Carne bovina dispara e alta chega a quase 20% em JF
Crescimento na exportação é apontado como principal causa para a escalada
Nas últimas semanas, o consumidor juiz-forano tem se deparado com preços mais altos da carne bovina no município. De acordo com a pesquisa da Cesta Básica Regional, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Agropecuária (Sedeta) da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), o preço subiu cerca de 19,2% entre os dias 14 e 28 de novembro, data de divulgação do último levantamento (ver quadro). O aumento nos valores do alimento segue uma tendência nacional, devido ao crescimento da exportação do produto, especialmente para a China. Entretanto, outros fatores, como período de seca e queimadas, também contribuíram para a alta nos preços.
Nos açougues da cidade, a variação nos preços vem sendo sentida há cerca de três semanas, sendo que o aumento estimado é de 30% para os estabelecimentos. “Toda segunda-feira, quando fazemos a cotação do boi, está vindo com um preço diferente, mais caro, e o pessoal está começando a sentir a diferença porque aumentou demais”, conta Luciano Barbosa do Nascimento, gerente do Açougue Bom Bife, localizado na parte baixa da Rua Halfeld. A venda da mercadoria para outros países é apontada como justificativa para o aumento nos preços. “Devido às exportações que estão ocorrendo, nós ‘pagamos o pato’ “, desabafa o gerente do Açougue + Q Carne, na Avenida Getúlio Vargas.

Se os valores aumentam para os estabelecimentos, consequentemente, o consumidor também é impactado. “Qualquer acréscimo, a gente sente no bolso, sem dúvida”, diz o aposentado José Batista, que tem observado elevação no custo da carne, especialmente bovina. De acordo com o levantamento da Sedeta, no dia 14 de novembro, o preço médio do quilo da carne de segunda era de R$ 15,37 em Juiz de Fora. Este valor subiu para R$ 18,68 na pesquisa seguinte, divulgada em 21 de novembro. O mês fechou com o produto custando, em média, R$ 18,32, no dia 28.
Como observado pela consumidora Nayara Maria, o aumento foi percebido também na “carne boa”. “Alcatra e contrafilé estão com preço ‘salgado’ “. Segundo a pesquisa Guia do Consumidor, também da Sedeta, enquanto no dia 14 os quilos da alcatra e do contrafilé estavam custando, em média, R$ 27,99, por exemplo, os valores saltaram para R$ 33,56 e R$ 32,17, respectivamente, na sondagem realizada na semana seguinte, dia 21.
Exportação para a China cresce e impacta mercado
No último dia 25, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) emitiu nota informando que o Brasil registrou altos números de exportação de carne bovina, especialmente para a China, que tem passado por um déficit de proteína ocasionado pela gripe suína. Isto implicou no aumento da arroba do boi, afetando, consequentemente, toda a cadeia consumidora. “Em menos de três meses, o aumento do valor da arroba elevou os preços de custo de alguns cortes de bovino, como o contrafilé, a índices acima de 50%, e o coxão mole, a 46%, que, consequentemente, foram repassados ao preço final e aos consumidores.”
A Abras avalia que a “tendência (de alta nas exportações) deve continuar e é boa para o país”, mas ressalta que o setor seguirá “buscando formas para ofertar produtos com valores justos”, além da manutenção do processo de negociação com fornecedores, “a fim de evitar a sobrecarga aos consumidores brasileiros e as oscilações externas de seus domínios”. A associação informou, ainda, que tem acompanhado o cenário, que não indica risco de falta de carne bovina ao brasileiro.
Segundo a professora de Finanças da Faculdade de Economia da UFJF Fernanda Finotti, o crescimento da exportação se atrela ao período de estiagem. “A China está vivendo uma peste suína, que está ameaçando a oferta de proteína dela para ela mesma. Para repor, tem comprado mais de outros países, e o Brasil é o grande celeiro do mundo. Quando se precisa de comida, é lembrado por causa da nossa produtividade. A exportação para a China aumentou em 62%. A China demandando mais, os produtores aumentam o preço porque sabem que os consumidores pagarão”, explica. “Tivemos, também, uma estiagem na época de engorda do boi, ele não cresceu. Então há uma demanda maior com oferta menor, o que pressiona o preço.” Outro ponto destacado é o fato de que os países vizinhos ao Brasil, como Argentina e Chile, passam por dificuldades na exportação dos produtos. Desta forma, o país tem suprido a venda da mercadoria, conforme Fernanda.

Outros itens
De acordo com o gerente do Departamento de Abastecimento da Sedeta, Victor de Castro Mattos, mesmo que a carne seja o produto com aumento mais significativo, outros itens da cesta básica têm sofrido elevação no preço, como legumes e vegetais. Entretanto, além do crescimento da exportação da carne bovina e da estiagem, as queimadas também podem se relacionar com o aumento no preço dos produtos, “atrapalhando muito o gado chegar ao ponto”. Segundo ele, mesmo sem esse período de exportação para a China, haveria a escassez do gado no mercado interno, mesmo não tão intensa.
Ainda conforme Mattos, a expectativa é que os valores caiam a partir de janeiro, devido ao início do período chuvoso. “Vamos ter uma demanda maior dos frigoríficos, os produtores vão chegar com o boi para fazer o abate em melhor qualidade, e os outros itens também tendem a abaixar. Como vamos começar a colheita, daqui a algumas semanas, de milho, soja e vários outros itens, pode ser que o preço também reduza”, exemplifica.
Preço das demais carnes também deve subir
Com o valor alto da carne bovina, a solução dos consumidores tem sido optar por outros produtos, como a carne suína e de frango. No caso da aposentada Maria da Conceição de Melo Ezequiel, alimentos como salsicha, linguiça e ovo têm sido a alternativa para economizar na hora das compras. “[O preço] disparou. A carne moída estava R$ 13, agora está quase R$ 20”, exemplifica.
De acordo com o levantamento da cesta básica, o pernil suíno e o frango resfriado não tiveram variações significativas nas últimas semanas. Em 14 de novembro, o quilo do pernil custava, em média, R$ 13,49, enquanto o frango estava a R$ 6,04. Em 21 de novembro, os preços registrados foram de R$ 13,98 e R$ 5,49, respectivamente. Entretanto, ao passo que a população passa a consumir outros produtos, os valores das substituições tendem a subir também, segundo o gerente do Açougue Jurema, Wilton de Lima. “O consumidor deixa, às vezes, de comer uma carne vermelha, opta por uma carne branca, e aí começa a aumentar a demanda, consequentemente, vai aumentar também [o preço] dos outros alimentos.”
Tal fator também foi apontado pelo gerente do Açougue Mister Carnes Boulevard, Rafael Viana. “Na economia, o movimento é cíclico. Quando o preço de uma mercadoria sobe, a tendência é puxar os outros”, explica. “O consumidor vai trocando os produtos, e aí um vai puxando o outro. Diminuiu a demanda de carne bovina, aumenta a da carne suína, e o mercado vai se regulando.”
Alta de 10% devido às festas era esperado
Segundo a professora de Finanças Fernanda Finotti, as carnes, de maneira geral, costumam aumentar cerca de 10% em dezembro, devido às festas de final de ano. O aumento de quase 20% ocorreu devido a fatores externos, entretanto, na sua opinião, com o consumidor fazendo a substituição da mercadoria, o preço pode se manter ou mesmo cair. “Carne é perecível, então o supermercado não tem interesse em manter esse estoque depois do fim de ano.”
Para Fernanda, é importante que o consumidor pesquise o preço dos outros tipos de carne também. “O estabelecimento que aumentar, vai ser para aproveitar o movimento. Quando a carne ficar estocada, vai haver promoção”, reforça.