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Os desaparecidos

editorial
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Na edição dessa quinta-feira, resultado de trabalho da repórter Nayara Zanetti, a Tribuna revelou que entre janeiro de 2020 e novembro de 2023, Juiz de Fora registrou 1.015 pessoas desaparecidas. Desse total, 18% tinham menos de 18 anos. No mesmo período, 27.018 pessoas desapareceram em Minas Gerais. Os dados do Observatório de Segurança Pública são preocupantes, sobretudo se se acrescentar o cenário nacional. De 2019 a 2021, isto é, em apenas dois anos, mais de 200 mil pessoas desapareceram no Brasil, o que dá uma média de 183 desaparecimentos por dia.

De acordo com o Observatório, 27% dos desaparecidos no estado são adolescentes e crianças. E mais, quando se faz uma estratificação nacional constata-se que a maioria dos desaparecidos são do sexo masculino (62,8% dos casos) e negros (54,3% do total). Quase 30% foram crianças e adolescentes, entre 12 e 17 anos, que podem ser vítimas de crimes ou de fuga de casa por conflitos familiares.

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Especialmente nas grandes cidades, os segmentos mais carentes habitam regiões com infraestrutura precária ou habitam cidades-dormitório, fatores que podem aumentar a vulnerabilidade e a invisibilidade dos desaparecidos de baixa renda.

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O projeto Alerta Amber, destacado na matéria, que utiliza tecnologias das plataformas digitais para atuar nas buscas é um avanço e deve ser ampliado. No entanto, há outros movimentos que devem ser incrementados, como um Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas, que permita o cruzamento de dados genéticos entre pessoas sem identificação e familiares de desaparecidos.

A promoção de campanhas de conscientização e de cooperação ante o desaparecimento especialmente de crianças e adolescentes é uma premissa básica para reduzir os números, sobretudo por conta da motivação que pode se apresentar sob diversas formas. Para um país de dimensões continentais como o Brasil, a integração de dados e cooperação entre os órgãos de segurança é uma ferramenta estratégica. Os órgãos de saúde e de direitos humanos também devem ter uma interlocução mais intensa em todas as instâncias, por reforçar a rede de informação.

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Quando mais de 200 mil pessoas simplesmente saem de cena em menos de dois anos constata-se que não são dados irrelevantes. Num país com cerca de 210 milhões de habitantes, o desaparecimento de 183 pessoas todos os dias, mesmo diante da proporcionalidade, deve ser pauta das instâncias de poder – especialmente os legislativos – porque não há margem para a omissão. O problema é grave e identificar as causas e implementar os muitos processos já discutidos são questões vitais para mudar essa realidade.

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