Igreja em caminhada
“(…) colocar-se “em caminhada” significa, para as CEBs e Pastorais Sociais, assumir o desafio de transformar a nossa sociedade libertando os empobrecidos das opressões de que são vítimas.”
Nossa equipe intitula-se “Igreja em Marcha”, e esse nome indica o desejo de sermos uma Igreja viva, dinamizada pelo espírito renovador do Concílio Vaticano II. Na época de sua criação, há mais de 50 anos, foi usada a palavra “marcha”, que hoje poderia ser substituída por “caminhada”, nome mais adequado ao espírito do grupo e à conjuntura da Igreja Católica, hoje em tempo de sinodalidade, que significa “caminhar juntos”.
O termo “caminhada” difundiu-se no ambiente católico dos anos 1970, como forma de identificar quem se alinhava ao projeto de transformação da sociedade a partir da opção preferencial pelos pobres. Esse projeto é fruto da II Assembleia Geral do Episcopado da América Latina e Caribe, realizada em Medellín, em 1968, e foi logo assumido pelas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e as Pastorais Sociais – da Terra, Operária, Indigenista, da Juventude, da Negritude e outras. Desde então, colocar-se “em caminhada” significa, para as CEBs e Pastorais Sociais, assumir o desafio de transformar a nossa sociedade libertando os empobrecidos das opressões de que são vítimas.
“Caminho” foi a palavra utilizada pelo Ato dos Apóstolos, do Novo Testamento, para designar a Igreja primitiva (At 9,2). Sendo a Bíblia o farol que ilumina sua ação na sociedade e na Igreja, não é por coincidência que essa palavra – tão rica de significado – tenha sido adotada pelas CEBs e Pastorais Sociais de todo o nosso Brasil e logo se espalhado pelo resto do continente. Elas se reconhecem como seguidoras das mesmas comunidades que, nos tempos apostólicos, levaram a boa notícia da ressurreição de Jesus de Nazaré a todos os povos, anunciando assim a antecipação do Reino de Deus na história humana.
Essa experiência pastoral latino-americana e caribenha ganha importância porque está sendo preparada a 2ª sessão do Sínodo dos Bispos sobre a sinodalidade, que terá lugar em Roma, no mês de outubro. Tudo indica que a sinodalidade e a inclusão dos Direitos da Terra no Ensino Social da Igreja serão dois dos maiores legados do pontificado de Francisco. É bem provável que estes sejam frutos tardios da V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe, em Aparecida, em maio de 2007, que teve como um de seus presidentes o então cardeal Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires. Foi nessa época que ele conheceu de perto os desafios pastorais de outros países do continente – especialmente a realidade da Amazônia e os indicadores de fome e miséria que ele não via em sua Argentina. Ao assumir o ministério de Bispo de Roma, ecoou nele aquela experiência de contato direto com irmãos bispos que traziam no coração as dores da nossa América. E tudo indica que ele fará da sinodalidade – a Igreja em caminhada – a marca da Igreja universal neste III milênio.
Nesse contexto de fortalecimento da sinodalidade, a equipe de “Igreja em Marcha” só pode dar graças ao Espírito divino que a mantém fiel a essa caminhada de mais de meio século.
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