75 mil metros quadrados de área verde destruída
O incêndio que consumiu mais de 75 mil metros quadrados de duas áreas de preservação ambiental do município – nas imediações das avenidas Prefeito Mello Reis e Deusdedit Salgado, próximo ao Parque da Lajinha, e no Morro do Imperador – é um dos maiores dos últimos quatro anos. Pelo levantamento do Corpo de Bombeiros, a vegetação atingida até a tarde de terça-feira (9) equivale a oito campos de futebol, mas, na manhã desta quarta (10), novos focos surgiam. O último incêndio dessa proporção foi registrado em 2010, na região próxima ao Parque da Lajinha, quando cerca de dez hectares, o equivalente a nove campos de futebol, foram destruídos. Nos anos subsequentes, os maiores registros foram no entorno do Morro do Cristo. Em 2011, 40 mil metros quadrados do resquício florestal desapareceram. Um ano depois, uma área com cerca de três mil metros quadrados foi atingida. Recentemente, em agosto, as chamas consumiram 10.500 mudas da área de zona de recuperação do Parque da Lajinha.
Só neste ano, o número de incêndios em vegetação já ultrapassa 560, contra 426 em 2013. Conforme o capitão Marcos Santiago, o tempo seco e os ventos agravam as ocorrências e dificultam o combate, além de contribuir para o reaparecimento de novos focos em áreas já atingidas. Apesar dos inúmeros registros, o episódio desta terça-feira é considerado um “desastre ecológico” pelas autoridades, já que o fogo destruiu simultaneamente flora e fauna das duas áreas de preservação permanente. “É um desastre. O termo é forte, mas é realidade. Os danos à natureza e à cidade são enormes com as queimadas. Essas ocorrências foram ainda mais graves pois afetaram a biodiversidade de duas áreas importantes de preservação. Foram destruídos 75 mil metros quadrados de vegetação, muitos animais e plantas mortos, diminuição das nascentes d’água, poluição e um gasto enorme de recursos públicos, com o emprego de 65 bombeiros militares, 16 viaturas e um helicóptero, além de um caminhão da Cesama. Houve, ainda, o risco para as propriedades localizadas próximas aos focos do incêndio”, destacou o capitão.
Chefe do Departamento de Proteção aos Recursos Naturais da Secretaria de Meio Ambiente, Wesley Cardoso, reforçou a perda ambiental e o desequilíbrio causado ao município. “É uma perda grandiosa, um prejuízo incalculável. Muitas vezes, nem conseguimos recuperar uma área devastada, já que o processo leva anos e, nesse meio tempo, frequentemente, os espaços são afetados novamente. Fragmentos de Mata Atlântica, mudas recém plantadas e até espécies exóticas, como cipós do Morro do Imperador, são consumidos pelo fogo. Essas áreas também são rica em fauna, com ampla diversidade de pequenos mamíferos como tatus, roedores, preguiças e micos, e repteis. Com o fogo, muitos animais acabam morrendo pois não conseguem fugir a tempo. Além disso, as áreas descobertas levam ao empobrecimento do solo, contribuindo para intempéries, como erosões e voçorocas na época das chuvas.”
Ação do homem
Segundo dados da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, mais de 90% dos incêndios em vegetação são causados por ações humanas, ou seja, poderiam ser evitados. O assessor dos Bombeiros ressaltou a necessidade de mais investimentos em educação ambiental. “É preciso consciência ambiental.” O chefe do Departamento de Proteção aos Recursos Naturais também frisou as perdas financeiras originárias das grandes queimadas.”É um prejuízo financeiro muito grande, pois o retrabalho é constante. Só no mês passado, perdemos mais de dez mil mudas com um incêndio no Parque da Lajinha e vamos aguardar a recuperação para novo plantio. O cidadão precisa se conscientizar que esse dinheiro sai do bolso dele. Contribuindo para as queimadas está contribuindo para queimar seu dinheiro.”
Três focos mobilizam Bombeiros
Na manhã de ontem, três focos de incêndio voltaram a mobilizar o Corpo de Bombeiros, dois deles nas áreas de preservação já atingidas na terça-feira. Conforme a assessoria organizacional do Corpo de Bombeiros, todo o efetivo operacional e parte do administrativo foi deslocado para atender as ocorrências.
No Morro do Cristo, o fogo surgiu no meio da mata próximo ao Vale do Ipê e na subida da Estrada Engenheiro Gentil Forn. Como a área é de difícil acesso, não houve combate terrestre, e as chamas foram debeladas pelo helicóptero Pégasus da PM, que buscou água na piscina de um clube próximo. O incêndio foi controlado após cerca de uma hora. “A suspeita é de que o fogo foi provocado, porque, apesar do tempo seco, a mata ainda está muito verde e não há calor para uma combustão espontânea”, disse o bombeiro que esteve à frente da ocorrência, sargento Luciano Bousada.
O militar lembrou que, quando a cidade ainda não contava com o helicóptero, o combate era mais demorado. “Antes, a gente isolava o local atingido para defender as residências por meio de aceiros (faixa de terreno que se limpa para evitar a propagação de incêndios). Mas como o terreno é muito inclinado, fica difícil a atuação terrestre.” O bombeiro disse que a população deve se preocupar com a prevenção, não jogando bingas de cigarro perto de matas, fazendo aceiros e não ateando fogo em locais que podem ocasionar incêndios.
Parque da Lajinha
O incêndio que atingiu a mata em frente ao Parque da Lajinha, na tarde de terça, só foi controlado durante a noite e, na manhã de ontem, o Pégasus sobrevoou a área para avaliar os danos causados e verificar possíveis focos. Os bombeiros voltaram a atuar no combate às chamas que, desta vez, surgiram nas imediações de um condomínio na Avenida Prefeito Mello Reis.
Na terça, a aeronave usou água do lago do Parque da Lajinha, e bombeiros ficaram posicionados em um posto de combustíveis na Avenida Deusdedit Salgado, embaixo do morro afetado. A nuvem de fumaça causada pela propagação do fogo pela mata pôde ser vista de longe. Muitos motoristas pararam os carros para acompanhar os trabalhos, já que o uso do helicóptero chamou a atenção de quem passava pelo local.
O terceiro incêndio que mobilizou os bombeiros ontem aconteceu em área às margens da BR-267 perto da Avenida JK, na altura do Bairro Santa Lúcia, Zona Norte. Uma extensa parte do terreno foi consumida pelas chamas, incluindo algumas árvores, e a fumaça chegou a invadir a pista.