Páscoa atípica provoca mudanças no comércio de JF
Supermercados lançam promoções, assim com as lojas especializadas em produtos típicos, que passaram a oferecer descontos e serviço de delivery
Faltando poucos dias para a Páscoa, o cenário observado no comércio e nos supermercados da cidade é bem diferente do que era visto em anos anteriores. Por razões óbvias, a pandemia e o isolamento social trouxeram mudanças significativas na forma como o juiz-forano vai passar a data. Por outro lado, os consumidores estão encontrando preços mais acessíveis por conta de promoções e descontos oferecidos pelas lojas e vantagens como a entrega gratuita, promovida por parte dos estabelecimentos.
Antes do coronavírus, a expectativa da Associação Mineira de Supermercados (Amis) para a Páscoa era muito otimista. “Esperávamos um crescimento de 10% em relação a 2019, mas isso não vai acontecer. Diante deste novo cenário, os produtos sazonais, como ovos, chocolates, azeites, azeitonas e o bacalhau, além de pescados, acabaram entrando em uma linha de desconto. Os ovos de chocolate, em especial, sofreram uma rebaixa de preços antecipada por parte das fábricas, com descontos no ponto de venda que variam de 20% a 50%”, ressalta o vice-presidente regional da Amis em Juiz de Fora, Álvaro Pereira Lage.
Para ele, as promoções nos produtos sazonais podem atrair as pessoas para as lojas. “Todos estavam preparados para a data, inclusive, não tivemos cancelamentos de pedidos pois tudo é comprado com bastante antecedência. O que vemos agora é um esforço em conjunto feito pela indústria e o varejo para evitar problemas maiores e conseguir vender os produtos que estão nos pontos, favorecendo o consumidor.”
No comércio de forma geral, a projeção de crescimento feita pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Juiz de Fora (CDL/JF) para a Páscoa de 2020 girava em torno de 3% a 4% em relação ao ano passado. Agora, o que se vê, conforme o presidente da CDL/JF, Marcos Casarin, são os empresários se movimentando para escoar o estoque perecível. “A Páscoa virou um caso em que todos nós vamos precisar nos reinventar e criar alternativas, sobretudo as lojas especializadas nos chocolates. Acreditávamos que teríamos uma Páscoa mais positiva, pois tudo caminhava para uma retomada da economia”, lamenta.
Os impactos financeiros provocados pelas medidas de combate ao novo coronavírus trouxeram um fato novo: boa parte da população não poderá comprar os produtos de Páscoa. “Cada loja tem o seu cliente e o seu público, por isso, é a hora de partir para uma venda que não tenha o lucro como principal objetivo. Vale lançar descontos atrativos, que sejam bons para as duas partes: cliente e lojista”, comenta Casarin.
A pandemia também refletiu na rotina da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Agropecuária (Sedeta) da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF). A pasta, responsável por realizar anualmente a pesquisa de preços dos produtos típicos para orientar e auxiliar os consumidores nas compras, suspendeu essa atividade em virtude da redução de equipes nas ruas e dificuldades de envio dos dados por parte dos estabelecimentos. Assim, os números relativos à Pascoa de 2020 ficarão em aberto.
Lojistas apostam em promoções e delivery
Na impossibilidade de as pessoas circularem pelo Centro e shoppings, a alternativa encontrada pela empresária Lúcia Rocha Barbosa, franqueada da Cacau Show em Juiz de Fora, foi, além de seguir a política de descontos da rede, manter vendas pelas redes sociais e telefone. “Temos trabalhado muito com as mídias digitais, WhatsApp, e-commerce e delivery, tentando entregar num prazo rápido, de 24 a 48 horas. É tudo muito novo, pois o nosso cliente sempre teve o costume de ir até as lojas. Evidentemente não teremos uma Páscoa como a gente planejou, mas estamos caminhando”, ressalta Lúcia, acrescentando que a data representa cerca de 30% do faturamento anual da rede.
A empresária conta que a procura pelos chocolates começou de forma mais intensa na última segunda-feira (6). Ela tem optado por manter três lojas do Centro abertas para a retirada dos produtos e, nas unidades presentes nos shoppings Jardim Norte, Independência e Alameda, no esquema de drive-thru. “A franquia já estava oferecendo alguns descontos, a novidade é que, a partir desta quarta-feira (8), vamos operar com 50% na compra do segundo ovo”, adianta.
Já que o assunto é se reinventar para enfrentar o momento, a Pipita, lanchonete e bomboniere, criou, pela primeira vez, um catálogo digital dos produtos para facilitar o atendimento pelas redes sociais e Whatsapp. Além disso, a loja está realizando o delivery com todo o cuidado. O mesmo está sendo feito pelos donos, em carro próprio.
“Diariamente fomos aprendendo como fazer esse tipo de divulgação e atendimento. Os valores de entrega foram flexibilizados de acordo com o pedido. Também fizemos uma promoção para quando tudo retomar. Nas compras de chocolates acima de R$ 150, o cliente ganha um lanche na loja pra ele e outro para presentear. Pensamos como a nossa família gostaria de ser atendida nesse momento. O chocolate pode aproximar as pessoas que estão distantes fisicamente neste isolamento”, conta a sócia da Pipita, Carolina Resende.
Dólar alto freou as compras de bacalhau
O bacalhau é a escolha de muitas famílias para o almoço da Sexta-feira Santa e para o de domingo de Páscoa. Mas, neste ano, os estoques da mercadoria na cidade estão mais baixos. O motivo não foi o coronavírus, mas as sucessivas altas do dólar, que incide sobre o custo desse peixe para o lojista.
Na Peixaria do Zeca, por exemplo, o gerente Zeca Fonseca estava aguardando a moeda americana abaixar para comprar mais do produto. Mas, com a pandemia, acabou mudando de planos. “Estamos operando com metade do estoque que a gente costuma trabalhar nesta época do ano. Nossa preparação começa em janeiro, pois a procura pelo pescado aumenta a partir da Quarta-feira de Cinzas. Conseguimos diminuir os pedidos do peixe fresco, mas o congelado e o importados permanecem. Nossa ideia é ir escoando para pagar o estoque”, revela.
E, para isso, a peixaria tem investido no delivery, com entrega gratuita para compras acima de R$ 30. “Sempre tivemos o serviço, mas era terceirizado. Com a pandemia, eu e meus sócios decidimos contratar dois entregadores, para eliminar a cobrança de taxa. Desta forma, continuamos a atender todos os públicos como sempre fazemos, das classes A e B, que têm pedido mais entregas por estar mais tempo em casa, e das classes C, D e E, que vinham até a loja. Com a entrega gratuita, os consumidores têm menos um gasto. Está valendo à pena. É o momento de um fazer pelo outro e se ajudar”, aponta Zeca.
Na Casa do Queijo, estabelecimento que vende bacalhau há mais de 28 anos, o dólar também afetou a preparação da loja para a venda do produto. “O consumo do bacalhau, no geral, começa a acentuar depois do carnaval, mas, em função da moeda, seguramos um pouco as compras. Com a pandemia, acabamos não fazendo um investimento tão alto. Esperamos vender o estoque que temos – 50% abaixo – até quinta-feira”, conta o proprietário Pedro Paulo de Oliveira.
Outra medida adotada no estabelecimento foi a manutenção dos preços. Assim, o bacalhau do Porto está saindo a R$ 84,99 o quilo, e o Saithe, a R$ 42,99 o quilo. Em compras com valor superior a R$ 100, a entrega em domicílio é gratuita para localidades próximas ao Centro. As mais afastadas seguem a tabela do motoboy.
Para quem busca outros tipos de pescados, como cavalinha, sardinha, merluza, tiravira e tilápia, o Supermercado Granjamar pretende manter os mesmos preços praticados em 2019. “A movimentação tem sido boa, mas um pouco menor do que vimos no ano passado. Sentimos mais procura nesta terça, mas esperamos um aumento até quinta”, comenta a subgerente Débora Helena de Oliveira.