Pequenos incĂȘndios por toda parte
O tapete de brincar da criança tem vĂĄrios animais estampados. O contato com eles ajuda a mostrar um pouco a respeito do mundo que a pequena vai conhecer. Os bichos e seus barulhos sĂŁo inseridos no imaginĂĄrio dela desde o princĂpio. Fazem parte das primeiras brincadeiras, estĂŁo nas fĂĄbulas dos livros, nas histĂłrias simples, nos sons dos brinquedos que soam na cabeça dos pais o dia todo.
As espécies de carne e osso que conseguimos nomear e enumerar de cabeça, e outras milhares, estão fugindo do fogo nesse momento. Fogo que o homem manipula totalmente consciente. As imagens aterrorizantes do cemitério a céu aberto se multiplicam nas redes sociais. Nos deixam sem fÎlego e sem esperança. à preciso encarå-las. à preciso ter vergonha.
O movimento de negação Ă© cruel. O Pantanal e a AmazĂŽnia parecem estar muito distantes, mas por aqui a coisa nĂŁo Ă© muito diferente. A mancha cinza se espalha por todo lado. HĂĄ tempos, perdi a conta de quantos focos conseguia observar por dia. O Corpo de Bombeiros registrou aumento de 130% nas ocorrĂȘncias de incĂȘndio na cidade. Mas a indignação esteve sempre presente desde a primeira queimada da estação. Agora encaro, todos os dias, uma nuvem cinza que nĂŁo se dissipa. Me assusta que ela se mantenha hĂĄ tantos dias presente.
Como Ă© possĂvel que as pessoas nĂŁo consigam pensar sobre as consequĂȘncias? Como elas nĂŁo entendem que a soma do clima seco com fogo nĂŁo tem como resultar em uma equação positiva? Que a limpeza com fogo sĂł Ă© feita quando se tem controle de toda a ĂĄrea e de todo o processo? Essas e muitas outras perguntas ficam flutuando na cabeça, como a fuligem que marca os passeios nas ruas.
O pior é saber que a queimada de agora vai causar problemas mais sérios à frente. Uma onda sistemåtica de problemas que só vai agravar as muitas dificuldades que jå estamos passando. Não hå nada que se possa apontar de positivo nesse quadro.
Ao cidadĂŁo, resta a responsabilidade de denunciar, de cobrar fiscalização das autoridades responsĂĄveis, pressionar o poder pĂșblico para que nĂŁo se omita e assuma uma postura mais ativa e propositiva no combate Ă pratica.
Acima de tudo, Ă© importante que façamos um exercĂcio duro, do qual nĂŁo podemos fugir: como vamos contar Ă s crianças, que somos os principais responsĂĄveis pelo extermĂnio em massa dos animais com os quais elas aprendem desde pequenas? O que vamos ter a dizer a elas, quando questionarem porque deixamos tudo isso acontecer? Como vamos apagar os pequenos incĂȘndios que estĂŁo por toda parte?