A educação inclusiva e a surdez


Por Tribuna

15/01/2017 às 07h00

Gabriel Pigozzo Tanus Cherp Martins e Ana Paula Xavier

Professores

É notório que, nos últimos anos, o processo de inclusão escolar trouxe significativos avanços para crianças e jovens com deficiência nas escolas comuns. É fato também que a formação, a capacitação e a qualificação dos profissionais que atuam na rede pública de ensino (especifico tal rede por experiência), com foco na inclusão, são muito boas. Cursos são ofertados em praticamente todas as redes de ensino do país. Os programas do Governo, de formação continuada, fazem parte da preocupação dos nossos gestores para com as crianças “da inclusão”.

A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (Brasil, 2008) define que seu público-alvo são os alunos com deficiência, Transtornos Globais do Desenvolvimento e Altas Habilidades e Superdotação. Dentre essas estão as crianças surdas, que, para nossa legislação, são consideradas pessoas com deficiência, mas a única diferença existente entre uma criança ouvinte e uma surda é a língua. A criança surda utiliza a Língua Brasileira de Sinais (Libras) para participar e interagir no mundo, e a criança ouvinte, a língua portuguesa.

No contexto escolar, estamos falando de línguas diferentes, culturas diferentes, identidades diferentes e aprendizagens diferentes. Mas o que mais chama a atenção é o não respeito à língua e as especificidades visuais de aprendizagem que essas crianças (surdas) possuem. Nossas escolas pensam toda a sua estrutura (currículo, metodologia, práticas, seleção de docentes, planejamento, avaliação, etc.) numa perspectiva ouvinte, ou seja, tudo é pensado e executado como se todos os alunos da escola fossem falantes de uma só língua. E isso se perpetua por inúmeras escolas de nosso país.

Quando pensamos em educação de surdos, pensamos numa educação cuja língua de instrução seja a Libras, com salas de surdos ou escolas de surdos, com professores bilíngues e todas as outras características que permeiam essa educação. Mas estas crianças estão fragmentadas nos espaços escolares. Estão isoladas, longe de seus pares linguísticos. Estão invisíveis, não são percebidas pelos processos escolares. Uma questão: essa educação ou ensino (conceitos diferentes) bilíngue é considerado, para muitos, como um retrocesso, como um retorno às práticas e perspectiva integracionista, como uma educação especial, indo contra as ideias pregadas pela inclusão, por uma escola para tod@s.

Mas que escola para tod@s é essa, sendo que uma parcela significativa não faz parte deste tod@s, uma vez que a sua língua é negada? Não faz parte deste tod@s, uma vez que a Lei Brasileira de Inclusão – LBI (Brasil, 2015) prevê escolas e salas bilíngues para surdos e esses sujeitos continuam desprestigiados? Acredito que, por trás de todos os conceitos que permeiam a educação inclusiva (igualdade, equidade, diferença, diversidade), há uma normalidade e uma normatização mascarada, referentes à educação de surdos.

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