Polícia Civil reconstitui assassinato de advogado em Juiz de Fora
Os dois suspeitos do crime, de 20 e 21 anos, participaram da simulação. Vítima de 75 anos foi morta com golpes de pedra, tijolo e machado e seu cadáver teria sido jogado nas águas do Rio Paraibuna
A Polícia Civil de Juiz de Fora realizou, na manhã de terça-feira (23), a reconstituição do assassinato do advogado e policial militar reformado Carlos de Oliveira Barros, 75 anos. Os suspeitos do crime, dois jovens de 20 e 21 anos, participaram da simulação, que pretendia esclarecer a mecânica do homicídio e alguns pontos divergentes nos depoimentos dos dois. Segundo as investigações, Carlos de Oliveira foi morto com golpes de pedra, tijolo e machado, no último dia 2, e seu cadáver teria sido jogado nas águas do Rio Paraibuna, na altura do Bairro Parque das Torres, Zona Norte de Juiz de Fora.
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Uma das novidades que vieram à tona durante a reconstituição foi o fato de que, além dos golpes de pedra, tijolo e machado, a vítima também foi agredida com uma viga de ferro. O objeto teria sido jogado nas águas do Rio Paraibuna após o crime. A Polícia Civil também irá pedir ao Corpo de Bombeiros que tente localizar a viga metálica, que poderá ser incluída no inquérito policial. Uma prótese dentária que seria do advogado também foi encontrada durante os trabalhos desta terça-feira. Agora, o delegado Luciano Vidal, responsável pelo caso, irá ouvir novamente algumas testemunhas e os próprios suspeitos.
Na reconstituição, a vítima foi representada por um boneco, e os trabalhos duraram cerca de duas horas. Além de esclarecer divergências, os policiais conseguiram encontrar uma pedra suja de sangue, que teria sido usada no crime, e também uma prótese dentária removível (comumente chamada de “roach”) que seria do advogado morto e teria sido arremessada no meio do mato pela dupla. A viga de ferro e o machado teriam sido jogados no Paraibuna após o crime. A Polícia Civil irá pedir ao Corpo de Bombeiros que tente localizar os objetos.
Passo a passo
A reconstituição refez o passo a passo do crime. Os peritos e policiais pediam aos jovens para repetir e contar minuciosamente cada detalhe do que ocorreu na noite do dia 2 de janeiro. O trabalho da Polícia Civil foi acompanhado por dezenas de vizinhos dos jovens, ainda incrédulos com a crueldade do assassinato. A reconstrução da execução teve duas etapas. Na primeira, apenas o suspeito mais novo participou, contando sua versão. Conforme o delegado Luciano Vidal, o jovem de 20 anos, que segundo a polícia é quem devia ao advogado, manteve sua versão contada em depoimento. Na segunda parte, foi a vez do outro jovem refazer os passos do homicídio.
Segundo as investigações, as ações tiveram início do lado de fora do imóvel onde vivia o jovem de 20 anos, na Avenida Atlântica, onde o advogado chegou de Uber e teria aguardado o rapaz por horas. Foi ao lado do portão de entrada do imóvel que o idoso teria sido surpreendido pela dupla com uma “gravata”. Segundo a polícia, os suspeitos contaram em depoimento, e reafirmaram durante a reconstituição, que arrastaram o homem para os fundos da casa, que margeia o Paraibuna. Eles então reconstituíram as agressões, usando pedras, tijolos, viga de ferro e machado. Logo em seguida, foi mostrado como o corpo foi arrastado pelo chão de terra e jogado no rio. Policiais civis filmaram e fotografaram todas as etapas da simulação.
“O trabalho foi bastante esclarecedor. Nosso objetivo era exatamente alinhar a mecânica do crime. O suspeito mais velho esclareceu pontos que havia omitido e também acabou dizendo que mentiu anteriormente”
Luciano Vidal, delegado
De acordo com o delegado, esta é a segunda vez que a equipe esteve no local fazendo trabalhos periciais. Na primeira diligência, na última semana, foi usado luminol, substância utilizada para detectar vestígios de sangue. “O luminol reagiu exatamente nos pontos onde eles disseram que as agressões haviam ocorrido. O material foi recolhido e será enviado para exame laboratorial para comprovar se era mesmo sangue”, destacou Luciano Vidal, acrescentando que os próximos passos da investigação serão ouvir novas testemunhas e reinquirir os suspeitos. “Além destas oitivas, os exames laboratoriais vão ajudar a vincular a materialidade indireta do crime com a narrativa dos envolvidos.” Os dois jovens foram levados novamente para o Ceresp após a reconstituição.
Investigações
No dia 9 de janeiro, familiares do advogado procuraram as 1ª e 2ª Delegacias, em São Mateus, para informar sobre o desaparecimento do idoso. Ele não teria retornado para casa desde o dia 2. “Começamos a investigar o desaparecimento e conseguimos a informação de que ele teria sido executado na residência”, informou Luciano Vidal, complementando que equipes das 1ª e 2ª Delegacias e Delegacia Especializada de Homicídios foram até a residência, no dia 17, e encontraram o suspeito de 21 anos. O jovem teria confessado o crime, relatando que o outro investigado teria matado o advogado e que ele teria apenas ajudado a carregar e jogar o corpo da vítima no Rio Paraibuna.
O suspeito disse que o assassinato teria acontecido por conta de uma dívida de R$ 300 referente a honorários. Na ocasião, o Corpo de Bombeiros foi acionado para fazer buscas pelo cadáver da vítima. O mandado em desfavor do outro suspeito, de 20 anos, também foi cumprido no dia seguinte (18), quando, durante depoimento, o jovem também confessou o crime e disse que primeiro teria desferido golpes de tijolo e pedra e, depois, de machado. Em seguida, a dupla teria jogado o corpo no rio. Na mesma data, após diligências, a Polícia Civil conseguiu recuperar o celular da vítima, localizado na Zona Norte em posse de um terceiro. O aparelho teria sido vendido pelos suspeitos para outra pessoa.
O delegado confirmou que o corpo do advogado ainda não foi localizado. No entanto, nessas situações, deve-se provar a materialidade de forma indireta. “A Polícia Civil já tem o sapato da vítima encontrado na beira do Rio Paraibuna, atrás da casa do suspeito, e o celular também foi recuperado”, disse, complementando que a pessoa que estava com o aparelho foi ouvida na última segunda-feira (22) e contou que o suspeito de 20 anos teria vendido o aparelho por R$ 200. O investigado teria inclusive dito ao comprador do celular que havia matado o advogado e jogado o corpo no rio. A última ligação feita pela vítima foi realizada no dia 2 de janeiro, aproximadamente às 20h25, para o telefone do próprio investigado.
Ainda conforme o delegado, a esposa da vítima também esteve na delegacia e reconheceu o sapato e o telefone como sendo do advogado. As roupas de um dos suspeitos, que foram queimadas, pois estariam sujas de sangue, também foram localizadas no lote ao lado da residência.