Muralha mineira
Da Zona da Mata de Minas Gerais, mais especificamente de Mar de Espanha, veio a melhor goleira da Liga Universitária de Futebol dos Estados Unidos em 2016. Flávia Guedes, 22 anos, a sexta entrevistada da série Olha Ela! (que foca as mulheres que se destacam no esporte em Juiz de Fora e região) acabou de encerrar ciclo não apenas vitorioso, como histórico na instituição onde estuda, o Columbia College.
A jovem, que está no país norte-americano desde o fim de 2013, já defendeu a Seleção Brasileira sub-20 e, na última temporada, acumulou resultados que impressionam.
Entre centenas de adversárias, Flávia e suas companheiras conquistaram vaga no National, torneio com as 16 melhores equipes do país, após campanha finalizada com o segundo lugar em torneio que rege os eventos esportivos universitários no país, chamada NAIA (Associação Nacional de Atletismo Intercolegial).
Neste torneio classificatório, a goleira alcançou a menor média de gols sofridos da história, com 0,46 tento por confronto. Não bastasse o resultado inédito para a Columbia College, a mineira foi até as quartas de final do National, sendo mais exigida em campo como nunca no exterior.
“Foi tudo uma surpresa. Nossa conferência não é muito difícil, então acabo não participando muito pela inferioridade dos outros times e poque nossa equipe é muito boa. Quando passamos para a fase nacional, apareci muito, fui importante para o time e recebi esse prêmio de melhor goleira. Esse último ano foi muito marcante por vários motivos. Acho que esse foi o melhor time que já tivemos na faculdade, e 2016 foi o quinto ano do programa de futebol feminino, então fizemos muitas histórias. Nesse fim, quando apareci mais nos nacionais, o momento que sempre vou lembrar é quando peguei dois pênaltis e passamos para as quartas de finais da competição”, contou Flávia à Tribuna.
Além de conciliar os estudos com as defesas, a arqueira trabalha no verão norte-americano como treinadora pela empresa TetraBrazil, em Minnesota. “É completamente diferente. Aqui, como trabalho com crianças, vejo que desde cedo existe a relação de esportes e estudos. Os pais também estão sempre presentes. Fomos jogar os nacionais em Alabama, metade dos pais do nosso time viajaram 15 horas só para assistir. Existe esse grande apoio em todos os times e modalidades da faculdade”, revelou.
Todo o esforço, na verdade, é a realização de um sonho que possui desde a infância. “Desde pequena falava para minha mãe que era um sonho meu jogar aqui nos Estados Unidos e fomos batalhando por isso, dando um passo de cada vez. Quando estava morando em São Paulo, começamos a procurar agentes que mandassem jogadoras para cá, então achei um, que conversou com minha mãe, mostrou várias universidades e eles definiram que eu viria para a Columbia College, com uma bolsa boa que me deram”, explicou.
Objetivo agora é a profissionalização
Encerrado o período à frente da meta do Columbia College, Flávia aprimora sua parte física na busca por oportunidades em equipes profissionais dos Estados Unidos. “Como acabei meus quatro anos jogando, estou parada tecnicamente. Mas já comecei a treinar a parte física, vou focar nos treinos de forma intensa para fazer tryouts (seletivas) dos times profissionais para aproveitar o que aparecer para mim. Inclusive já comecei a conversar com times dos EUA, estou olhando teste para fazer em equipes profissionais porque também tenho o sonho de jogar pela Seleção Brasileira em um Mundial e uma Olimpíada.”
Além da consistência defensiva já apontada em estatística recordista na NAIA, a mineira teve que aprimorar a qualidade da saída de bola com os pés em trabalhos diferentes dos feitos em seu país de origem. “É um pouco diferente. Há dois anos que não temos preparador de goleiros, então tive que me virar sozinha, mas aqui usam muito a goleira como um jogador a mais em campo. Logo, o tempo todo tive que aprender e melhorar as jogadas com os pés.”
Visando a profissionalização, Flávia possui uma companheira de posição como referência, já tendo o privilégio de conviver ao seu lado, amadurecendo na posição. “Me espelho em muitas pessoas que já tive a oportunidade de jogar. Uma delas é a Viviane Holtzel, goleira que joguei no Centro Olímpico e que foi para a Seleção. Como tive a chance de trabalhar ao lado dela, aprendi muito sobre o que é ser goleira e suas dificuldades. Foi fundamental em meu crescimento na posição.”