165 famílias afetadas por explosão na Imbel
Cento e sessenta e cinco famílias registraram prejuízos com a explosão de cerca de 400 granadas que estavam em processo de montagem na Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel) em Juiz de Fora. O acidente, ocorrido há três dias em um dos paióis que armazenam o material produzido na fábrica localizada na Zona Norte, deixou um rastro de destruição e medo entre os moradores do Bairro Araújo, um dos mais atingidos. As moradias tiveram portas e janelas afetadas pelo deslocamento de ar ocorrido após a explosão, o que os especialistas chamam de onda de choque. Apesar da gravidade do caso, somente uma pessoa apresentou corte na mão e precisou de atendimento médico. No entanto, muitos temem novos episódios, embora a empresa reitere a eficiência de suas normas de segurança. Ontem, representantes da Imbel e da Defesa Civil visitaram dezenas de casas para verificação dos estragos e orientação sobre o processo de indenização que pretende cobrir os danos mediante apresentação de orçamento para reposição dos materiais. Enquanto os imóveis eram vistoriados por uma força-tarefa, oito fiscais da Gerência Regional do Ministério do Trabalho em Juiz de Fora participavam de fiscalização no interior da indústria. O resultado do trabalho deverá ser encaminhado ao Ministério Público do Trabalho, que investigará a fábrica.
A equipe do Ministério do Trabalho chegou ao local no início da tarde e, só por volta das 17h, acessou o ponto onde ocorreu a explosão. Na última quarta-feira, um pedido de interdição da fábrica foi protocolado no órgão pelo Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas, Farmacêuticas e de Material Plástico de Juiz de Fora e Região (Stiquifamp/JF). No entanto, até a noite de ontem, não havia nenhum posicionamento da gerência regional neste sentido, o que pode ser anunciado hoje. “Desejamos que a fábrica seja interditada até que o laudo sobre as causas do acidente seja divulgado”, afirmou o presidente do sindicato, Scipião da Rocha Júnior. Segundo ele, o sindicato continuará acompanhando o desdobramento do caso, que é visto com apreensão pelos trabalhadores.
“O que podemos dizer, até o momento, é que o local está sendo fiscalizado e se trata de um trabalho longo e complexo”, afirmou, no final da tarde, a gerente regional do Trabalho e Emprego, Carla Beatriz de Castro Barros. A Imbel considera a verificação dos diversos órgãos “bem-vinda” e acrescenta que as causas do acidente serão esclarecidas após as investigações que estão sendo conduzidas pelo Exército. “Como disse antes, todas as hipóteses estão sendo levantadas. Além de abertura de inquérito, uma sindicância interna foi instaurada. A fábrica continua fechada para a conclusão da limpeza da área”, afirmou o chefe de Comunicação Institucional da Imbel, em Brasília, Marcelo Muniz.
Empresa promete ressarcir danos à comunidade
Os prejuízos provocados pela explosão do paiol número 1 da fábrica que produz munição para armamento pesado na cidade ainda não foram calculados. Se no interior da empresa o tamanho do estrago ainda é desconhecido, na comunidade localizada no entorno da Imbel, os danos são visíveis. Na Rua Alcindo Nunes Pereira, por exemplo, uma das vias do Bairro Araújo, boa parte das casas teve o vidro das janelas quebrado e portas empenadas ou destruídas, embora nenhuma moradia tenha sido afetada na sua estrutura.
“Uma força-tarefa composta por integrantes da fábrica e do poder público local está constatando o que houve. O nosso esforço é ressarcir os danos o mais rápido possível”, disse o chefe de Comunicação Institucional da Imbel, Marcelo Muniz.
Integrante da força-tarefa, o chefe da Divisão de Pessoal da Imbel, coronel Fernando Baía Lira, visitou mais de dez imóveis da Rua Alcindo Nunes Pereira. Acompanhado do engenheiro da Defesa Civil, João Rinaldi, ele conversou com os moradores. “O nosso serviço visa a minorar o sofrimento deste povo que é tão parceiro nosso. Muitos moradores são filhos de funcionários e ex-funcionários da fábrica”, disse Lira.
Um requerimento de indenização foi preenchido pelos moradores e entregue ao chefe da Divisão de Pessoal da Imbel com relato sobre os prejuízos sofridos, dados pessoais do residente e número da conta bancária para posterior depósito. Para receber o recurso, as famílias terão que apresentar três orçamentos visando à reposição dos materiais, embora muitas já estejam se organizando para substituição dos itens danificados. “Não posso ficar sem janela no meu quarto”, disse a funcionária de conservadora Ana Maria Rodrigues Jesus, 44 anos. Além dos vidros quebrados, as guarnições das janelas de sua casa ficaram empenadas. “Os moradores podem fazer o conserto antes, mas todos serão ressarcidos”, garantiu o coronel Lira. Além das visitas aos imóveis, o posto de atendimento aos moradores dos bairros atingidos pela explosão continuará funcionando na ABCR, localizada próximo a fábrica.
A pedagoga aposentada Neide Marques dos Santos Pires, 52, moradora do Araújo que teve as janelas de sua casa danificadas após a explosão, está preocupada com o futuro. “E agora, o que vai acontecer? Como ainda não sabemos a causa do acidente, estamos vulneráveis. De certa forma, a gente fica com medo.”