Novos álbuns de Foo Fighters e Weezer, e o adeus do Daft Punk
Oi, gente.
Retornamos do hiato carnavalesco com duas boas notícias, os novos (e bons) álbuns do Foo Fighters e do Weezer. Porém, tristeza não tem fim, felicidade sim, e daí que os franceses do Daft Punk resolveram pendurar os capacetes e todo mundo ficou tristão, tal e qual aquela antiga música do “Preto com um buraco no meio”, do Casseta e Planeta. Mas poderia ser pior, convenhamos, imagine no lugar o anúncio de uma turnê mundial reunindo Creed e Nickelback com cinco datas sold out em Jufas.
Vamos às boas notícias primeiro, começando com “Medicine at midnight”, décimo álbum do Foo Fighters. Dave Grohl, o Gustavo Kuerten do rock, declarou em várias entrevistas que o trabalho deveria ter sido lançado em 2020 para comemorar os 25 anos da banda, com direito a turnê, muita festa… mas aí veio a pandemia, tudo parou e resolveram segurar o disco, mas aí ele achou que não dava para esperar mais e pronto, taí “Medicine at Midnight”, que é o tão prometido “álbum dançante” do grupo.
E que disquinho bom, ah migos e ah migas. O FF havia chegado a um outro patamar, como diria certo jogador de futebol, com aquela belezura chamada “Wasting light” (2011), que ouvimos até as notas musicais mesclarem-se ao nosso DNA musical. Depois, porém, Dave Grohl e seus capangas não conseguiram repetir a magia; “Sonic highways” tem bons momentos, mas nem consigo lembrar do que havia em “Concrete and gold”.
“Medicine at midnight” chega em boa hora. O novo álbum do Foo Fighters é pop, é rock, é dançante, tem uns grooves de funk ali e acolá, é o tipo de música nova que precisávamos ouvir nesses dias tão bicudos. Não tem nenhuma pancadaria clássica do grupo, tipo “Monkey wrench”, mas sabe equilibrar os elementos de “música de festa” com a mistura de rock pesado e pop típica da banda.
Se tivermos que destacar alguma coisa entre as nove faixas, temos lá “Love dies young”, a faixa-título, “Making a fire” e “Cloudspotter”, além da balada “Chasing birds”. Nem tudo é perfeição em “Medicine at midnight”, mas o ouvinte pode dar uma nota 8 para o trabalho sem medo de se arrepender no futuro.
Ao mesmo tempo, descobrir que o Weezer havia lançado mais um trabalho trouxe a reboque aquela sensação de “lá vamos nós ter que falar mal de novo”. A trajetória da banda de Rivers Cuomo é complicada, pois os dois primeiros álbuns são verdadeiras obras-primas, e o “Green Album” tem “Hash pipe”, “Island in the sun” e outras músicas que gostamos tanto. Depois dessa trinca, todavia, a banda manteve uma legião de fãs devotos até a medula, mas este que vos escreve nunca viu graça em toda a sequência de “álbuns coloridos”, incluindo o de covers, ou aquele com o Jorge Garcia na capa etc.
Mas precisamos dar o crédito a Rivers Cuomo. Ele nunca se rendeu ao conforto de repetir “Pinkerton” ao infinito, sempre fez o que deu na telha. Fossem álbuns inspirados em hard rock fuleiro, com sintetizadores ou piadinhas que só abanda ou fãs entenderiam, ele seguiu na sua cruzada de ser fiel às suas vontades. E é o que temos em “OK human”, que provavelmente é o melhor disco do quarteto desde o “Green Album”.
O trabalho é pop como acredito que o Weezer jamais tenha sido, com arranjos de cordas e um jeitão Beach Boys em certos momentos; em outros – principalmente por causa da orquestra convidada -, até parece que tivemos um encontro tardio com o finado Phil Spector.
Isso posto, vale lembrar quem nem tudo brilha em “OK human”, mas os bons momentos compensam os deslizes que existem nas dez faixas, que ocupam apenas 30 minutos de nossas vidas. “All my favourite songs” é delicinha musical, e “Numbers”, “Playing my piano”, “Screens” e “La Brea Tar Pits” também rolam macias nos fones de ouvido.
Depois de tantas decepções sonoras, é bom ver que o Weezer é capaz de nos surpreender positivamente.
Por fim, veio a notícia, na última segunda-feira, do fim do Daft Punk. Guy-Manuel de Homem-Christo (melhor nome artístico ever) e Thomas Bangalter divulgaram um vídeo de 8 minutos no canal do Daft Punk no YouTube que é o “até logo, e obrigado pelos peixes” do grupo mais f*** dos últimos anos, no mínimo, se não for a melhor de todos os tempos, e aí não faltou gente pelas redes sociais a lamentar e chorar o encerramento da lojinha aberta pela dupla francesa em 1993.
Com apenas quatro álbuns de estúdio – além das duas trilhas sonoras -, a dupla tem clássicos que ficarão por aí até o sol consumir o que restar do planeta: “Around the world”, “Get lucky”, “Robot rock”, “One more time”, “Technologic”, “Giorgio by Moroder”, “Revolution 909”, “Da funk”, “Harder, better, faster, stronger”, “Lose yourself to dance”, “Human after all”, “Digital love”…
A nossa memória afetiva/musical ficou a queimar os neurônios e chegou até 1997, quando assistimos pela primeira vez ao clássico vídeo de “Around the world” – motivo suficiente para correr até a loja e adquirir ao primeiro CD da dupla, “Homework”. Outras lembranças, lá para 1998/1999, são dos vídeos que passavam no MCM, uma espécie de “MTV francesa” que tinha no line-up da Tecsat, a versão “primo pobre do Kassin” à Sky e DirecTV. O Daft Punk era presença constante na programação, assim como outros artistas do cenário eletrônico francês, caso do Super Discount (vai lá ouvir “Prix choc” só para ter uma amostra grátis).
O Daft Punk vai fazer falta? Certamente, mas é melhor ter uma despedida digna – como fez o R.E.M. em 2011 – que ficar por aí vivendo de glórias passadas ou virar pastiche de si mesmo, o que rola com tantas bandas e artistas que seguem a arrastar seus cadáveres musicais. A dupla é fruto de uma época que nos deu nomes como Underworld, Chemical Brothers, Roni Size, Fatboy Slim, Orbital, Banco de Gaia, Goldie, Apollo 440 e, assim como essa galera, seguiu os passos do Kraftwerk para levar a música eletrônica a novas fronteiras.
Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.