Precisamos falar sobre a Doença de Alzheimer

Neurologista e presidente da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz) trata do tema no artigo deste domingo


Por Rodrigo Rizek Schultz, Neurologista e presidente da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz)

25/08/2019 às 07h00

Começa mais ou menos assim: a mesma pergunta é feita várias vezes; há também uma dificuldade em acompanhar conversas e articular; sair de carro se transforma em pesadelo, porque achar o caminho não é natural. Esses sinais evidenciam o primeiro e mais característico sintoma da Doença de Alzheimer: a perda de memória recente. O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa que provoca a diminuição das funções cognitivas. Em poucas palavras, as células cerebrais morrem, prejudicando a função mental. A progressão da doença acarreta problemas mais graves, como o esquecimento de fatos mais antigos, a desorientação no espaço e a irritabilidade.

Falar sobre a Doença de Alzheimer (DA) é uma questão de saúde pública. No mundo, estima-se que 50 milhões de pessoas sofram de demência – grupo de distúrbios cerebrais que causam a perda de habilidades intelectuais e sociais. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a DA é responsável por até 70% dos casos de demência. Aqui no Brasil, o cenário é particularmente desafiador. O número de indivíduos vivendo com demência deve triplicar até 2050, segundo relatório da Organização Mundial da Saúde. E o número de pacientes diagnosticados com Alzheimer deve crescer em proporção semelhante.

Ainda não há cura para a Doença de Alzheimer, o objetivo do tratamento se limita a frear os sintomas. E, com a iminência do cenário descrito anteriormente, autoridades de saúde se veem diante de uma empreitada. Trata-se de uma enfermidade de evolução progressiva e inexorável. Viabilizar soluções que melhorem a qualidade de vida de pacientes e cuidadores é essencial.
Nesse sentido, alguns passos já foram dados. Por exemplo, a ampliação do acesso aos tratamentos via Sistema Público de Saúde, contribuindo para minimizar a progressão da doença e melhorando a qualidade de vida dos pacientes. Há um ano, o Ministério da Saúde disponibilizou o medicamento Rivastigmina adesivo transdérmico para tratamento da Doença de Alzheimer, previsto no Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT). O medicamento age inibindo uma enzima responsável por degradar a acetilcolina, um neurotransmissor essencial nos processos cognitivos, principalmente a memória.

Ao administrá-lo, temos uma oferta maior de acetilcolina no organismo. A versão oral da Rivastigmina já era oferecida no SUS, mas sua ingestão pode causar alguns desconfortos gastrointestinais, como náusea, vômito e diarreia. A vantagem do adesivo é que a medicação é liberada gradualmente através da pele, reduzindo a possibilidade de efeitos colaterais por não passar diretamente pelo trato digestivo.

Existem outras frentes que ainda precisam ser trabalhadas em termos de políticas públicas. A complexidade da Doença de Alzheimer demanda a atuação de equipes de diversas áreas e uma abordagem integral que facilite a interação médico-cuidador-paciente. O médico atuando sozinho, aliás, é incapaz de resolver muitas das questões relacionadas à enfermidade. As ações multidisciplinares podem interferir positivamente no tratamento, com melhoras significativas de problemas comuns, como a depressão.

A Doença de Alzheimer pode não ter cura, mas, se diagnosticada no início, o tratamento adequado ajuda a impedir a progressão e amenizar os sintomas, proporcionando melhor qualidade de vida ao paciente e reduzindo o sofrimento dos cuidadores e da família. O avanço da ciência abre um caminho promissor e traz esperança para toda a sociedade.

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.