O amor: encontros e desencontros
Segundo o legado grego, o amor, Eros, é filho de Poros (a Riqueza, o Expediente) e de Penia (a Pobreza ou Miséria). Trazendo consigo características ambivalentes dos pais o amor se manifesta distintamente. Do amor romance, paixão ao amor afetivo, passando pela afeição e pelo fraterno.
O amor é uma inspiração, na medida em que não se pode propriamente planejá-lo. É possível ensinar o que não se sabe? Dessa interrogação é que extraio um dos possíveis conceitos de amor, até mesmo em conceito, uma inspiração: “amar é dar o que não se tem”, e mais: “a quem não quer ou não pede”. Pode parecer controverso, mas peça a alguém que se deleite ou que sofra por amor, para tentar descrever a experiência.
É natural supor que se há o amor, alguém ama e alguém é amado. O amante é aquele que, ao sentir que alguma coisa lhe falta, certamente ele não sabe exatamente o que é que falta, supõe que um outro, que é o amado, possua isso que lhe falta. E por sua vez, o amado, o escolhido pelo amante, termina por também supor, mesmo sem saber o que, que ele possui realmente algo que possa completar o amante. Eis aí o ‘jogo’, que jogado, produz o amor. Não à toa , o amor carrega consigo aquilo que caracteriza os pais, de um lado alguém “não possui”, de outro, alguém “possui” e desse encontro, a experiência de uma completude, o que é um prazer incomensurável.
Ainda assim, nem sempre o encontro se dá e desventuras das mais sofridas são vividas cotidianamente. Contudo, como no passado, no presente e no futuro, como sugeriu nosso “poetinha”, embora existam tantos desencontros, no amor, como na
vida, o estado da arte é o encontro. Vale a pena buscar!
José Eduardo Amorim é psicanalista e leitor convidado
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