Candidatos x mercado financeiro

Por Bruno Perry, Juliana Laurindo e Vinícius Versiani

Apesar de muitos pensarem que os candidatos à presidência não precisam se preocupar com o mercado financeiro e que os investidores não influenciam na economia real, isso não é verdade. O mercado financeiro é o termômetro da percepção dos investidores para a economia, além de ser o financiador e sócio de muitas empresas. Logo, se estes não estão enxergando um bom cenário para o futuro, investimentos e contratações ficam comprometidos, impedindo a retomada do crescimento econômico. Mas a questão é: quais propostas dos candidatos à presidência poderiam afetar de forma mais direta o mercado?

Um ponto que sempre é discutido é a tributação das distribuições de resultados das empresas (dividendos), que poderia afetar o preço das ações pois o lucro dos investidores cairia. Embora se saiba que “só o Brasil e a Estônia não tributam dividendos”, por outro lado, ao contrário da maioria dos outros países, o Brasil possui uma das maiores cargas tributárias do mundo, chegando a 32% do PIB contra 26,4% nos EUA. Assim, o imposto que não é cobrado sobre o dividendo, é cobrado durante a cadeia produtiva e sobre os resultados da própria empresa. Portanto, tributar a distribuição já tendo tributado o resultado a ser distribuído constituiria bitributação. Dos principais candidatos, apenas Ciro Gomes já se posicionou a favor da tributação de dividendos, enquanto os demais não falaram diretamente sobre o assunto.

Outro tema de relevância econômica é a Reforma da Previdência, que apesar de ser uma medida fiscal de caráter impopular, traria saúde e sustentabilidade para as contas do país, invertendo a situação de crescentes déficits primários e atraindo os investidores, o que afetaria positivamente o mercado. O Ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, alertou em abril que o teto de gastos definido para o Orçamento Federal não será viável ao longo dos próximos dez anos caso a Reforma não seja aprovada. Sobre a discussão, enquanto Geraldo Alckmin apoia a Reforma proposta pelo Governo Temer, os outros candidatos não negam a importância da medida, mas criticam e defendem ajustes na atual proposta.

Vale ressaltar também que alguns indicadores do mercado já estão piorando com o risco de medidas populares, mas insustentáveis economicamente (o dólar chegou ao patamar de 3,90 neste mês e o índice Ibovespa que caiu 7,39% neste ano, podendo piorar a depender do resultado das eleições). Candidatos populares criam discursos populares e, se ganham, adotam medidas populares. Entretanto, algumas dessas medidas pode ter o efeito de adiar a administração do remédio amargo ao paciente em estado grave.

Toda intervenção econômica tem um custo. E esse custo pode ser maior que o benefício social gerado (vide represamento recente nas tarifas de energia elétrica e de combustíveis, que fez os preços de ambos os produtos explodirem quando liberados). Há de se entender que o mercado financeiro não é inimigo; ele é apenas reflexo das decisões de milhares de investidores, em suas alocações de recursos. Se o mercado vai mal é porque tais investidores acreditam que a economia também esteja no mesmo caminho.

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