REFLEXOS DA ESCRAVIDÃO


Por Tribuna

20/11/2015 às 07h00- Atualizada 20/11/2015 às 08h40

Num país de maioria negra – 51% da população do país e 54% da população de Minas Gerais -, ainda é preciso jogar holofotes sobre as questões que envolvem esta população, que acaba sendo vista como uma minoria diante de tantos séculos de opressão e subserviência. Dar voz aos negros, que quase nunca a têm, e mostrar o racismo institucionalizado, exposto ou velado enfrentado no dia a dia foi um dos objetivos da série da Tribuna “Ser negro em Juiz de Fora”, realizada nesta Semana da Consciência Negra.

A série trouxe histórias como a do pedagogo Fernando Custódio Valério, negro e morador da Vila Olavo Costa, que precisa mostrar o anel de formatura em blitz policial para explicar que não é bandido. Entre as histórias relatadas pelos repórteres envolvidos, a triste constatação de que um pai negro fala para o seu filho antes de ele sair de casa: “Não corra na rua. Nunca corra, mesmo se estiver com pressa”, escondendo que, na verdade, ele não quer que ele seja confundido com um marginal.

Histórias como estas, por muitos anos não contadas, mas apenas guardadas, reforçam que o racismo está presente no nosso dia a dia. Mulheres e homens, de todos os setores, foram ouvidos nos últimos dias pela Tribuna. Pessoas que constatam que os negros, apesar de ser a maioria no país, ainda ocupam cargos da base da pirâmide e quase nunca os de liderança e poder nos setores público e privado. Não é coincidência que, dos cerca de dois mil professores da UFJF, apenas cerca de 20 sejam negros. Isso é o que diz campanha realizada pela própria instituição de ensino.

É necessário levar a discussão para os bancos escolares, a fim de lembrar que os episódios de racismo em nosso país são frequentes e foram muito marcantes em anos não tão distantes assim da história. Com as redes sociais, situações de racismo vividas por personalidades negras vêm à tona de forma constante, como as enfrentadas pela jornalista Maria Júlia Coutinho, a Maju, ou a atriz Taís Araújo. Estes casos confirmam a existência do racismo, mas precisam ser combatidos insistentemente em um país que se diz fruto da miscigenação, mas que tem uma dívida colossal com os afrodescendentes, ainda hoje estigmatizados.

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