PolĂcia Civil apura denĂșncia de venda de vagas para cirurgia pelo SUS
FamĂlia de adolescente teria sido abordada por suposta instrumentadora, que se ofereceu para agilizar procedimento por dinheiro
A PolĂcia Civil instaurou inquĂ©rito para apurar uma suspeita de cobrança indevida para que um paciente do Sistema Ănico de SaĂșde (SUS) conseguisse ter sua cirurgia agilizada. Segundo a delegada Ione Barbosa, titular da 4ÂȘ Delegacia, a famĂlia da vĂtima, um rapaz de 17 anos residente em Guarani, procurou a polĂcia depois de desconfiar da situação em que uma mulher que se passou por suposta instrumentadora da Santa Casa de MisericĂłrdia de Juiz de Fora teria se oferecido para agilizar o procedimento em troca de um valor em dinheiro. Em nota, o hospital informou que abriu investigação para apurar a situação, e que repudia todo e qualquer ato de improbidade, principalmente, envolvendo os pacientes do SUS. TambĂ©m segundo o hospital, a mulher investigada nĂŁo Ă© funcionĂĄria do hospital.
A tia do adolescente, que terĂĄ sua identidade preservada, relatou Ă Tribuna que o rapaz tem um projĂ©til alojado na coluna cervical desde 11 de dezembro. A partir de entĂŁo, a famĂlia vem buscando meios de viabilizar uma cirurgia para a retirada da bala. “Meu sobrinho ficou paraplĂ©gico, e decidimos levĂĄ-lo para uma consulta em Juiz de Fora para termos uma segunda opiniĂŁo mĂ©dica. De acordo com o neurocirurgiĂŁo que o consultou, com a retirada da bala hĂĄ chances de ele readquirir os movimentos. EntĂŁo, estamos correndo atrĂĄs da cirurgia”, conta.
Quando veio a Juiz de Fora, a mulher pagou R$ 400 pela consulta com o especialista, em uma clĂnica particular. “Nessa consulta o mĂ©dico nos deu uma guia e garantiu que a cirurgia seria feita pelo SUS, na Santa Casa. NĂłs tĂnhamos apenas que dar entrada pela Secretaria de SaĂșde (da Prefeitura de Guarani)”. A mulher narra que fez o que foi orientada e aguardou retorno por quase dois meses. PorĂ©m, com a demora, e diante do sofrimento do sobrinho, ela entrou novamente em contato com a clĂnica na tentativa de conseguir uma previsĂŁo para o procedimento do jovem.
“Foi aĂ que nos passaram o contato dessa mulher, que diz se chamar Regina. Ela me falou que iria conseguir a cirurgia para o meu sobrinho, e me perguntou quanto eu tinha ‘em mĂŁos’ para ela adiantar Ă ela. NĂłs nĂŁo tĂnhamos nada, mas eu chutei R$ 4 mil porque achei que era uma valor que dava para a gente juntar rĂĄpido. EntĂŁo ela disse que estava fechado e que era para entregarmos o dinheiro na casa dela.”
Diante das incoerĂȘncias e da desconfiança, a famĂlia do rapaz recorreu Ă advogada Teresinha Bento, que chegou a conversar por telefone com a mulher. Segundo Teresinha, a suspeita disse ser instrumentadora assistente do cirurgiĂŁo e que atuava dentro da Santa Casa. A advogada chegou a se passar por parente do rapaz para negociar com a mulher e apurar a situação. “Ela tentou nos convencer de que precisarĂamos pagar pela cirurgia para agilizar o processo, porque pelo SUS Ă© mais demorado. Mas pedia para nunca comentar que tinha dinheiro nessa histĂłria, para falarmos em ‘facilitação’. TambĂ©m orientou que quando o rapaz fosse internado nĂŁo falasse sobre isso dentro do hospital com ninguĂ©m”.
A advogada afirma que em nenhum momento houve contato da famĂlia com pessoas diretamente ligadas ao hospital. “Acreditamos que a Santa Casa e a clĂnica nĂŁo participam desse golpe. Ao que parece, ela age sozinha para extorquir dinheiro das pessoas. Mas isso somente a investigação vai mostrar.”
Hospital vai investigar caso
Em nota encaminhada Ă Tribuna, a Santa Casa de MisericĂłrdia de Juiz de Fora afirmou que a mulher nĂŁo Ă© funcionĂĄria do hospital, “apenas presta serviço para um mĂ©dico, e jĂĄ estĂĄ suspensa de suas atividades, tendo sua entrada na instituição vetada.”
O texto ainda diz que apĂłs tomar conhecimento da denĂșncia, a unidade abriu uma investigação para apurar todos os fatos e tomar todas as providĂȘncias cabĂveis. “De antemĂŁo, pedimos desculpas a todos que direta ou indiretamente foram lesados e informamos que revisaremos nossos processos, para que situaçÔes como essa nĂŁo se repitam.”
Ainda conforme a Santa Casa, a profissional, alvo das denĂșncias, cita em ĂĄudio que o nome da vĂtima em questĂŁo ‘estĂĄ no sistema’. O hospital esclareceu que o nome do paciente constava no sistema pois, de fato, “a cirurgia estava prevista para acontecer pelo SUS, gratuitamente, sem a interferĂȘncia da instrumentadora. A Secretaria de SaĂșde de Guarani cadastrou o laudo na Secretaria de SaĂșde de Juiz de Fora, que solicitou a vaga para cirurgia, demanda que foi atendida pela Santa Casa JF e, assim, o hospital deu andamento aos trĂąmites para a realização dos procedimentos.”
Conforme familiares do rapaz, o jovem darå entrada na unidade nesta sexta-feira (5). A cirurgia foi agendada para a próxima terça-feira (9).
GravaçÔes passarĂŁo por perĂcia
Segundo a delegada Ione Barbosa, foram apreendidos ĂĄudios da mulher, que citam, inclusive, nomes de diversos mĂ©dicos. As gravaçÔes passarĂŁo por perĂcia. Apesar de uma Ășnica denĂșncia ter sido feita atĂ© entĂŁo, Ione acredita que outras vĂtimas do suposto golpe aparecerĂŁo. Conforme a delegada, uma testemunha do caso serĂĄ ouvida nesta sexta.
A suposta instrumentadora ainda nĂŁo foi encontrada pela polĂcia, e a delegada vai intimar os responsĂĄveis pela clĂnica. A princĂpio, o crime serĂĄ enquadrado como estelionato, mas, como explicou Ione, pode haver outros delitos.
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