‘Gente que fez a Tribuna’: um mergulho no cinema com Carlos Pernisa JĂșnior
Em celebração aos 40 anos da Tribuna, 40 profissionais que jĂĄ passaram pelo jornal compartilham suas memĂłrias, publicadas no portal, de 7 de julho a 31 de agosto, em contagem regressiva para o aniversĂĄrio da Tribuna, no dia 1Âș de setembro
Uma breve lembrança de algo muito especial para mim
Carlos Pernisa JĂșnior, trabalhou na Tribuna entre 1996 e 2000
Lembrar da minha passagem pela Tribuna de Minas Ă© sempre reavivar na memĂłria um acontecimento especial na minha vida. JĂĄ havia trabalhado antes em diversos locais de imprensa de Juiz de Fora, quando retornei ao jornal, desta vez como contratado do quadro. JĂĄ havia estado na casa por um breve perĂodo, quando cobri as fĂ©rias do entĂŁo editor de Esportes, Ivan Elias. Era alguĂ©m que estava se formando e fiquei como repĂłrter da editoria por dois meses mais ou menos. Na minha volta Ă Tribuna, era o responsĂĄvel pela coluna de serviços do Caderno Dois, mas a editora, Katia Dias, perguntou se eu faria um texto sobre um filme que estava sendo lançado naquela Ă©poca em Juiz de Fora. Eu sempre gostei de cinema e havia feito um mestrado com alguma ĂȘnfase na ĂĄrea, por isso nĂŁo foi difĂcil aceitar a proposta. NĂŁo fazia textos para o jornal, mas achei que seria uma oportunidade de fazer algo mais interessante do que a coluna de serviços.
SaĂ para ver o filme e fazer a matĂ©ria. NĂŁo sabia bem o que ia dar. Resolvi nĂŁo sĂł ver a sessĂŁo, mas tambĂ©m observar as pessoas que estavam assistindo. Era um filme sobre a Copa do Mundo de Futebol de 1994, vencida pelo Brasil, chamado Todos os coraçÔes do mundo (Two Billion Hearts, Murilo Salles, 1995), em que a perspectiva principal nĂŁo estava no campo de jogo, mas nas torcidas dos vĂĄrios paĂses. Esse olhar para os torcedores me fez olhar para os espectadores, possivelmente. Entrevistei alguns apĂłs a sessĂŁo para saber como se sentiram, afinal todos jĂĄ sabiam do resultado da Copa do Mundo, pois estĂĄvamos em 1996, ano do lançamento do filme em terras brasileiras. Mesmo assim, vĂĄrios disseram que torceram durante o filme e que tinha algo nele que fazia com que fosse especial, ainda que alguns nĂŁo tivessem gostado.
Aproveitei este mote e fiz, ao mesmo tempo, uma matĂ©ria sobre o filme e tambĂ©m uma parte com a reação do pĂșblico. Ficou um texto bastante longo e achei que a editora nĂŁo fosse aprovar. Para minha surpresa, ela nĂŁo sĂł aprovou o texto como o colocou na primeira pĂĄgina do Caderno Dois e ainda deu espaço para o restante do material na segunda. Foi minha primeira reportagem publicada. Fico emocionado quando me lembro e agradeço muito a Katia Dias por esta oportunidade.
AlĂ©m desta lembrança, guardo tambĂ©m uma fala do editor de Esportes, Ivan Elias, que entrevistei sobre o filme e que me fez uma pergunta depois que a matĂ©ria foi publicada. Ele quis saber porque eu coloquei a opiniĂŁo de tanta gente sobre o filme e nĂŁo fiz uma crĂtica na minha matĂ©ria, pois em momento algum coloquei minha impressĂŁo sobre o que eu vi. Respondi que nĂŁo estava fazendo uma crĂtica e que, mesmo que fosse para fazer isso, nĂŁo colocaria a minha opiniĂŁo. Sempre me lembro de uma passagem de Gilles Deleuze falando de La rampe, de Serge Daney, em que a crĂtica de cinema nĂŁo estava na impressĂŁo que o filme causava em quem estava escrevendo, mas muito mais na possibilidade de o crĂtico deixar para o espectador espaço para que ele visse o filme e tirasse suas impressĂ”es. NĂŁo era para dizer se a obra era boa ou ruim, era mais para chamar a atenção para o espectador ir ao cinema ver o filme. Para que ele tirasse suas prĂłprias impressĂ”es do que viu.
TĂłpicos: tribuna 40 anos