É preciso (realmente) ver para crer
O escritor e designer Carlos Reis lança nesta sexta-feira, no Museu do Crédito Real, o livro “Naus da ilusão – Uma análise interdisciplinar sobre a crença em ‘discos voadores'”, terceira e última publicação de uma série que engloba mais de quatro décadas de pesquisas iniciadas no ramo da Ufologia, mas que passaram a abarcar áreas como sociologia, filosofia, psicanálise, biologia, mitologia, antropologia e neurociências, entre outras, quando o autor passar a questionar a crença desprovida – de acordo com ele – de embasamento científico na existência de discos voadores visitando a Terra. No livro, Carlos busca mostrar o quanto a necessidade de se crer em algo além do que vemos leva muitos a acreditarem em fenômenos ufológicos que não encontram qualquer tipo de comprovação.
A pergunta “estamos sós no universo?” surgiu há muitos séculos, quando começamos a ver o céu como uma imensidão que não podemos mensurar o tamanho e nosso planeta como o espaço finito de toda a existência. Desde então, entre divagações filosóficas, científicas e religiosas, passamos a imaginar o que haveria além do céu azul, de homenzinhos verdes em Marte a civilizações incrivelmente desenvolvidas em sistemas solares e galáxias distantes. Com um terreno tão fértil para a imaginação, aliado ao desenvolvimento tecnológico que permitiu ao homem ir para o espaço, pousar na Lua e enviar sondas para os confins de nosso Sistema Solar, o estudo da ufologia surgiu no século passado e angariou uma legião de pessoas crentes na presença de extraterrestres em nosso planeta.
A falta, porém, de elementos palpáveis para estudos fez com que Carlos Reis, que começou a estudar a ufologia em 1971, passasse a questionar a crença deliberada em discos voadores há cerca de 30 anos, buscando argumentos para suas descrenças em diversas áreas de estudos. Toda essa pesquisa rendeu os livros “A desconstrução de um mito” (2009, escrito a quatro mãos com Ubirajara Rodrigues) e “Reflexões sobre uma mitopoética” (2001), além do trabalho que lança nesta sexta.
“Neste livro tento mostrar todos os indícios de que o fenômeno OVNI é, na verdade, um mito. Há toda uma elaboração sobre essa argumentação; falo pouco de ufologia, discos voadores, e mais de outras áreas do conhecimento para demonstrar que o disco voador vem mais de uma necessidade nossa de acreditar em algo, como Deus, mitos, oráculos”, explica Carlos. “Depois percebi que estava em um manicômio, em que não existe um rigor, uma base científica, uma sustentação dos argumentos.”
O escritor compara esse momento com o sentimento de andar em círculos. “Vi que isso não adiantava nada, não bastava só acreditar em fotos e depoimentos. Disco voador não existe fisicamente, a pessoa precisa acreditar no disco para satisfazer suas crenças.”
Campos diversificados de estudos
Carlos Reis destaca que o fato de não ter formação acadêmica facilitou que não se prendesse a um determinado ramo de pesquisa, o que resultou na possibilidade de uma argumentação interdisciplinar sobre o ceticismo a respeito dos OVNIs. “Quando percebi que a pesquisa ufológica não me levaria a lugar algum, abandonei a pesquisa de campo e procurei outros ramos de estudo. Comecei a ler obras nos campos da psicologia, mitologia, e isso me abriu outros horizontes. Passei para astronomia e biologia, entre outros. Mas ainda há muito mais para se conhecer e aprender, e assim poder ter sustentação para minha argumentação.”
Para manter seu ponto de vista, Carlos escolheu quatro pilares para a tarefa: história, cultura, ficção (no caso, ficção científica) e o imaginário. “O que eu fiz foi pegar a ufologia e colocá-la no conceito em que surgiu”, destaca. “Ela ganhou força a partir da segunda metade do século XX, quando surgiu o nome ufologia. Mas, na verdade, ela veio na esteira de outras situações que surgiram simultaneamente – que é onde entra a história, com a Segunda Guerra, e o impacto que ela teve nas pessoas. Na parte cultural temos a chegada da contracultura, mais ou menos no mesmo período, e também a cultura new age, com sociedades alternativas. A ufologia pegou carona nesse momento, com essa forma de pensar mais mística, esotérica, e esse impulso continua até hoje. As pessoas têm a necessidade de crer em alguma coisa, e o disco voador seria uma dessas ‘muletas’.”
Ainda de acordo com o autor, há muito mais semelhanças que diferenças entre os ufólogos de hoje e as antigas crenças divinas, que muitos apostam, hoje, que se tratavam de visitantes extraterrenos. “Encontrei semelhanças sobre o mito, o fenômeno, em vários momentos, com diferença apenas na linguagem. Essa ideia do mito sempre esteve presente no imaginário. As sociedades precisavam acreditar em algo, fosse disco voador, oráculo, tarô, astrologia, fantasmas, reencarnação. Coisas que eu chamo de ‘muletas metafísicas’.”
NAUS DA ILUSÃO – UMA ANÁLISE INTERDISCIPLINAR SOBRE A CRENÇA EM ‘DISCOS VOADORES’
Lançamento nesta sexta-feira, às 20h
Museu do Crédito Real
(Avenida Getúlio Vargas 455 – 3º andar)