Tudo o que vocĂȘ precisa saber sobre a febre amarela
PUBLIEDITORIAL
Infectologista do corpo clĂnico do Hospital Albert Sabin esclarece dĂșvidas sobre a doença
A febre amarela voltou a chamar atenção da população no inĂcio deste ano. ApĂłs um grande surto em 2016 e 2017, agora, a doença estĂĄ de volta e, segundo o MinistĂ©rio da SaĂșde, os lugares mais afetados sĂŁo os estados de SĂŁo Paulo e Minas Gerais, que jĂĄ contabilizam, de julho do ano passado atĂ© o final de janeiro, 213 casos confirmados e 81 mortes.
Mas o que Ă© a febre amarela? Como Ă© transmitida? Tem tratamento? O Dr. Guilherme CĂŽrtes, infectologista do corpo clĂnico do Hospital Albert Sabin, esclareceu algumas dĂșvidas sobre a doença.
A febre amarela Ă© uma doença infecciosa causada por vĂrus e transmitida por vetores (seres vivos capazes de transmitir um agente infectante). A transmissĂŁo acontece atravĂ©s do mosquito infectado e pode ocorrer em ĂĄreas rurais ou urbanas. Ou seja, a doença possui dois ciclos, mas, independentemente do local de contaminação, ela Ă© a mesma. No meio rural, os responsĂĄveis pela contaminação sĂŁo os mosquitos das espĂ©cies Haemagogus e Sabethes e, no meio urbano, o Aedes aegypti, mesmo propagador dos vĂrus da dengue, Zika e Chikungunya.
Segundo o Dr. Guilherme, os sintomas iniciais da doença sĂŁo muito inespecĂficos, geralmente começam com dores de cabeça, dores no corpo, mal-estar geral, enjoo e nĂĄuseas. Eles sĂŁo semelhantes a outras viroses e podem ser facilmente confundidos com o quadro clĂnico de dengue.Dr. Guilherme explica que âno inĂcio do quadro, realmente Ă© difĂcil a distinção clĂnica. Hoje em dia, entendemos como caso suspeito qualquer pessoa que inicia quadro sĂșbito de febre, dores no corpo, dor de cabeça e que os exames laboratoriais mostrem algum grau de inflamação hepĂĄtica. A evolução da doença tende Ă hepatite e inflamação no fĂgadoâ.
De acordo com o Dr. Guilherme, cerca de 60% dos casos apresentam poucos sintomas ou atĂ© mesmo nenhum. Essas pessoas geralmente nem sabem que contraĂram a doença. Do restante, 20% evoluem para uma resolução espontĂąnea. O paciente tem sintomas mais intensos, mas o prĂłprio organismo consegue controlar a infecção. O problema sĂŁo os 10% a 20% dos casos que evoluem para extrema gravidade, com altos Ăndices de letalidade. Estes casos, depois de dois a quatro dias, começam a apresentar melhora dos sintomas. O paciente pode ficar algumas horas se sentindo melhor ou atĂ© mesmo ter um a dois dias de melhora. ApĂłs este perĂodo, os sintomas reiniciam e evoluem com mais gravidade.HĂĄ vĂŽmitos e, possivelmente, fenĂŽmenos hemorrĂĄgicos e manifestaçÔes clĂnicas mais intensas. Estes sĂŁo os casos mais preocupantes.
NĂŁo existe tratamento especĂfico para a febre amarela, pois nĂŁo existe um antiviral para conter a replicação do vĂrus. Para combater a doença, sĂŁo adotadas medidas de terapia intensiva, nas quais os sintomas sĂŁo tratados e combatidos atĂ© a infecção ser controlada pelo prĂłprio organismo da pessoa infectada.
Prevenção e vacinação
A maneira mais eficaz para prevenir a doença Ă© a vacinação. A vacina existe desde 1937 e Ă© a melhor estratĂ©gia para prevenir, nĂŁo somente os casos no ciclo silvestre, mas tambĂ©m para impedir a reintrodução da febre amarela urbana. Outra forma importantĂssima de prevenção Ă© o controle do Aedes aegypti, que, inclusive, foi a maneira como foi controlada a febre amarela urbana no Brasil e nas AmĂ©ricas na primeira metade do sĂ©culo XX.
Como proteção individual, Dr. Guilherme indica o uso de repelentes: âtemos dois tipos de repelente, um Ă base de uma substĂąncia chamada DEET e outra Ă base de uma substĂąncia chamada Icaridina. Ambos tĂȘm eficĂĄcia semelhante. Eles tĂȘm particularidade em relação Ă concentração e a quantas vezes devem ser reaplicados, mas tĂȘm a mesma eficĂĄcia. Outra medida de proteção individual diz respeito ao uso de roupas mais compridas para evitar a picada do mosquitoâ. E, claro, evitar visitas a ĂĄreas consideradas de risco. Em Juiz de Fora e regiĂŁo, as ĂĄreas de risco sĂŁo os locais onde estĂĄ acontecendo mortalidade de macacos. Nesses locais estĂĄ ocorrendo epidemia silvestre e, certamente, circulação viral e de mosquitos que podem transmitir a febre amarela.
Falando no macaco, Ă© importantĂssimo ressaltar que o animal NĂO transmite a doença. Pelo contrĂĄrio, ele adoece assim como nĂłs e, alĂ©m disso, serve como alarme para um possĂvel aparecimento da doença naquele ambiente.
Como dito anteriormente, a principal maneira de prevenir a doença Ă© atravĂ©s da vacinação. Segundo o Dr. Guilherme, a maioria das pessoas entre 9 meses e 59 anos pode se vacinar. Pessoas com alguma contraindicação formal, como uso de imunossupressores, que fizeram transplantes, ou estĂŁo em quimioterapia, que tenham doenças autoimunes, cardiovasculares, renais, alergia a ovo ou gestantes e mulheres em processo de amamentação, devem, antes de tomar a vacina, procurar profissional para avaliar o risco versus benefĂcio da vacinação. Esse risco versus benefĂcio vai depender do quadro de epidemia da doença.
Em relação a pessoas acima dos 60 anos, Dr Guilherme explica que âhĂĄ uma preocupação adicional em relação a risco de efeitos colaterais, uma vez que costumam ter imunidade mais baixa. Mas sĂŁo eventos raros e, certamente, no contexto epidemiolĂłgico atual, Ă© importante que idosos saudĂĄveis, sem comorbidade, vacinem-se, porque Ă© uma faixa etĂĄria que tem sido bem acometida pela doençaâ.
DĂșvidas em relação a vacinação ainda podem surgir, por isso Dr. Guilherme esclarece algumas delas:
Quem jĂĄ tomou uma dose, deve tomar outra?
Quem jå tomou uma dose anterior pode até tomar outra dose, mas apenas uma dose é necessåria para dar imunidade em adultos.
Caso a pessoa nĂŁo lembre se jĂĄ tomou alguma dose e tome novamente, pode ser prejudicial?
Para quem nĂŁo lembra, ou nĂŁo tem cartĂŁo vacinal, o melhor Ă© tomar a vacina e ter a certeza de que estĂĄ imunizado. NĂŁo hĂĄ problema em tomar uma segunda dose, caso tenha tomado previamente alguns anos atrĂĄs.
Quais sĂŁo as possĂveis reaçÔes Ă vacina?
Normalmente, a vacina é muito bem tolerada e segura. Mas, pode ocorrer febre, dor no corpo, dor de cabeça e outros eventos adversos mais raros.
Para finalizar, Dr. Guilherme considera importantĂssimo ressaltar que âJuiz de Fora, como cerca de 90% dos municĂpios brasileiros, estĂĄ infestada pelo Aedes aegypti. O que estamos vivenciando agora com esses casos de transmissĂŁo rural/silvestre Ă© que existe o risco iminente de introdução de febre amarela urbana. AlĂ©m da vacinação Ă© extremamente importante que as pessoas redobrem os cuidados para controle do mosquito. Essa Ă© uma ação extremamente importante para prevenir a reintrodução da febre amarela na nossa regiĂŁoâ.
Agora que vocĂȘ jĂĄ estĂĄ informado de todos os detalhes da febre amarela, fique atento aos sintomas, evite as ĂĄreas de risco e, principalmente, ajude a combater o mosquito da dengue. Se suspeitar de algum sintoma ou pretende se vacinar, nĂŁo hesite em consultar um mĂ©dico. E, se precisar, conte sempre com a equipe do Hospital Albert Sabin.