Festival tem oficina de dança barroca
Terça-feira, 15h, 26 de julho de 2016. Curioso pensar que, dentro de uma sala, como se estivessem em outros tempos, 30 alunos ensaiavam os primeiros passos de dança barroca. Era o segundo dia do curso, comandado pelo músico e dançarino Osny Fonseca no Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga. O número de inscritos para esta oficina, neste ano, só foi superado pelo da Música de Câmera (130), onde, obrigatoriamente, estão todos os alunos do festival, segundo a assessoria de imprensa da Universidade Federal de Juiz de Fora. Eram homens e mulheres de várias idades. Estudantes de diversas áreas, a maioria da música, alguns da dança. Muitos, ainda travando os primeiros contatos com os movimentos. O resultado do trabalho desenvolvido ao longo de toda a semana será apresentado neste domingo, das 9h ao meio-dia, e a partir das 14h, no Instituto de Artes e Design, na UFJF, com entrada gratuita.
“Essa dança está muito ligada à cultura de corte do antigo regime absolutista europeu dos séculos XVII e XVIII, em que boa parte da música que se tocava, a chamada música barroca, também se inseria nesse ambiente. Músicos e nobres, sejam na Alemanha, na França, em Portugal e mesmo no Brasil, praticavam-na. Era um protocolo da vida da época. Na corte francesa, em Versalles, havia bailes diários”, explica o professor Osny Fonseca, um dos poucos nomes no Brasil que se dedicam a manter, vivo, o estilo. “No nosso país, não há formação de público. Isso está sendo construído nos últimos cinco anos comigo e mais alguns pesquisadores. Estamos tentando formar plateias e arrebanhar bailarinos. Conseguimos, de certa forma, inserir pequenos números em concertos de música barroca e, aos poucos, ir provocando a curiosidade das pessoas”, conta o professor.
Enquanto a cena, por aqui, ainda está sendo construída, do outro lado do globo, o cenário é bem distinto. “Lá, há grupos especializados que montam, anualmente, espetáculos só com dança barroca. Também há propostas de coreógrafos que a misturam com outra linguagem, como a contemporânea. São propostas mais ricas e variadas”, diz o professor. Praticada, principalmente, por casais, a dança barroca era usada como uma forma de se apresentar para o rei e expor as qualidades de nobre. “Porque dançar era uma qualidade necessária para ser um bom cortesão” conta. Se, por um lado, era uma prática social diária, por outro, também era inserida em grandes espetáculos. “Eram os chamados balés de corte que incluíam o canto, a dança, a declamação, com montagens de cenários, adereços e figurinos. Como uma ópera. Podiam ter solos mais virtuosísticos, com bailarinos profissionais, podiam ter conjuntos com 10, 12 pessoas dançando. O balé clássico que conhecemos hoje começou a ser germinado ali.”
Mais uma possibilidade de espetáculo
Muitos casais presentes na oficina demonstravam pouca intimidade com a dança. E não é para menos. Segundo Osny, em solo brasileiro, não há curso regular nessa área. Ele mesmo buscou formação em cursos esporádicos, inclusive, no Festival de Música Antiga de Juiz de Fora. “O primeiro eu fiz com a Christine Bayle, uma francesa que esteve aqui no evento, em 1996. Vim para cá, como aluno, durante nove anos seguidos. Depois disso, fui procurar formação com outros profissionais brasileiros e até mesmo de fora”, diz ele, regente e cravista pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e bailarino de dança barroca.
“Em uma oficina com cinco dias e duas horas de duração, com carga horária semanal de dez horas, ainda mais para quem não tem preparo físico, não dá para avançar muito. A gente oferece um primeiro contato com alguns dos gestos da dança. Vamos passando informações que podem ser usadas pelos intérpretes para eles poderem executar a música corretamente. Lógico que, no meio dessa turma, tem bailarinos. Como eles têm uma percepção do corpo, conseguem entender um pouco mais quais são as propostas de movimento, conseguem executar até com uma excelência maior do que os músicos.”
Osny almeja um futuro glorioso para a arte em que atua. Os motivos são claros. “Vejo essa recuperação como uma forma de entender um pouco a nossa história, porque nós tivemos uma corte europeia no Brasil. A dança e a música eram intimamente ligadas. Coreógrafos eram exímios instrumentistas e compositores, e vice-versa. Não tinha uma separação como temos hoje. Para os músicos que praticam a música barroca historicamente informada, é importante ter o contato com a dança para melhorar a sua formação. O meio artístico é plural, por isso, para o bailarino, é mais uma possibilidade de se expressar. É mais uma oportunidade de espetáculo.”
AUDIÇÕES DAS OFICINAS
Neste domingo, das 9h ao meio-dia e a partir das 14h
Instituto de Artes e Design Campus da UFJF