Outros tempos
Há pouco mais de 22 anos, assisti ao melhor duelo entre Brasil e Uruguai da minha vida. Era o ano de 1993, e valia vaga na Copa do Mundo do ano seguinte. Moleque de 14 anos, vivia o auge da minha paixão pelo futebol. Jogava pelada todos os dias. O dia inteiro. Só parava para ir à aula e para ver qualquer partida televisionada pela TV aberta em uma época que “pay per view” era algo ininteligível.
A Seleção Brasileira vinha desacreditada de uma campanha claudicante. Mesmo assim, o Maracanã – que já havia sido castigado por Uruguaios em 1950 – estava lotado. Abarrotado de presentes e de um país inteiro que acompanhava tudo pela telinha. Naquele derradeiro confronto, o então renegado Romário foi acionado como “salvador da pátria”. O Baixinho não fugiu à luta. Do alto de seus 1,87 m, subiu cabeceou sozinho para abrir o placar para os brasileiros, aos 27 minutos do segundo tempo.
Dez minutos depois, o camisa 11 voltou a brilhar, entortou o goleiro Siboldi com um drible da vaca invertido e carimbou o passaporte do Brasil para os Estados Unidos, embalado por gritos de um Galvão Bueno ensandecido: “Romário! Romário! Romário!”. O resto da história todo mundo sabe. Capitaneados pelo talento do Baixinho, o Brasil se sagrou campeão com um futebol de resultado e mais gritos transtornados de um certo narrador: “É tetra! É tetra!”. Era o auge de minha paixão pela Seleção.
Pouco mais de duas décadas depois, o Brasil volta a enfrentar o Uruguai hoje. A minha paixão pela equipe canarinho, entretanto, virou desinteresse. Cartolagem corrupta, jogadores com pouca identificação com a torcida, técnico inexperiente. Há poucas razões que me motivem assistir ao clássico de hoje. A principal delas, certamente, não veste a desvirtuada camisa “verde-amarela”. Quero mesmo é ver com que fome o mordedor Suárez voltará a vestir o uniforme uruguaio.