĂŁo, meus compatriotas! Isso foi o que quiseram que acreditĂĄssemos, mas isso nĂŁo Ă© verdade! Cor da pele nĂŁo Ă© determinante, mas vem, sim, desde os tempos da escravidĂŁo impregnando nossas mentes e gerando desconfiança entre nĂłs, irmĂŁos e irmĂŁs brasileiros, com o Ășnico objetivo: manter os privilĂ©gios!
A mudança acontecerĂĄ de baixo para cima, no melhor voto, no voto consciente e buscando colocar no poder quem realmente nos representa ou em quem acreditamos que farĂĄ as mudanças que 100% dos brasileiros e brasileiras precisam. Isto Ă©, um paĂs mais igualitĂĄrio, sem pobreza extrema e com chances iguais para todos. Enquanto nĂŁo criarmos condiçÔes para sermos, todos, uma grande famĂlia, estaremos perpetuando a violĂȘncia e desperdiçando talentos para um paĂs mais prĂłspero. EntĂŁo, vamos escolher bem nossos representantes. Interesse-se pela polĂtica, ela define sua vida!