Ao contrário do que o sexismo buscou (e busca) instituir para vestimentas tidas como femininas, com bolsos minúsculos ou decorativos, gosto de pensar que ando sempre com bolsos grandes e profundos. Ainda que vestida com outra coisa ou pelada de tudo.
É que aprecio igualmente a ideia de que carrego quem mais amo ao alcance da mão, disponível assim, sem cerimônia ou dificuldade. Para puxar numa lembrança displicente, no meio do expediente, de uma cena engraçada que só a pessoa entenderia. Ou na (re) afirmação de companhia em momentos doídos: “mesmo longe, estou com você.” (Afinal, te carrego no bolso).
Sou fã do mistério de bolsos internos de blazers, acho vestido de festa com bolso o auge do chique e qual a utilidade de uma bolsa sem muitos bolsinhos internos, de todos os tamanhos e as mais diversas finalidades?
Além disso, nada melhor do que encontrar na jaqueta de invernos passados uma nota embolada que sempre esteve ali, perdida num buraco aparentemente inofensivo do bolso. Eu que não sou besta nem rica logo dou falta de dinheiro, mas diante do sumiço tido como irremediável, resta a conformação, dá-se um jeito e a vida segue.
Mas a felicidade de encontrar uns trocos num bolso de roupa, sejam dez ou cem reais, é tão genuína que quase faz a gente acreditar em golpes de sorte, universo conspirando a favor e outras bobagens. É como reencontrar amizades que a gente dava por perdidas, por desentendimentos de que a gente não se lembra, varreu pra baixo do tapete, ou já não se recorda mais por que diabos. Até que um dia brotam no bolso, prontas para reajustar seu valor em novas histórias e produzir futuras lembranças.
Gosto de me imaginar com bolsos largos e grandes. Que é sempre pra ter a sorte de talvez encontrar dinheiro ou gente dada como perdida.
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