A lista de Fachin
A lista do ministro do STF Edson Fachin não é a condenação dos muitos citados, mas aponta para o lado perverso da política quando esta é implementada sob o viés do interesse próprio. É fato que muitos dos inseridos no documento aproveitaram a legislação sobre financiamento de campanha e não avançaram a linha, mas está clara a existência de personagens que há tempos vêm utilizando as relações entre público e privado para benefício pessoal ou de apaniguados, formando verdadeiras quadrilhas com danos para o país.
Quando 30% do Senado Federal está na lista e um expressivo número de deputados também manteve ligações pouco republicanas com a Odebrecht, há espaço para preocupação, pois há sempre o risco de esse mesmo Congresso, ora acuado pelos fatos, criar atalhos para impedir o avanço das investigações. A lei anticorrupção de iniciativa popular, cujo objetivo foi todo mudado pela Câmara – por meio de uma série de emendas -, tornou-se um instrumento de defesa dos parlamentares em vez da sociedade. É preciso, agora, acompanhar o Senado, que pode ampliar ainda mais o estrago. Destaca-se, ainda, a lei de abuso de autoridade, a ser vista com desconfiança por conta das alterações e dos interesses que protege.
Essa preocupação procede em virtude do calibre de alguns envolvidos. A delação dos executivos da construtora apontou cardeais da política, e não apenas os bagres que fazem do mandato um balcão de permuta. Todos, agora com acesso ao processo, terão meios de se explicarem, mas muitos, a despeito do direito de defesa, terão que fazer contorcionismos para convencer a Justiça e a opinião pública de que são inocentes, uma vez que são reincidentes nas muitas denúncias que ocuparam o debate nacional nos últimos anos.