Universidade Federal de Viçosa ganha Desafio de Startups 2019
Equipamento vencedor fornece medições de volume e temperatura do leite em tanques de armazenamento
Uma ferramenta para monitoramento de tanques de armazenamento de leite, capaz de fornecer parâmetros do seu funcionamento. Esta foi a ideia campeã do Desafio de Startups 2019, na quarta edição do Ideas for Milk, realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Gado de Leite. A final da competição aconteceu nesta sexta-feira (22) em São Paulo (SP). Dois projetos de Juiz de Fora para segmentos da cadeia produtiva do leite ficaram entre os oito finalistas.
O projeto vencedor, Volutech, foi desenvolvido na Universidade Federal de Viçosa (UFV) e pode ser utilizado para detectar abertura da tampa e nivelamento do reservatório, além de fornecer medições de volume e da temperatura do leite em seu interior. Por meio de um aplicativo, o produtor recebe alertas em casos de alterações incomuns no tanque. De acordo com o estudante de medicina veterinária da UFV e um dos idealizadores do equipamento, Sávio Filho, a ferramenta vem como substituta às réguas, comumente utilizadas por produtores, porém, propensas a erros. “A Volutech vem para agregar qualidade ao leite, para que ele mantenha suas características nutricionais e funcionais, e ainda assegurar segurança para toda a cadeia, uma vez que conseguimos acabar com o erro da régua no momento de aferição do volume de leite e uma série de outros fatores que estão intrínsecos a cadeia do leite”, explica.
A equipe campeã havia participado do Vacathon 2018, uma maratona de programação idealizada pela Embrapa em Juiz de Fora, e tinha o Ideas for Milk como próximo objetivo. “Ao longo desse ano de trabalho, nós nos preparamos especificamente para esse evento, fomos aprimorando o nosso produto e agora já temos um equipamento bem formado e robusto”, explica Sávio. “É uma satisfação que me faltam palavras para descrever o que é estar aqui em São Paulo e ter recebido o prêmio de campeão. É uma sensação de dever cumprido”. Além de Sávio, a equipe é composta pela professora de produção e nutrição de bovinos leiteiros, Polyana Rotta, pelo engenheiro mecânico Vitor Fernandes, pelo engenheiro eletricista Lucas Sanders, pelo estudante de agronomia Gustavo Estrada, e pelo graduando em sistemas de informação Diogo Pereira.
O segundo lugar da competição ficou para o Bionexus, sistema de gestão da qualidade do leite, enquanto o projeto CriaTech Integrado, plataforma de monitoramento da cria de bezerras, levou a terceira colocação.
‘Crescimento substancial’
Em sua quarta edição, o Ideas for Milk tem apresentado “um crescimento substancial”, de acordo com o chefe geral da Embrapa Gado de Leite, Paulo do Carmo Martins. “Nós saímos de, por exemplo, três estados envolvidos no Brasil para 11 estados. Estamos tendo uma participação cada vez mais intensa de empresas. Nesse evento, temos 146 empresas que estão acompanhando. É o primeiro e único ecossistema do agronegócio brasileiro voltado para inovação, com uma perspectiva de crescer cada vez mais e fazer com que o Brasil lidere no âmbito do leite o processo de transformação digital.”
Universidade Federal de Viçosa ganha a Desafio de Startups 2019; duas equipes de JF também estiveram na finalíssima. Confira momento da premiação https://t.co/SWGfoP4nlv pic.twitter.com/ZpyF9h85z2
— Tribuna de Minas (@tribunademinas) 22 de novembro de 2019
Conforme destaca Paulo do Carmo, a intenção do Ideas for Milk é unir jovens pesquisadores aos produtores e indústrias, vinculados ao setor lácteo. “Existem jovens com soluções incríveis que podem impactar essa cadeia, fazendo com que haja uma redução de custos e uma melhoria de qualidade do produto oferecido. É uma cadeia muito ampla, com o faturamento de R$ 86 bilhões. Nós precisamos ser cada vez mais competitivos, e o Ideas for Milk cumpre essa missão: coloca jovens em contato com os empreendedores.”
IF Sudeste propõe geração de energia elétrica a partir da pressão no solo
Os estudantes do IF Sudeste, Laís Alves da Silva, de Sistemas de Informação, e Jefferson Luiz da Silva, Engenharia Mecatrônica, concorreram ao Desafio de Startups com uma plataforma para gerar energia elétrica por meio da pressão feita no solo pelo caminhar do gado. A plataforma idealizada pelos alunos, EnergyEasy, busca abater os custos de produção, trazendo economia na conta dos próprios produtores, segundo Laís. “Nós vimos, de acordo com nossas pesquisas e análises de mercado, um alto custo de energia elétrica, principalmente no setor agropecuário. É algo que tem ser estudado muito hoje, mas ainda são poucos produtos voltados para esse mesmo ramo.”
Além disso, a ideia busca um modelo sustentável, evitando utilização de fontes restritas de energia. “As organizações têm exigido produtos voltados para sustentabilidade porque está tendo um alto consumo de recursos não renováveis, recursos que são limitados na nossa natureza e estão sendo utilizados de uma forma não muito inteligente, então isso tem sido uma exigência social atualmente”, diz Laís. A iniciativa está em fase de pesquisa. Como finalista no Desafio de Startups, a equipe do IF Sudeste pretende avançar na elaboração do protótipo para lançá-lo no mercado o quando antes. “A expectativa é que a gente tenha apoio de pessoas que estão no ramo agropecuário, pessoas bem renomadas que vão ajudar a fechar o ciclo de desenvolvimento da nossa ideia”.
Equipamento idealizado pela UFJF busca identificar acidez do leite
Atualmente, a acidez do leite, entre outras propriedades, é medida diretamente nos laticínios, o que pode gerar perda do produto devido a valores fora dos parâmetros necessários. Desta forma, a equipe formada pelos professores de física da UFJF, Maria José Valenzuela Bell e Virgílio Carvalho dos Anjos, e pelas estudantes de engenharia elétrica, Letícia Maria Resende Souza e Bianca de Araújo Leal Dias, buscou desenvolver uma ferramenta portátil para mensurar as características do leite antes do seu transporte: o MilkData.
“A proposta era desenvolver um equipamento que pudesse ser usado na fazenda antes do leite ser carregado pelo caminhão, e foi assim que nós começamos a produzir esse trabalho. Hoje, sabemos que boa parte do leite é descartada. A estimativa é que em torno de 10% a 15% do leite tem que ser descartado por problemas de inconformidade com as normas, e a acidez elevada é um deles”, explica a professora Maria José.
Conforme a professora, a portabilidade da ferramenta é seu principal diferencial, podendo ser operado pelo próprio fazendeiro ou caminhoneiro responsável pelo transporte do leite. “Ali mesmo ele vai saber se o leite está em condição de ser comercializado em termos da sua acidez. Atualmente, não existe um equipamento que faça isso no local da produção.” O equipamento contaria com conexões Wi-Fi e Bluetooth, além de armazenamento de dados para monitoramento do produto, tanto pelo produtor quanto pelo laticínio.
A equipe trabalha há cerca de dois anos no equipamento e pretende acrescentar novas ferramentas ao longo de seu desenvolvimento. “Nossa intenção é que ele possa ter outros sensores para ampliar suas possibilidades de análises”, afirma Maria José.