A Heitor Lobo de Mendonça
“Aprendi com ele sobre uma psicanálise radical, ética, responsável, mas, igualmente, acolhedora.”
No último dia 28, faleceu Heitor Lobo de Mendonça, psicanalista, psicólogo e, sem dúvidas, uma figura muito importante no campo dos estudos da psicanálise na cidade.
Além de ter sido professor em diversas faculdades de psicologia, Heitor era presidente do Espaço Brasileiro de Estudos Psicanalíticos de Juiz de Fora (Ebep-JF), instituição da qual sou membro e, em certa medida, um dos lugares a partir do qual eu me valho para escrever este texto.
Fazendo parte da velha guarda entre os psicanalistas, Heitor esteve sempre incrivelmente aberto ao debate e à troca de saberes em uma leitura radical do que podemos chamar de psicanálise em extensão, além dos campos da medicina ou da psicologia, e em constante diálogo com diversas áreas do conhecimento.
É difícil sintetizar o quanto ele influenciou mais de uma geração de psicanalistas com seu modo seguro de manejar os conhecimentos da área, sua experiência clínica e sua generosidade.
Para mim e para muitas e muitos outros, acredito que este momento seja o da despedida de uma espécie de “pai epistemológico e afetivo”, como me disse um paciente. Mas sua partida tão abrupta e tão absurda serve também para resgatar a responsabilidade simbólica da herança que fica.
Aprendi com ele sobre uma psicanálise radical, ética, responsável, mas, igualmente, acolhedora. A olhar para o discurso da teoria e enxergar que ela é indissociável do social. E essas constatações impõem também suas derivações a respeito de como pensar o percurso de autorização de psicanalistas, suas relações com a política, a democracia e as dinâmicas de uma clínica não só no social, mas do social.
A psicanálise, como método de investigação que busca evidenciar as relações do sujeito com o inconsciente, constitui também uma arena de debate a respeito não de um ideal técnico, filosófico ou moral dos seres humanos e de seus desejos, mas daquilo que se coloca de forma crua, deixa às claras as contradições da vida comum, mas principalmente, o que se pode fazer a partir daí.
Juiz de Fora se despede de um excelente psicanalista e professor, e alguns se despedem de um grande amigo. Vamos sentir saudades, Heitor.