Entendendo (e respeitando) meus limites
Na coluna desta semana, a jornalista Regina Campos conta como está se preparando fisicamente para seguir ao lado dos romeiros até Aparecida do Norte
Sempre fui uma pessoa inquieta que, como diz meu filho, Pedro, “adora inventar uma moda”. Quando visito uma cidade turística, gosto de ir além dos cartões-postais para conhecer o que o turista não vê e observar a rotina dos locais. Se estou na praia, quero caminhar por toda a faixa de areia para saber o que tem no final. Se estou na montanha, quero subir o morro para saber o que tem atrás dele. Ou seja, dou uma canseira em quem viaja comigo! Acredito que a curiosidade que me move faz parte do ser jornalista, sempre em busca de uma nova história para contar.
Aos 55 anos, continuo inventando moda e acho que serei assim por toda a vida. Apesar de conviver com duas hérnias na coluna lombar e um problema no menisco do joelho direito, ainda não me dou por vencida quando o assunto é desbravar (e vencer desafios). Por isso, para escrever sobre a fé dos romeiros, achei necessário caminhar ao lado deles, nem que seja apenas nos trechos que minhas pernas aguentarem. E para que meu projeto jornalístico fosse aceito, prometi à direção do jornal não ultrapassar meus limites para não comprometer minha saúde.
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Promessa feita, proposta aprovada com bônus: duas grandes empresas da cidade, Bahamas e Plasc, abraçaram a ideia em forma de patrocínio. O plano de saúde da Santa Casa ainda disponibilizou toda sua infraestrutura para que eu pudesse me preparar da melhor forma possível. A menos de um mês e meio do início do percurso de 300km até Aparecida do Norte, é preciso correr contra o relógio para adaptar o organismo às exigências da empreitada.
Fui acolhida com muito carinho pela equipe multidisciplinar do programa Vida Saudável Plasc . Médico, enfermeira, nutricionista, psicóloga, fonoaudióloga e equipe de fisioterapia se apresentaram de maneira generosa, dispostos a colaborar com o projeto. Desde então, tenho realizado vários exames médicos e feito sessões de fisioterapia para fortalecimento do joelho e da coluna. Uma dieta alimentar foi elaborada para suprir as carências do meu organismo, em especial a proteína, pois há tempos aboli a carne do meu cardápio.
Para caminhar por muito tempo em estrada de chão, neste período de seca, com poeira e queimada nos pastos, devo pingar soro no nariz para hidratar as vias respiratórias e beber muita água. A fonoaudióloga ainda ressalta que a ingestão diária de uma maçã com casca ajuda a hidratar as cordas vocais e evita o pigarro. É importante não falar muito durante a caminhada, principalmente nos 97km restantes que serão percorridos nas margens da Via Dutra. O barulho dos veículos faz com que as pessoas aumentem o tom de voz, e a fala alta prolongada pode provocar rouquidão.
Ter a consciência de que, devido a minha limitação física, terei que, por alguns momentos, percorrer uma parte do trajeto de carro foi um ponto abordado pela psicóloga. É importante ter isso em mente para não me frustrar quando a dor ou o cansaço me vencerem. A responsabilidade em entender o meu limite deve estar acima da minha inquietação. Não sou e nunca fui atleta. Mas sempre pratiquei caminhada pelas manhãs no bairro onde moro, atividade que me ajuda a aliviar o estresse e a não me deixar sedentária. A diferença agora é que, nas últimas semanas, passei dos 6km – cinco vezes por semana – para 15km, com expectativa de chegar a 20km neste fim de semana.
Sinto dores, cansaço e um prazer enorme de acordar de manhã e saber que tenho algo a realizar. Sou movida a desafios, e, sinceramente, ter sempre uma dificuldade a vencer, para mim, é viver. Portanto, Pedro, sua mãe vai continuar inventando moda. Ainda bem!
Tópicos: fé na estrada