É preciso amar o Yo La Tengo

Por Júlio Black

Oi, gente.

Para quem é apaixonado por música e manja do mundinho alternativo, o Yo La Tengo é daquelas bandas que gostamos sem fazer muita força, capaz de produzir coisas tão sublimes quanto o último álbum de inéditas, “Fade”, lançado em 2013. Imagine, então, a alegria de zapear a TV durante a madrugada e deparar-se com uma até então desconhecida versão de “Friday I’m in love”, do The Cure, gravada pelo quarteto de Hoboken, New Jersey, com direito a videoclipe cheio de corações caindo do céu e um mundo vivendo o Apocalipse. So cute, claro. E foi a deixa para descobrir que o grupo havia lançado em agosto “Stuff like that there”, trabalho que reúne versões de músicas de outros artistas, “covers” do próprio Yo La Tengo e mais duas inéditas, marcando ainda o retorno ao grupo de um de seus integrantes originais, o guitarrista Dave Schramm.

Ah, miguxos e miguxas, e que coisa mais linda de ouvir! O Yo La Tengo é conhecido por fazer covers inusitadas dos artistas mais variados, e “Stuff like that there” reúne rock, pop, country e indie rock em 14 músicas que passeiam da década de 40 até os anos 90. A sonoridade do álbum tem ainda a mesma delicadeza e apelo pop que fazem de “Fade” um dos melhores discos do grupo surgido no distante 1984.

Há espaço para a melancolia (“I’m so lonesome I could cry”, de Hank Williams), a pegada country de “Butchie’s tune”, do grupo de folk rock The Lovin’ Spoonful e o clima pop sessentista em “Automatic doom” (Special Pillow) e “I can feel the ice melting” (The Parliaments). A regravação do própio repertório tem momentos belíssimos, como “All your secrets” (de “Popular songs”), que parece ter saído de um álbum do Belle and Sebastian. E, claro, há “Friday I’m in love”, versão delicada e fofinha de uma das canções mais solares do The Cure e que deveria ser obrigatória na programação de todas as rádios do universo. E as duas músicas inéditas, “Rickety” e “Awhileaway”, ajudam a manter o nível lá em cima.

“Stuff like that there” não é revolucionário, não vai tocar em rádio e não vai vender muito, coisa que (injustamente) nunca aconteceu com nenhum trabalho do Yo La Tengo – provavelmente nem será lançado no Brasil, pelo menos o streaming está aí para salvar nossas vidas. Mas é um álbum bom demais de se ouvir, meus amigos, daqueles que dá vontade de ficar na varanda com a Leitora Mais Crítica da Coluna curtindo o momento, vendo o Imperador Django se divertir com seu amigo Coiote e o sol partindo para iluminar outras quebradas por aí.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

Júlio Black

Júlio Black

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