Seis HQs para quem não acompanha HQs
Tribuna lista seis sugestões de quadrinhos clássicos para quem não tem tempo, dinheiro ou paciência para acompanhar a cronologia
Os super-heróis das histórias em quadrinhos ganharam o mundo não por conta do que acontece nas páginas das revistas, mas graças à tela do cinema. Personagens como o Homem de Ferro, Batman, Capitão América, Coringa e Pantera Negra se tornaram ícones da cultura pop ou ficaram ainda mais populares, a ponto de vários filmes estrelados pelos personagens ultrapassarem a marca do bilhão de dólares em bilheteria mundial.
Ao mesmo tempo, entretanto, quem pegou o bonde dos super-heróis no meio da viagem pode ficar perdido caso decida se aventurar pelo universo dos quadrinhos. Por onde começar? O que ler? Como não ficar perdido nesse multiverso que tem sua continuidade toda própria, cheia de reboots, retcons e histórias que só serão entendidas se você tiver lido aquela HQ de 1973 em que fulaninho salvou o universo morrendo e ressuscitando 17 edições depois? Não podemos esquecer, ainda, de quem não tem dinheiro, tempo ou paciência para comprar tudo que existe, mas gostaria de ler uma revista daquele personagem que gostou de ver no cinema.
Para sorte dos iniciados, existem várias HQs em edições únicas com histórias isoladas e que não carecem de conhecimento enciclopédico – muitas, aliás, nem fazem parte do universo mainstream dos super-heróis. A Tribuna aproveita para indicar aos neófitos seis quadrinhos com clássicos da nona arte que cabem em apenas uma revista. São obras escritas e desenhadas por alguns dos maiores mestres do gênero, como Stan Lee, Bill Sienkiewcz, Alan Moore, Frank Miller, Grant Morrison e Moebius.
Para o alto e avante, ora pois.
Surfista Prateado, “Parábola”
(Stan Lee e Moebius)
A graphic novel da Marvel reúne dois dos maiores nomes dos quadrinhos de todos os tempos. Stan Lee é um dos responsáveis pela criação do Universo Marvel, enquanto o francês Moebius era um dos titãs das histórias em quadrinhos feitas na Europa. Aqui, eles se unem para contar uma fábula estrelada pelo personagem preferido de Lee, o Surfista Prateado, em um futuro distante em que Galactus, o Devorador de Mundos, chega à Terra jurando não querer devorar o planeta, mas prometendo um mundo melhor para seus habitantes caso seja adorado como um deus. O Surfista, porém, conhece muito bem seu antigo mestre, e sai do ostracismo para alertar a humanidade sobre os propósitos ocultos do alienígena.
X-Men, “Deus ama, o homem mata”
(Chris Claremont e Brent Eric Anderson)
Um dos grandes momentos do roteirista Chris Claremont com os X-Men, que se tornaram a equipe de heróis mais popular da Marvel nos anos 80 graças a ele. Inspirado pelos conceitos originais de Stan Lee, Claremont escreveu para a Marvel uma das melhores histórias sobre preconceito já feitas nos quadrinhos, acompanhada pela arte de Brent Anderson. A trama mostra os X-Men precisando se aliar ao seu maior inimigo, Magneto, para enfrentar um fundamentalista religioso que acredita que o mundo deve ser “purificado” da existência dos mutantes, que a seus olhos são uma aberração que vai contra os desígnios divinos.
“WE3 – Instinto de sobrevivência”
(Grant Morrison e Frank Quitely)
O escocês Grant Morrison é um obcecado pelas possibilidades narrativas e de temas que podem chegar aos leitores por meio dos quadrinhos, e “WE3 – Instinto de sobrevivência” é uma das melhores provas de seu talento nessa busca. A minissérie em cinco edições, publicada nos Estados Unidos pela Vertigo (antigo selo adulto da DC Comics), conta com os desenhos do conterrâneo Frank Quitely e é a única da lista que não integra o universo da Marvel ou DC. Ela tem como protagonistas um cachorro, um coelho e um gato que são transformados em máquinas assassinas em um projeto secreto do governo norte-americano. Porém, quando esse mesmo governo decide acabar com o programa (e matá-los), os animais, amedrontados com a crueldade humana, decidem fugir e passam a lutar pela sobrevivência. Um libelo contra a crueldade com os animais escrita de forma magistral e com a arte genial de Quitely.
Demolidor, “Amor e Guerra”
(Frank Miller e Bill Sienkiewicz)
Frank Miller já havia feito praticamente de tudo com o Demolidor, incluindo aí o arco “A queda de Murdock”, quando realizou o seu primeiro trabalho em parceira com Bill Sienkiewicz (“Novos Mutantes”, “Cavaleiro da Lua”), que revolucionou os quadrinhos dos anos 80 com suas experimentações na área da ilustração – e que levou esse trabalho ao ápice na graphic novel da Marvel. Em uma história com vários protagonistas, o Rei do Crime contrata um psicopata para sequestrar a esposa de um renomado psiquiatra. O objetivo é que o profissional se dedique exclusivamente à mulher do criminoso, Vanessa, que está catatônica. Caberá ao Demolidor tentar encontrar o cativeiro do sequestrador e libertar a vítima.
Batman, “A piada mortal”
(Alan Moore e Brian Bolland)
“A piada mortal” traz um dois mais memoráveis confronto entre o Cavaleiro das Trevas e o Coringa. Na história escrita por Alan Moore e ilustrada por Brian Bolland, o Palhaço do Crime quer provar ao Batman que mesmo o melhor dos homens pode enlouquecer; para isso, basta ter um dia ruim. Apenas um. A fim de provar sua teoria, ele sequestra o Comissário Gordon e atira na filha do policial, Barbara, em uma das cenas mais brutais da história dos quadrinhos. Moore apresenta, ainda, uma origem para o Coringa que foi considerada a “oficial” por muitos anos, e ainda entregou um desfecho que até hoje não tem resposta: afinal, o Batman matou ou não matou seu maior inimigo?
“Grandes astros: Superman”
(Grant Morrison e Frank Quitely)
Os escoceses Grant Morrison e Frank Quitely já realizaram grandes projetos em parceria, e para muitos “Grande astros: Superman” é a obra-prima da dupla. Certamente, é uma das melhores HQs não apenas do Superman, mas de toda a história da nona arte. Na minissérie de 12 edições, Morrison e Quitely homenageiam o último filho de Krypton e os quadrinhos da Eras de Ouro e de Prata, com uma história leve, divertida, otimista e emocionante, que passeia por várias referências a antigas histórias do Homem de Aço, que mesmo ciente da proximidade da morte faz aquilo que sabe fazer de melhor: ser um exemplo de tudo de bom que há na humanidade. Simplesmente fabulosa.