Fé e Política


Por Igreja em Marcha, equipe de leigos católicos

21/09/2019 às 06h56

“A política não é a mera arte de administrar o poder, os recursos ou as crises. A política é uma vocação de serviço”, disse recentemente o Papa Francisco, quando recebeu os estudantes de Doutrina Social da Igreja e compromisso político na América Latina. “Fazer política inspirada no Evangelho, a partir do povo em movimento, pode se tornar uma maneira poderosa de sanar nossas frágeis democracias e de abrir o espaço para reinventar novas instâncias representativas de origem popular”, acrescentou, citando São Óscar Romero como um santo guiado pela Doutrina Social da Igreja e com a mente e o coração depositados em Jesus.

Entretanto, como nos lembra o dominicano frei Betto, fé e política “têm, em última instância, o mesmo objetivo de criar uma sociedade na qual todos vivam com iguais direitos e oportunidades (…), as duas visam a aprimorar a nossa convivência social, mas também podem servir para dominar, como a fé dos fariseus ou a política dos opressores”. E assinala que “Jesus, em razão da sua fé, morreu assassinado como prisioneiro político. Como Jesus, o cristão deve viver sua fé no compromisso libertador com os mais pobres. Seja qual for o modo de o cristão viver seu compromisso evangélico, ele sempre terá consequências políticas. Pode sacralizar a desigualdade social ou favorecer a sua erradicação”.

De fato, o próprio Jesus testemunhou que era preciso lutar pelas questões sociais! Amor ao próximo, caridade, justiça, solidariedade, vida em comunidade, partilha, respeito e misericórdia estão no cerne de seus ensinamentos. Jesus combateu as injustiças, defendeu os mais pobres, chicoteou os corruptos e mercadores da fé, perdoou os pecadores e elevou os humildes, também subverteu os valores vigentes, ao afirmar que “maior é aquele que serve”. Foi ele que organizou o primeiro grupo de fé e política para guiar o povo para a libertação!

Atentos a esse segmento de Cristo, há 30 anos, durante um encontro de cristãos engajados nas lutas populares, surgiu o Movimento Nacional Fé e Política (MF&P), com o objetivo de alimentar a dimensão ética e espiritual que deve animar a atividade política. Desde então, vem promovendo encontros de estudos, dias de espiritualidade e publicando diversos cadernos e análises de conjuntura. “Deixar-se animar pelo Espírito de vida é a essência do MF&P, que não propõe diretrizes para ação política dos cristãos, nem se comporta como se fosse uma tendência político-partidária, mas que luta pela superação do capitalismo por meio da construção de um sistema socioeconômico solidário e respeitoso da vida do Planeta”, diz Pedro A. Ribeiro de Oliveira, membro da coordenação nacional.

Assim, em parceria com outros movimentos, MF&P JF convida para o encontro Amazônia: culturas e ecologia! Além de documentários, seguidos de debates, haverá apresentações artísticas e um lanche compartilhado. O objetivo é aprofundar o tema que se debate no mundo todo e será objeto de um Sínodo especial convocado pelo Papa Francisco. O encontro será realizado no dia 28 de setembro, às 14h, no Sindicato dos Bancários, de forma gratuita e aberta a todos!

Em nota, publicada na última quinta (19), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil se diz apreensiva com a postura do Governo federal com relação aos Conselhos Paritários, que afasta a sociedade civil de sua participação popular na gestão da sociedade brasileira. “A cidadania e a democracia participativa contribuem para a construção de uma nação mais justa, fraterna, solidária e democrática”, afirma.
Não combina um cristão que lava suas mãos… Fé e política são instâncias diferentes, mas que se complementam e exigem sua participação e seu engajamento!

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