O BASTA DAS RUAS
O silêncio da instância política ao evitar punições mais duras para acusados de corrupção, como foi o caso da deputada Jaqueline Roriz flagrada recebendo propina, mas absolvida por ter cometido o delito antes do mandato, induz, como já ocorreu em situações anteriores, a uma posição autônoma das ruas. Foi assim com a Lei da Ficha Limpa, só aprovada pelo Congresso pela força dos quase dois milhões de assinaturas que apensava. O 7 de setembro deste ano será marcado pelo protesto nacional contra a corrupção, com maior representatividade ao ter a adesão de entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. O país vai dizer basta ante tantas denúncias sem solução, como se este fosse um cenário sem lei. E não é.
Os governos totalitários do Oriente Médio estão caindo e outros revendo seu modo de agir em função das redes sociais que mudaram a relação de forças e romperam o véu da censura. O povo se mobiliza e mostra a cara, numa postura que não se justifica apenas no arbítrio. O protesto contra a corrupção passará pelos mesmos canais e chegará ao poder à margem da ação parlamentar. Deputados, senadores e vereadores irão perceber que os tempos mudaram e que não dá para ficar alheio, sob o risco de ficarem para trás no acerto de contas das urnas.
Há quatro anos, quando ocorreram reais experiências com a internet, ainda não havia uma mobilização tão sólida como agora. A rede mundial propaga informações, articula os atores e expõe os que preferem andar na contramão. Ignorar essa realidade é um contrassenso ou até mesmo um tiro no pé, pois está claro que o povo chegou ao seu limite. Emblematicamente, a data celebra a independência, e é este o significado do protesto: independência ante a leniência de quem devia lutar pela moralização do uso do dinheiro público.