O desafio do lixo


Por GERSON ROMERO DE O. FILHO Geógrafo e professor

29/01/2014 às 07h00

Um dos problemas ambientais mais desafiadores é o lixo. Podemos entendê-lo como subproduto do metabolismo das cidades, ou seja, a sociedade descarta rejeitos e objetos que não funcionam ou cuja vida útil foi encurtada pela obsolescência planejada. A geração de lixo é inevitável, uma vez que precisamos consumir. O problema é que, além de uma necessidade natural de consumo, existem também as atitudes consumistas impulsionadas pelas estratégias de mercado através de publicidade e propaganda. Essas criam verdadeiras armadilhas que nos induzem ao consumo insustentável, ou seja, consumimos mesmo quando não precisamos.

O resultado é o desperdício e a produção de mais lixo. Essa cultura do descartável esgota os recursos naturais e reduz a vida útil dos aterros sanitários. A Lei 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, fixou princípios, objetivos e instrumentos importantes para solução ou mitigação desse problema. Podemos destacar quatro pontos importantes nesta política. Primeiro, a ênfase na pedagogia dos 3Rs (reduzir, reutilizar e reciclar). Em segundo, a proibição dos lixões, que deverão ser substituídos pelos aterros sanitários. Em terceiro, oficializa-se a obrigatoriedade da implantação da logística reversa para produtos como pilhas, baterias, pneus, óleos lubrificantes, lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio, produtos eletroeletrônicos e embalagens de agrotóxicos.

As empresas terão que se preocupar com o pós-consumo e criar estratégias para viabilizar a coleta e o retorno dos resíduos sólidos que possam ser reaproveitados em seus ciclos produtivos. Por último, a referida lei também determina que os municípios elaborem seus planos de gestão integrada de resíduos sólidos. São medidas importantes que devem vigorar a partir de agosto de 2014, mas será que estamos preparados para implementá-las? Os municípios brasileiros contam com recursos financeiros e quadros técnicos suficientes? Apesar dos questionamentos, acreditamos que este seja o caminho mais adequado no momento. No entanto, só as medidas legais e técnicas não serão suficientes, pois estamos diante de um problema de natureza complexa. É necessário, sobretudo, implementar uma educação ambiental crítica e transformadora capaz de produzir efeitos duradouros e eficazes junto à sociedade.

Não podemos cair na tentação de nos apoiar somente em medidas politiqueiras e simplificadoras que criam leis para vigiar e punir cidadãos com multas, instituindo a pedagogia do medo. A multa seria o último recurso. Precisamos repensar e mudar os valores culturais que sustentam o consumismo. O lixo representa apenas um aspecto da crise ambiental que atinge o planeta, uma crise profunda que vem questionar a nossa relação com a natureza e, sobretudo, o sentido de nossa existência.

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