Feridas cirúrgicas: contra as infecções, mais oxigênio
PUBLIEDITORIAL
Lesões profundas decorrentes de incisão cirúrgica respondem bem ao tratamento com a medicina hiperbárica; ela atua como terapia complementar, ajuda o organismo a se defender das infecções e favorece a cicatrização
No rol das feridas de difícil cicatrização que recebem a indicação médica de tratamento com o oxigênio puro, nas câmeras hiperbáricas, estão as feridas cirúrgicas ou infecções do sítio cirúrgico. “São aquelas ocasionados pelo cirurgião com o objetivo de tratar alguma doença do paciente. Elas recebem a classificação conforme a sua localização: abdominal, torácica, de membro inferior, entre outras”, explica o cirurgião Carlos Augusto Caxião, da Clínica O2JF.
Segundo ele, entre as causas de maiores preocupações da ferida cirúrgica estão a deiscência – que é a abertura da ferida,ocasionada por dificuldades de cicatrização ligadas à nutrição edoenças preexistentes,e as infecções. Como nem sempre é possível programar os procedimentos cirúrgicos, no caso de emergências, por exemplo, os riscos de infecção se elevam conforme a complexidade do caso e a exposição do paciente aos agentes infecciosos.
Especialista em cirurgias abdominais, o médico explica que a presença de vermelhidão e febre, no pós-cirúrgico, pode indicar a ocorrência de um processo infeccioso. “O paciente submetido a uma cirurgia de intestino, onde a gente sabe que existe uma flora polimicrobiana muito complexa de micro-organismo, está sujeito a uma ocorrência sinérgica:as bactérias se unem para causar uma grande infecção naqueles tecidos moles, musculares e fasciais. Aumentar a oferta de oxigênio, em áreas menos vascularizadas e susceptíveis, pode contribuir para a ação do exército de defesa – os fagócitos e leucócitos – permitindo uma luta mais favorável do organismo. Nestes e em outros casos, a medicina hiperbárica pode ajudar como complemento aos procedimentos de base– desbridamento (que é a remoção do tecido desvitalizado) eantibióticos”, acrescenta.
Indicação nas feridas profundas
Nem todas as feridas do sítio cirúrgico recebem indicação da medicina hiperbáricacomo técnica adjuvante no processo de cicatrização. “Ela é indicada para as feridas profundas que atingem músculos e a fáscia. Nós denominamos como fasceíte necrotizante. Na síndrome de Fournier, infecção polimicrobiana que atinge a região da vulva da mulher e a perineal do homem e da mulher, nas infecções intestinais graves, a medicina hiperbárica pode ajudar quando atingem um sitio cirúrgico profundo. No superficial, a drenagem é suficiente”, pondera Caxião.
Outra indicação, no campo da proctologia, são os cistos pilonidais. “Utilizo a técnica ressectiva e indico o tratamento na câmera hiperbárica porque ela auxilia na redução de um terço à metade do tempo de cicatrização, além de manter o campo estéril”, explica o médico ao afirmar que quando não utilizada o processo cicatricial pode se estender por seis, sete meses ou mais. “Há outras indicações em fase de estudos, muito preliminares, ainda no campo da pesquisa, como a doença de Crohn, as infecções intestinais graves e a pancreatite aguda. Precisamos aguardar a evolução dos estudos de viabilidade”, conclui.
Um susto
Foi um cisto pilonidal, doença benigna inflamatória que se desenvolve no cóccix, região terminal da coluna vertebral, que assustou e levou o estudante Vinícius Moura, 19 anos, ao centro cirúrgico, no dia 22 de agosto deste ano. Desde então, ele frequenta as sessões na câmera hiperbárica, por indicação do cirurgião Carlos Augusto Caxião. “A recuperação está sendo ótima. A ferida já está quase fechada e estamos muito satisfeitos coma evolução do tratamento: muito tranquilo, sem infecções ou inflamação”, conta a mãe do rapaz, Elisabeth Moura, que veio do Rio de Janeiro para acompanhar o filho.
Por causa da ferida, mantida aberta, ele faz os curativos e o acompanhamento da cicatrização com a equipe especializada da O2JF. “Lamentavelmente, muitas pessoas não conhecem ou não têm acesso a esse tratamento”, diz o estudante que teve que trancar o período na faculdade para dedicar-se exclusivamente a sua recuperação. “Fico imaginando quem precisa ficar seis, sete meses afastado da rotina. Já estou ansioso para voltar para a minha”, conta Vinícius.
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